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Domingo, 28 de abril de 2024

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Raimundos toca em Cuiabá show que encerra etapa da banda antes do "fim da volta no quarteirão"

Foto: Olhar Conceito

Raimundos toca em Cuiabá show que encerra etapa da banda antes do
“Demos a volta no quarteirão”. Digão, vocalista da banda Raimundos, não esconde o sorriso ao repetir essa frase. Também pudera, são mais de 10 anos de trabalho para reerguer aquela que já foi a maior banda de rock do país, no início dos anos 2000. E a resposta para os que ainda duvidam do poder da formação atual estará ao vivo no palco da Musiva, na noite deste sábado (30), em Cuiabá. A banda tocará músicas de todas as etapas da carreira, em show comemorativo de 20 anos de estrada. Essa será uma das últimas apresentações desta turnê, que já dura dois anos. O próximo projeto é um DVD acústico, que será gravado ainda este ano e deverá reposicionar a banda nas paradas de sucesso. Ai a volta no quarteirão estará completa.

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Antes de tocar em Cuiabá, Digão falou com Olhar Conceito sobre a nova fase da banda, a transição desde a saída do ex-vocalista, todos os perrengues enfrentados na última década, a “redenção” alcançada nos palcos e a volta da banda ao cenário nacional com o tema da abertura de Malhação, da Rede Globo. Digão não poupou críticas à indústria fonográfica, a hegemonia da música sertaneja nas rádios populares alcançada com métodos duvidosos de atuação. Digão falou por mais de uma hora sem receio de colocar dedo nas próprias feridas. Nenhum assunto foi evitado. Falou direta ou indiretamente de Rodolfo algumas vezes, mas em mais de uma hora de entrevista, não pronunciou o nome do ex-companheiro mais de duas vezes.

O que esperar do show em Cuiabá

“É um a lista de músicas que foi escolhida pelos fãs e que está rolando muito bem e agora se agregou a trilha da Malhação. A música Vida Inteira é a coisa mais inédita que a gente tem e já estou botando a galera pra cantar. É uma música que incorporou nos Raimundos, tipo Vinte e poucos Anos. O repertório então está muito bem balanceado. A gente tem os clássicos, lado b dos Raimundos e o Cantigas de Roda. É um Raimundos completo, com todas as fases incluídas e no momento em que banda e equipe funcionam muito bem”.

Apesar do que possa parecer, as músicas novas, quando tocam, não diminuem o ânimo do público. Digão conta que Gordelícia e Baculejo, por exemplo, já estão na boca do público. A primeira impulsionada por um clipe. Já a segunda porque caiu mesmo no gosto dos fãs espontaneamente. Isso em um trabalho em que não se pode contar com os veículos tradicionais de comunicação. “Só as rádios rock mesmo que acabam tocando. O resto a gente sabe como é que é, não quero nem comentar, mas Gordelicia teve um clipe mesmo, que rolou nesses canais de vídeo. Baculejo é uma musica que foi sozinha, no nosso trabalho de formiguinha”.

A monocultura e o preço de fazer música no Brasil

Digão criticou os métodos de se alcançar o sucesso por caminhos duvidosos no Brasil e a falta de lealdade na disputa por espaço no mercado, com o jabá. “Se eu falar vai soar rancoroso da minha parte ou invejoso, mas não. Existe um domínio feito de forma até de certa forma ilegal no Brasil. Esse domínio do sertanejo, porque a gente sabe que a forma como eles trabalham existe coisa envolvida, coisa séria que vai além da música que eu não acho legal. Isso não é saudável para a música, mas eu prefiro correr por fora”.

“Existe um publico de rock que está ai. Existe público só que os caras estão aquém”, opina. “Quem está no mainstream hoje, me desculpa, mas pagou para estar ali. E pagou muito dinheiro. Porque chegou um ponto que se um cara aparece, aparece, aparece, chega uma hora ele vai [estourar]. Você pega um produto, você sabe que ele não é tão bom, mas está lá todo dia na sua cara, onde você vai, uma hora neguinho vai [pensar]: ah, legal”. Segundo Digão, lançar uma música hoje no Brasil tem um preço: R$ 300 mil.

O vocalista dos Raimundos entende que existe um público sedento por rock no Brasil e que há espaço para todos os estilos. “Eu não estou falando que tem que acabar com o sertanejo e agora é só o rock. Não. Tem que ter espaço para todo mundo. Tem que ser democrático, porque senão fica feio o negócio. Só tem balada sertaneja, que saco isso né. Os caras se vangloriando da monocultura. Pô, vai se ferrar. Cultura é diversidade, não é uma coisa só. Imagina: monocultura, um estilo que engloba todas as coisas numa só, a gente vai comer o que, ração de cachorro todo dia? A gente um dia vai num restaurante japonês, outro dia vai no francês, outro dia vai numa feijoada, né? Não, agora a gente só vai comer a ração do ser humano. É a mesma coisa”.

