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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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Quando tudo é fome e saudade: furacão devasta Haiti e aumenta angústia dos que moram em Cuiabá

Foto: Logan Abassi / UN / MINUSTAH

Quando tudo é fome e saudade: furacão devasta Haiti e aumenta angústia dos que moram em Cuiabá
Oito mil e cinquenta e dois quilômetros. Dois subcontinentes. Dezessete dias. Dois anos. Quanto mede uma saudade? Quanto mede a preocupação com quem se deixa? Quanto custa? Quanto vale? Mais do que estradas e quilometragens, uma realidade social se interpõe entre o mesmo sangue. Vir para o Brasil não significa estar aqui. Uma parte sempre fica. Os haitianos vivem em Cuiabá cultivam suas angústias, que pareciam impossíveis de aumentar. Mas aumentaram na última semana, quando o furacão Matthew deixou um rastro de destruição por onde passou no país de origem.

Números não são capazes de medir sentimentos, apesar disso, podem potencializá-los. Como pensar em 2 mil haitianos em Cuiabá e não lembrar de seus familiares que ficaram? Como pensar em mil mortos por uma tragédia natural no Haiti e não lembrar dos que vieram? Números potencializam os sentimentos de Myslene Victor, haitiana crescida na Republica Dominicana, mãe de uma garotinha de 4 anos que está no Haiti, a oito mil e cinquenta e dois quilômetros de distância de Cuiabá. E por falar em números, os que ela recebe ao fim do mês não são suficientes nem para matar a fome da criança distante, quem dirá para trazê-la.

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“O que eu recebo é só para pagar as contas aqui, não dá para mandar para lá. Ela chora pra mim, minha mãe diz que é porque ela quer estar comigo e de fome. Eu tenho os documentos para trazer ela, mas não tenho o dinheiro. Ela é muito pequena para passar por isso”, desabafa Myslene. Morando na cidade de Acul-du-Nord, ao norte do país, a família da haitiana que vive em Cuiabá perdeu parte da pequena plantação de bananas que tinha após a passagem do furacão. A cidade não foi o epicentro do desastre natural, mas sofreu as conseqüências.

Dois idiomas. Em um português quase hispânico, a dificuldade de comunicação parece pequena diante do que conta ao Olhar Direto. “Haiti é um país que não tem serviço, ninguém ajuda. As pessoas perderam tudo, estão pedindo esmolas. Ligam para quem está no Brasil para pedir para mandar dinheiro, passam fome”, relata Myslene sobre a situação no país natal. Há dois anos no Brasil, ela logo se instalou em Cuiabá depois de uma viagem de 17 dias saindo do Haiti, passando pela Republica Dominicana, Panamá, Colômbia, Bolívia e finalmente chegando ao Brasil. O marido veio primeiro, agora a esperança é trazer a filha e a mãe.

A dura realidade do Haiti se agravou ainda mais quando o terremoto em 2010 destruiu o país e matou mais de 200 mil pessoas. Apesar de desta vez o furacão não ter atingido uma área de alta densidade populacional como o terremoto, a tragédia atual devastou cidades cujas construções eram frágeis. “Tem muitas pessoas que perderam tudo, casa, comida. Estão pedindo esmolas com filhos para sustentar”, conta Myslene, dando como exemplo o caso de uma amiga de um dos conterrâneos que esta aqui em Cuiabá, que segundo ele perdeu tudo que tinha e tem que pedir esmolas para sustentar os dois filhos, de 3 e 5 anos de idade.

Em Cuiabá, estima-se que a população haitiana seja de cerca de 2 mil pessoas, sendo que a maioria chegou na cidade no período da Copa do Mundo de Futebol em 2014. Bairros como Planalto, Jardim Eldorado, Carumbé, Bela, Vista, Pedregal e Sol Nascente são os que possuem maior número de moradores haitianos. Lá eles têm igrejas com missas direcionadas, lan house para facilitar a comunicação com familiares e o conhecido bar dos haitianos, o “Même Amour”.

Apesar do histórico de desemprego, violência e preconceito vivenciado pela comunidade haitiana em Cuiabá, com muitas dificuldades, uma nova vida vai sendo construída. “Aqui é melhor que lá, aqui eu consegui emprego, lá não se consegue nada”, avalia Myslene Victor. Números realmente não são capazes de medir sentimentos, mas podem potencializá-los, principalmente quando são aterradores como os do último furacão no Haiti. Estima-se que Matthew deixou mais de mil mortos e afetou mais de 1 milhão pessoas. Regiões mais afastadas seguem incomunicáveis, aproximadamente 300 escolas foram destruídas pela tempestade ou parcialmente arrasadas.
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