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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Reeducanda passa 4° natal longe dos filhos após ser presa por latrocínio

Foto: Olhar Conceito

Luiza* na Penitenciária Ana Maria do Couto May

Luiza* na Penitenciária Ana Maria do Couto May

Este será o quarto ano em que Luiza* vai passar o natal longe de seus dois filhos. Da última vez em que comeram a ceia juntos, o mais novo tinha dois anos, e o mais velho tinha seis. Muita coisa aconteceu desde então. Neste ano não tem árvore, nem presente, nem música da Simone: Luiza está presa na Penitenciária Ana Maria do Couto May, única penitenciária feminina de Cuiabá.

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A garota de 29 anos é natural do Paraná, mas viveu em Sinop a maior parte de sua vida. Segundo ela própria, a ganância, associada à influência do ex-marido, lhe fez cometer o único crime que tem na ficha: latrocínio. O crime aconteceu em 2013, e vitimou um empresário de 49 anos, para quem Luiza trabalhava. Mas isso não importa mais. Das grades da cadeia para dentro, ela é só mais uma.


Foto: Naiara Leonor / Olhar Conceito

Por bom comportamento, Luiza conseguiu o privilégio de trabalhar dentro da prisão, e não ter que ficar o dia todo trancada na cela. Hoje ela ajuda na administração, como uma secretária. “Eu acordo todo dia às 5h, às 6h saio da cela e venho trabalhar. Volto só à noite, mas tem intervalo pra almoço. É bom, muito melhor que ficar lá dentro”, conta a reeducanda.

Neste final de ano, ela preferiu não se envolver com a celebração de nenhuma religião – que acontecem todos os dias dentro dos cubículos – e já sabe que no próximo domingo (25) não vai encontrar a família. “Eu vejo meus filhos uma vez por ano, normalmente no dia das crianças. Quem cuida deles é minha mãe e a mãe do meu ex-marido, e é muito difícil vir pra cá”, conta.

Luiza lembra que, quando foi presa em Sinop, as visitas eram mais frequentes. “Eu fiquei um ano e quatro meses lá, mas depois disso o presídio feminino foi fechado e eu fui transferida. Aí ficou tudo mais difícil”.

Abandonada, como grande parte das reeducandas, Luiza viu uma saída ao começar a namorar dentro da penitenciária. “Conheci minha namorada aqui, quatro meses depois que entrei. Ela ficou um ano e conseguiu liberdade. Hoje continuamos juntas. Ela vem me visitar sempre”.

O relacionamento entre recuperandas é comum. Luiza contou ao Olhar Conceito que já tinha relacionamentos homoafetivos antes, porém, segundo a diretora da Penitenciária, Joadilma do Espírito Santo, mesmo as mulheres que nunca se relacionaram com outras começam a namorar lá dentro.


Luiza* (Foto: Naiara Leonor / Olhar Conceito)

Para Luiza, sua namorada foi uma exceção dentro da cadeia. Agora, está sozinha. “Eu só confio em mim mesma. Não confio em ninguém aqui”. Contando os minutos para conseguir trabalhar em regime semi-aberto – o que pode acontecer depois que ela cumprir 1/6 da pena – a reeducanda sonha com a liberdade.

“Não volto mais para Sinop. Muita gente me conhecia lá, eu não ia aguentar os julgamentos”, lamenta. Para ela, o objetivo é morar com a namorada e reconquistar a guarda de seus filhos. Antes de tudo, no entanto, quer realizar um desejo de anos: comer um lanche do Subway.

*Nome fictício para proteger a identidade da entrevistada
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