Eu não o conheci, apenas uma breve aparição e um aperto de mãos. Não estabelecemos diálogos e nenhuma dessas histórias eu vivi. Mas o imagino como um personagem na minha mente. Rápido e ágil. Feroz e voraz. A eterna briga pela melhor pauta, pela melhor manchete. E também imagino todas as articulações na redação. Mil ideias. Uma mente que transbordava conhecimento. Os amigos próximos relatam suas histórias que de tão mirabolantes incorporam esta aura enigmática em torno de seu nome.

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Um gênio, um louco. Diferente de tudo que conheci. Assim o definem. Marcos Coutinho, repórter investigativo, mentor do Olhar Direto, o maior site de Mato Grosso. Quando a internet ainda nem engatinhava, seu olho já se projetava lá na frente, vislumbrando um futuro que não conhecia. Mas, sabia que seria possível fazer o impossível, porque não tinha medo dos desafios que se apresentavam. Imagino que era um desses homens que se não existem desafios, ele os cria.

São tantas histórias. Sei que ele era apaixonado pelas artes e falava umas quatro línguas diferentes. Queria estudar mandarim. Não queria parar de aprender nunca. Queria sempre mais e mais. Uma máquina de conhecimento, que atirava para todos os lados com a sua coragem inconfundível. Derrubou secretário de governo que teve que fugir para a Bolívia devido ao seu jornalismo acirrado e combativo, repleto de denúncias e comprovações de esquemas. Podia derrubar até governador, presidente. Bastava ter a oportunidade.

E aproveitava tudo o que aparecia em sua frente. Conseguiu penetrar reuniões da alta cúpula mato-grossense em Brasília, ao se passar por deputado Marcos Coutinho. E já imagino a sua convicção na afirmação, mas principalmente, a ousadia que cabe aos bons jornalistas.

Talvez, a sua maior lição para aqueles que estiveram ao seu lado, seja não ter medo. Não ter medo nunca. Não abaixar a cabeça, mas, enfrentar. Com força. Porque é assim que a vida é, e ele sabia. Imagino suas conversas, com o raciocínio linear em um fluxo contínuo, com poucas pessoas realmente o entendendo, com as sinapses mais rápidas que gatilhos do Velho Oeste. Pedaços do mundo, da vida, da política, da cultura, do social e do histórico, contidas em uma mente fervilhante.

Imagino que estar ao seu lado era mais do que uma troca, mas absorção total. Queria ter tido a oportunidade de aproveitar essa fonte. Mas, fico com seus resquícios. Com as suas histórias extraordinárias. Pregando peça em deputada estadual ao levar embora fitas de áudio que seriam encaminhadas ao Ministério Público. De orelha a orelha, rindo e rindo das próprias peripécias. Dirigia o carro com os joelhos enquanto fazia uma rotatória e falava ao mesmo tempo em dois telefones celulares.

Cantava e tocava Bossa Nova. E encantava. Assim eu o imagino. Uma figura inconfundível, com um sorriso largo e simpatia de todo contador de prosa. Todos o classificam como um louco, mas então, eu pergunto: e que gênio não era louco? Isso só prova o tamanho da sua grandeza, que a sua marca ficará em Cuiabá, mesmo para aqueles que não o conheceram, mas através da imprensa e de suas matérias, em que de certa forma, conviveram com ele.

E hoje, o Olhar Conceito inaugura a editoria Ícones Cuiabanos, que trará personalidades que marcaram esta terra, tanto na área do jornalismo, quanto na política, na história, no social e na cultura. Para fazer este resgate daqueles que se foram e dos que ainda estão aqui, a escolha foi por começar pelo Coutinho, porque sem ele, este espaço não existiria. E também, porque o nosso verdadeiro diálogo nunca aconteceu, mas enquanto escrevo este artigo, parece que ele sussurra no meu ouvido, todas as palavras que devo escrever, como repórter e editor nato que era.