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Terça-feira, 07 de maio de 2024

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Resgate cultural

Histórica irmandade religiosa é reativada por famílias tradicionais cuiabanas

Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto

Histórica irmandade religiosa é reativada por famílias tradicionais cuiabanas
O auditório do escritório do advogado e imortal da Academia Mato-grossense de Letras, Eduardo Mahon, foi totalmente preenchido por representantes das tradicionais famílias cuiabanas, na última quinta-feira (14), durante cerimônia de reativação da Irmandade do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. A proposta de Mahon, que este ano será o Rei da festa do santo, é o resgate cultural e histórico dos tempos em que a Irmandade era a protetora da matriz que foi demolida. Além disso, um inventário sobre a história das famílias tradicionais da capital também faria parte deste resgate da cuiabania, que hoje, tem seu registro apenas em memória.

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Datada do século 19, a Irmandade foi criada em um tempo onde brancos e negros viviam uma separação social, que se estendia as atividades religiosas. Segundo a professora e pesquisadora Elizabeth Madureira Siqueira, essas instituições chamadas ‘Irmandades’ representavam segmentos da sociedade e mantinham a separação entre negros e brancos.



"Naquela época [1821] cerca de 12% da população cuiabana era branca e 88% negra. Não havia congregação entre eles, era proibida a entrada de brancos nas Igrejas freqüentadas por negros e vice versa”, explicou a professora. Cada Irmandade era responsável pela sua própria igreja, sua conservação, manutenção e preservação de valores, desde a higienização até as tarefas financeiras, por exemplo.

Com reuniões a cada dois ou três meses, as Irmandades acabaram se tornando embriões de partidos políticos, tamanho o seu envolvimento nas questões que envolviam o município, naquele tempo.

A proposta de reunir representante das tradicionais famílias cuiabanas é que ao reativar a Irmandade do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, se resgate essa atitude de proposição de políticas públicas e engajamento nas questões do município, que dizem respeito a toda a sociedade.

Outro objetivo futuro da Irmandade é o resgate histórico da chamada ‘cuiabania’, através do registro sentimental das famílias de Cuiabá. “Não é só pela festa, precisamos amarrar determinados nós que estão desatados há 50 anos. É preciso fazer um inventário das famílias, falta um registro sentimental, tirar esses registros de casa. Como se batizava em Cuiabá? Como se casava?”, disse Eduardo Mahon.


Ao centro, a senhora Zildenete Coutinho Barbosa, representando as famílias Infantino e Coutinho, mãe do jornalista e fundador do Portal Olhar Direto, Marcos Coutinho, ladeada pelo Rei da festa do Senhor Bom Jesus de Cuiabá 2016, Eduardo Mahon e pela nora, Izabel Coutinho, diretora geral do Portal Olhar Direto.

Ao todo, cinco foram as propostas iniciais de Eduardo Mahon, para serem endossadas pela Irmandade: identificação das ruas de Cuiabá, em parceria com o Instituto Histórico; glossário do linguajar cuiabano; inventário fotográfico das famílias; mini documentários das famílias; registros de cartas e discursos da época.

A rainha da festa do Senhor Bom Jesus de Cuiabá deste ano (2016), Iracilda Botelho, falou da felicidade em ver o auditório lotado. “Sei que é difícil conquistar a confiança do cuiabano, que sempre especula antes, por isso fico feliz em ver a sala lotada. A parceria entre mim e Mahon deu muito certo porque eu sou a festeira e ele o garimpeiro de histórias. A intenção não é tornar a festa um evento popular, com muita gente, mas que seja um momento de encontro entre amigos”, ressaltou Iracilda.



Dona Helena Muller é uma das que ficou feliz com a retomada da Irmandade. Com 90 anos, ela lembra quando participava das missas na catedral. “Era uma Cuiabá de 20 mil habitantes onde participávamos das festas, o momento de usar roupa nova, sapato novo. Era muito bom. Retomar a Irmandade é defender nossos valores, nossa história”, declarou.

Seu Vicente Herculano da Silva foi mais um a apoiar a iniciativa de Mahon. “Recebo a notícia com entusiasmo e alegria. É uma feliz iniciativa essa de reviver a nossa cultura”, comentou. “Tudo que é para renascer, recriar e retomar é importante”, finalizou a imortal da AML, Marília Beatriz.

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