Buda, Maomé, Krishna, Jesus Cristo. O que todos têm em comum? Eles são todos profetas reconhecidos pela Umbanda, religião de origem brasileira que tem como princípio de sua criação a síntese dos elementos de outras religiões. Mas o que Jesus como Cristo significa para os umbandistas? A redação do
Olhar Conceito conversou com Mestre Karaiman Cristian Siqueira, da Casa de Oração Caboclo Tupinambá, em Várzea Grande, para entender mais sobre os conceitos e dogmas da Umbanda como instituição cristã e como ela comemora o Natal.
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O Natal é uma celebração natural das religiões que tem por base de fé a personificação de Jesus Cristo, por isso é comemorado no dia de seu nascimento, 25 de dezembro. A data tem como símbolo atitudes de solidariedade, de união, de amor e comunhão. São muitas as instituições cristãs que comemoram a data, cada uma a sua forma, dentre elas está a Umbanda, uma religião tipicamente brasileira.
“A Umbanda acredita que Jesus Cristo é o Cristo cósmico, é aquele que foi enviado do Reino Virginal, onde nenhuma matéria teve contato, para governar, coordenar e ajudar na evolução do planeta Terra. Embora a gente aceite Krishna, Buda, Maomé, todos os profetas e vivenciamos seus ensinamentos, nós acreditamos que Jesus se sobressai entre todos eles, porque ele é o Cristo do planeta Terra”, explica Cristian.
Cristian ainda aprofunda mais o assunto ao revelar o que o fato de Jesus ser o Cristo do planeta Terra significa para a Umbanda e demais religiões que creem nele como profeta guia de seus dogmas.
“Enquanto Cristo a gente tem que entender aquele que é senhor de algo, e existe em todas as religiões, o que muda é o ser que ocupa esse posto. Então Cristo não é próprio apenas do Cristianismo. O Cristianismo acredita que Jesus foi o Cristo e nós acreditamos que Jesus é o Cristo do planeta Terra e é por isso que celebramos o Natal, vivenciando os ensinamentos do Cristo do planeta Terra”, completa Cristian.
Sobre o Natal, o umbandista declara que a celebração da data é baseada em ações concretas de auxílio ao próximo e ressalta diferença entre a Umbanda e o Catolicismo, apesar da semelhança da crença em Jesus como Cristo.
“Nós não temos uma liturgia própria para o Natal, como a igreja católica tem o advento, celebramos com cultos realizados dentro dos templos em honra e adoração a Jesus, com caridade aqueles que necessitam. Então na Umbanda a celebração do Natal é mais ligada às ações de caridade do que na liturgia em si”, elucida o Mestre Karaiman.
A religião legitimamente brasileira
Nas palavras de Cristian, a Umbanda nasce da síntese das três principais raças que formam o Brasil: a raiz branca e amarela e nisso está o culto europeu e dos orientais; a raiz vermelha que é do índio e a raiz negra que é dos escravos. Por isso, a Umbanda não é um culto africano e sim um culto brasileiro.
“Se no budismo você estuda apenas o budismo, no catolicismo apenas o catolicismo, na umbanda é tudo, você vai estudar todas as crenças dessas três raças e fazer uma ponte entre elas. Nós acreditamos que todos os cultos do planeta saíram de um mesmo lugar. As religiões não podem brigar, porque são palavras diferentes da mesma verdade. É como se eu enxergasse um ponto e analisasse do meu ponto de vista, mas é a mesma verdade. E a prova inconteste disso é justamente o fato de que a Umbanda consegue fazer os vários cultos viverem dentro dela de forma harmoniosa”, exemplifica Cristian.
Sincretismo entre religiões
Esta convivência harmoniosa entre cultos dentro da Umbanda dá-se pelo sincretismo, que nada mais é do que a representação de um mesmo elemento em várias religiões, manifestados de forma diferente.
“Eu falo de Maria, existem divindades que correspondem a figura de Maria em todos os cultos da Terra. No Hinduísmo, por exemplo, a mãe de Krishna é a mesma coisa que a Maria é para o Cristianismo. Então eu posso misturar a figura da mãe de Kriishna com a figura de Maria, faço pontes entre figuras para colocá-las de forma igual, isso é o sincretismo. E com isso o astral consegue falar a mesma coisa em vários cultos”, explica Cristian.
Umbanda Esotérica
O Mestre Karaiman explica que dentre as vertentes da Umbanda, sua iniciação é na Umbanda Esotérica, que se propõe a estudar a essência de todos os ritos da religião e seus significados, daquele simples ato durante o culto até a origem da própria religião e seus princípios formadores. A Umbanda Esotérica é a vertente que se preocupa em explicar o significado de ritos que só são explicados, por exemplo, na Igreja Católica, a quem segue para o seminário.
“Não é nem um nem outro, é todos em perfeito equilíbrio”, explica Cristian ao afirmar que a Umbanda Esotérica estuda todas as vertentes, indígena, africana, oriental e europeia. "Esoterismo é aquilo que está oculto. Ecsoterismo que é a manifestação externa da fé, o culto. Esoterismo que são internas, ocultas sem que a pessoa perceba, todas as religiões têm os dois lados, aquilo que é aberto e aquilo que é fechado e a Umbanda não é diferente. Existe um culto umbandista que busca a essência de tudo, que é a Umbanda Esotérica”, finaliza o Mestre Karaiman.
