Olhar Conceito

Sexta-feira, 29 de março de 2024

Notícias | Música

workchopp

Velhas Virgens se apresenta em Cuiabá com 'palestra cantante' em que contam suas histórias mais bizarras

Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto

Velhas Virgens

Velhas Virgens

A Velhas Virgens comemora trinta anos de carreira com muita sacanagem, liberdade e rock’n’roll. Em meio à críticas e a um cenário que eles classificam como extremamente careta, a banda continua trilhando sua independência, ralando para sobreviver ao show business e se reinventando. Hoje, além dos shows, vendem camisetas, canecas e – como não poderia deixar de ser – cerveja.

Leia mais:
Raimundos toca em Cuiabá show que encerra etapa da banda antes do "fim da volta no quarteirão"

A banda se apresenta na noite deste sábado (3) no Malcom Pub. Apesar de estarem em plena turnê de aniversário, o show que trazem para a capital mato-grossense é o “Workchopp”, uma espécie de pocket show, quase em formato de stand up comedy, em que os integrantes da banda – principalmente o vocalista, Paulão – contam as histórias que passaram nesses trinta anos e as ideias por trás de cada música.

“São versões acústicas das músicas que a gente tem tocado nos últimos trinta anos, e que a galera curte mais”, comenta o vocalista. “Um dos objetivos desse show era de contar um pouco a história da banda, se aproximar do público, coisa que no show elétrico não dá”. No repertório do show, sucessos como “Toda Puta Mora Longe” e “Abre Essas Pernas”.

Durante a palestra cantante eles contam, por exemplo, como nasceu, há trinta anos, uma banda ‘irreverente’. “O curioso é que quando a gente começou a gente se baseou muito em outras bandas. Várias bandas na verdade, mas principalmente no Camisa de Vênus e Ultraje a Rigor. O Camisa de Vênus tinha algumas músicas com palavrão, e o Ultraje também.
Então a gente olhou pra aquilo e falou, bom, se for pra eu fazer uma coisa que eles já fazem não adianta, então a gente quis ousar um pouco mais, e realmente acabou sendo um pouco mais radical nisso. Naquela época, algumas coisas que a gente canta hoje, se você ouvisse era coerente, mas eu acho que o rock’n’roll brasileiro acabou dando uma retrocedida, então hoje a gente é muito mais radical do que era no início. (...) O que ta em volta hoje é mais careta do que estava naquela época, nos anos 80”, lamenta o vocalista.

A mudança de cenário trouxe, por exemplo, críticas em relação ao jeito que a banda fala sobre as mulheres. “Tem uma crítica que diz que somos machistas. Eu acho que a gente descreve o comportamento masculino, que é diferente das mulheres”, explica Paulão. Para Alexandre, o “Cavalo”, guitarrista, a ideia na verdade é apresentar uma caricatura. “E em geral, descreve de uma forma que é uma caricatura. E quando você faz uma caricatura no desenho, você exagera o feio. Então a gente exagera, vai pro lado da brincadeira, porque se não fica sem graça”. “Outra coisa que acontece é que muitas músicas foram compostas ali no final dos anos 80, 90, e ali no final de 85 a gente teve uma caída da censura, e uma liberdade muito grande, de falar tudo que a gente quisesse. Você tem que pensar também que a música foi composta num outro período, num outro tempo social. Eu não posso voltar lá e refazer o que eu fiz”, completa.

Para a única mulher da banda, a vocalista Juliana Kosso, sua presença à frente do microfone é uma das provas do ‘não-machismo’ do velhas. “O que a gente faz muito, também, é a inversão de papeis. E quando eu canto uma música, como por exemplo ‘só pra te comer’, fica com outro sentido”, comenta.

Cenário independente

Saindo totalmente da discussão do politicamente correto, a Velhas Virgens sobrevive há trinta anos no cenário independente, sem depender de gravadora, e sempre procurando novas alternativas. Inovar é a palavra.
“Em 1997, 98 o Cavalo virou pra mim e falou assim: ninguém quer nosso disco. Nós vamos fazer um site e vamos trabalhar na internet. Eu falei: que bosta é internet? Isso não vai dar certo”, lembra Paulão. “Até então, a gente enviava fita k-7 pelo correio, a gente atendia as pessoas pelo telefone, recebia carta”, completa Cavalo.

