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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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O lirismo, a poesia e a religião marcaram a vida de Dom Aquino Correia cuja trajetória se inspirou nas palavras divinas

Foto: Reprodução

O lirismo, a poesia e a religião marcaram a vida de Dom Aquino Correia cuja trajetória se inspirou nas palavras divinas
Andava calmamente pela manhã, a observar as pequenas coisas, como quem descobre os segredos do mundo no desabrochar de uma flor, nos raios quentes que o Sol emana, na luz que se sobrepõe e forma cores no céu. Para ele, tudo havia um significado. “De véspera chovera, e, como sói acontecer nessas ocasiões, raivava então a mais linda manhã, risonha, fresca e luminosa. Os céus lavados esplendiam docemente como límpida opala. Do mato verde, ainda aberto em flor, exalava-se a fragrância matinal das resinas e néctares selvagens. Era uma onda de perfumes, um ar suavíssimo, em que trilava cristalinamente, os seus primeiros gorjeios e passarada bravia”. O dia era 4 de novembro de 1902, e tudo lhe sorria, pois caminhava em direção ao seu destino, com apenas 17 anos de idade, Francisco Aquino Correia calmamente seguia a trilha que o tornaria em Dom Aquino Correia (1885-1956), poeta, orador sacro, sacerdote, prelado e arcebispo de Cuiabá.

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O filho do casal Antônio Tomás de Aquino e Maria de Aleluia Guadie-Ley Correia, desde cedo revelou o amor aos estudos e vocação religiosa. Em 1902, aos 17 anos ingressou no Noviciado dos Padres Salesianos D. Bosco em Cuiabá, e ordenou-se sacerdote em 1903. No ano seguinte seguiu para Roma, aonde cursou a Universidade Gregoriana e na Academia São Tomás de Aquino, doutourou-se em Teologia em 1908. Em 1909, já havia recebido todas as Ordens Menores e Maiores e foi ordenado presbítero.

Paralelo ao caminho da religião, Dom Aquino Correia não desgarrou das letras, e usou a inspiração divina como gostava sempre de atribuir em seus textos, citando passagens bíblicas, enaltecendo o espírito santo, e com um forte lirismo combinado ao seu poder de transcrever os detalhes perpassou pela natureza, pelo homem e pela região com a poesia sempre presente em seus dias. Em 1921, fundou a Academia Mato-grossense de Letras, e antes disso, em 1919 o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso. As duas instituições culturais mais antigas do Estado. Pela fundação da Academia, se tornou Presidente de Honra.

Mas, seus feitos não param por aí, em 9 de dezembro de 1926, foi nomeado o quarto ocupante da Cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras, se tornando, o primeiro mato-grossense a adentrar a mais alta honraria da literatura no país e sucedeu Lauro Müller, sobre quem discorreu longamente em seu discurso de posse.

Em Cuiabá até 1914 ocupou o cargo de diretor do Liceu Salesiano, e então, em 1915 foi designado pelo Pio X, a titular o Bispado de Prusíade e Auxiliar do Arcebispo da Diocese de Cuiabá, e com isso, também se tornou o mais moço entre todos os bispos do mundo, com apenas 29 anos. Em 1921 com o falecimento do Arcebispo Dom Carlos Luís de Amour, foi elevado ao Arcebispado de Cuiabá.

E sua contribuição também não se restringiu apenas à cultura, literatura e a religião, pois Dom Aquino Correia assumiu a presidência do governo de Mato Grosso para o período de 1918-1922, com 32 anos, devido a uma intervenção federal, que o elencou como conciliador, para tentar contornar a crise entre situação e oposição, que muitas vezes utilizavam da força para valer seus desejos. Dom Aquino Correia veio para instaurar o equilíbrio.


Foto: Carol Holland/G1 Mato Grosso

Patriota, ressalta a pátria amada em diversos poemas e até hoje, continua a surpreender a população cuiabana que o guarda com carinho na memória e no coração. Pois que em fevereiro deste ano, descobriu-se que um dos sinos da Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá tinha inscrito um trecho do poema “Cidade Verde” do poeta. “Sob os flabelos reais de mil palmeiras/ Tão verdes, sombranceiras/ E lindas como alhures não as há/ Sobre alcatifas da mais verde relva/ Em meio a verde silva/ Eis a ‘cidade verde’: Cuiabá!”, em exaltação a sua terra adorada, que foi objeto de vários poemas. Um de seus poemas “Canção Mato-grossense” se tornou hino do Estado em 1983.

Entre suas obras publicou “Odes, poesia” (1917), “Terra natal, poesia” (1920), entre outros livros de poesia, além de muitos discursos como “Castro Alves e os moços” (1933), “O Padre Antônio Vieira”, e cartas pastorais, ensaios e conferências publicadas na imprensa do país e que não foram reunidas em livros, e também obras de geografia e história. Dom Aquino Correia não dominava apenas as letras, mas principalmente, o poder da oratória e era capaz de influir a admiração em todos os que se dispunham a escutar suas palavras poéticas. 

Ao adentrar o espaço da Academia Mato-grossense de Letras, o ar de seriedade se perde em meio ao retrato de Dom Aquino Correia, que fica atrás da mesa antiga. Do alto do seu retrato, Dom Aquino olha com seus olhos calmos, com seu semblante sereno, a abençoar as letras dos escritores da sua terra. E quando os imortais se reúnem e vez ou outra citam seus poemas, a Casa Barão de Melgaço se enche da sua emoção viva, da sua presença como uma aura que envolve a todos, e faz com que os sentimentos cheguem ao coração através de todos os poros e veias. Suas palavras ecoam pela Academia, pelos sentidos e se fazem eternas, com seu olhar esperançoso a banhar os rostos com sua poesia divina.
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