O Pão que o diabo amassou e o trabalho de formiguinha

Pouco tempo após a saída do Rodolfo dos Raimundos, a banda lançou o álbum Kavookavala (2002), que vendeu pouco. De 2001 até 2006, a banda só despencou, até o dia em que Digão resolveu tomar as rédeas e além de tocar, passou a “vender” a banda junto com o empresário.

“Na época do Kavookavala estava muito recente o que aconteceu com os Raimundos, a saída do ex-vocalista. E eu sabia que ia ser um processo doloroso, ia ser uma volta no quarteirão, a gente ia ter que passar uma geração toda que cresceu vendo os Raimundos, toda aquela imagem, toda aquela banda pra começar o novo, então eu ia ter que esperar a próxima estação pra poder fazer a minha plantação, a nossa. Não adianta você querer forçar uma situação da noite para o dia: agora é assim, me aceite. E além da saída do vocalista tivemos muitas outras coisas. Em 1999 a gente vendia 600 mil CDs. Todo mundo vendia. Em 2000, 2001 acabou a venda de CD as gravadoras acabaram ali. Então foram 10 anos e tem neguinho que ainda está se reinventando. Tem gravadora que está achando meios de sobreviver num mercado que não existe mais, não tem mais a venda, o que pagava tudo era a venda do CD e agora vende digital mas não tem o mesmo volume de dinheiro que tinha naquela época então foram vários fatores que foram difíceis para a gente”.

“A gente sabia que a gente ia baixar bastante, não tem como você comparar aquela época com hoje, era muito diferente. Teve o antigo vocalista que saiu, beleza. Ai em 2002 o Canisso saiu. Ai a gente foi com uma formação complicada, eu Fred só e o marquinho e o Alf no baixo. A gente ficou até 2006. Naquela época estava com um empresário e era muito difícil, a gente estava com pouco show e foi quando eu resolvi assumir a parte empresarial da banda. O Fred era o cara que fazia essa parte e ele era leonino e não aceitou muito bem isso e a gente acabou divergindo e ele saiu de boa. E quando ele saiu ai eu chamei o Canisso de volta ai eu chamei um baterista que eu já conhecia, tocava com em Brasília. E ai o Canisso voltou pra banda e eu peguei e falei para esse meu empresário: ó se você quiser continuar vendendo os Raimundos, você vende, mas agora eu vou trabalhar também. Eu quis recomeçar de novo, isso foi em 2006, e a gente começou do zero. A gente precisava dessa zerada”.

“Ai 2007 fui pegando a mão de vender show. Era engraçado porque tinha um show ai via uma cidade perto ai eu ligava, procurava saber qual a casa fazia show na cidade perto ai eu ligava para a pessoa e falava: oi, tudo bem? Eu sou o Rodrigo, produtor dos Raimundos e fui apendendo... 2007, 2008, 2009... foi crescendo, ai a gente foi até no Serginho Groisman e ele falou: cadê o disco novo e eu disse que não, eu quero azeitar essa banda. Eu quero fazer show. Eu quero me redescobrir. Eu quero vivenciar com esses caras. Eu quero ter história e ai começamos a fazer show. Quando deu 2010 ai a gente já estava arrebentando. Já estava craque em vender show, mas passava o dia inteiro resolvendo as coisas e a noite estava lá no palco sendo artista e isso estava me sobrecarregando”. Foi ai que a banda resolveu gravar um álbum ao vivo para mostrar que os Raimundos ainda estavam em forma.

O DVD deu um bom resultado, mostrou a energia ao vivo e trouxe de volta a banda para os braços do público. A consequência natural foi a gravação de um CD de inéditas, que só foi possível graças ao financiamento prévio feito com fãs, por meio do crowdfunding. A banda esperava arrecadar R$ 55 mil e viabilizou R$ 130 mil. O Cantigas de Roda saiu e atraiu o contrato com uma gravadora, que agora investe no projeto acústico, que deve contar com a participação de nomes como Ivete Sangalo, Natiruts e Black Alien. “Nós já estamos bem posicionados com a galera do rock”, comemora Digão. O acústico é a chance de fechar a volta no quarteirão e exorcizar de vez os fantasmas do passado.
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