Além de entrar na internet, outras ideias de Cavalo foram, por exemplo, vender um CD num encarte de gibi, fazer um CD-Room e, agora, trabalhar com streaming. “A mudança do disco pro CD foi muito lenta, mas do CD pro resto foi rápido demais. (...) Ano que vem, a partir do nosso DVD, vamos fazer um streaming inclusive para vídeo, e entrar cada vez mais na internet”.

A banda lançou também, há quatro anos, uma marca de cerveja artesanal em parceria com uma cervejaria de Ribeirão Preto. “São cervejas desenvolvidas pelo Tuca, temos um bar de cerveja artesanal em São Paulo, então ao invés de você focar numa coisa só você vai ampliando, e os fãs vão consumindo isso. Isso quer dizer que você vai ficar rico? Não sei. Mas pelo menos você vai se sustentar fazendo o que você gosta”, explica Paulão. Hoje são quatro sabores de cervejas próprias, além da que a banda lançou em parceria com o filho do Chorão, que se chama Charlie Brown Jr.

Carnavelhas


Mesmo antes de se apresentarem neste sábado, a Velhas Virgens já anunciou que vai trazer a Chapada dos Guimarães e a Cuiabá, em 2017, o “Carnavelhas”. “A gente descobriu entre nós que, primeiro, a gente gostava de carnaval, que roqueiro gosta de carnaval, porque carnaval tem bebedeira, tem farra, tem sexo, tem putaria... é legal pra caralho carnaval. Esse preconceito de roqueiro contra carnaval não faz muito sentido. O que acontece é que a trilha sonora era muito ruim”.
Pensando em melhorar essa trilha sonora e levar os roqueiros para as ruas, a banda fez uma mistura entre as antigas marchinhas de carnaval e a guitarra do rock’n’roll. Assim, em 2004, lançaram o primeiro álbum ‘Carnavelhas’, e em 2005 começaram a tocar em fevereiro.

“A gente lançou três discos de marchinha de carnaval, e isso além de ser uma coisa divertida, além de colocar um pouco de Brasil dentro do rock’n’roll, fez com que a gente pudesse trabalhar antes do carnaval, porque o rock’n’roll só começa a trabalhar depois da quarta-feira de cinzas”, explica Paulão. “De novo é a estratégia trabalhando do lado do que a gente gosta”.

Saída de Paulão


Recentemente, em entrevista ao site Roque Reverso, o vocalista Paulão afirmou que estava cansado. Sua possível saída da banda, após trinta anos de trabalho, começou a intrigar fãs. Ao Olhar Conceito, ele se limitou a dizer que “está cansado”.

“Depois de um DVD de 30 anos, que é uma coletânea [que será lançado no próximo ano], você tem que vir com um trabalho novo. E eu quero repensar o que eu quero. Quero repensar se eu vou continuar com esse complexo de Peter Pan, cantando sobre bebedeira adolescente a vida inteira, o que é divertido. Ou se a gente pode ir pra outro lado, né? Eu não sei. E pra fazer isso você tem que dar um passo pra fora e analisar, porque gostem ou não, a gente fez uma obra em 15 discos e 30 anos. Somos uma referência de independência e rock’n’roll cantado em português. Então, é uma responsabilidade que eu tenho e que eu gostaria de pensar sobre ela mesmo, não to querendo me super valorizar com isso. Eu adoraria ter um tempo de férias, é o que eu preciso”, finalizou.

Enquanto ele ainda continua, as letras sobre mulher, álcool e rock’n’roll poderão ser ouvidas por aí. Em Cuiabá, eles tocam neste sábado (3), no Malcom Pub, com abertura da banda cuiabana Ponto Seis. Os ingressos custam R$30 na porta.
Entre em nossa comunidade do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui

Comentários no Facebook

Sitevip Internet