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Notícias / Gastronomia

Paraense faz sucesso em Cuiabá vendendo açaí puro, tacacá e outras comidas do Norte do país

Da Redação - Isabela Mercuri

Foi em 1995 que a paraense Arlete Cunha Santos, 67, teve que se separar dos pratos que tanto amava, quando seu marido, então funcionário do Banco da Amazônia, foi transferido de Santarém para São Paulo, e de São Paulo para Dom Aquino, em Mato Grosso. Ela veio junto, mas preferiu ficar na capital, onde encontraria escolas melhores para os filhos, e onde, assim que chegou, decidiu abrir uma lanchonete para vender as comidas típicas do Norte do país.

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“Já estava perto de me aposentar, me aposentava em 96. Mas nortista não fica parado, né? Se aposenta e não fica em casa não. Então eu vi esse ponto aqui, era até pequenininho, era um negocio de partido que funcionava, ai eu fui, aluguei, e depois transformei numa lanchonete”, lembra-se a empresária, que há mais de vinte anos abre as portas de seu ‘Cantinho das Delícias’ no mesmo local, na Avenida XV de Novembro.

Desde que chegou aqui, Arlete já percebeu que havia muita gente que também sentia falta das ‘delícias’ do Norte.  “Bastante gente do Pará, Rondônia... todos comem essas comidas. E muita gente do sul também, principalmente paulista. O paulista gosta muito de comer essas coisas diferentes. O pessoal do sul, rio de janeiro, e até cuiabano mesmo se adaptou. Eu tenho freguês cuiabano que se adaptou muito bem”, conta.

Em seu cardápio, Dona Arlete tem sempre o açaí puro, preferido dos clientes. Ela faz questão de frisar que foi a primeira a vender o ‘açaí na tigela’ em Cuiabá. “Mas o açaí puro. Porque por aí - eu que falo - só vende o contaminado, o industrializado”, garante.
“O açaí contém vitamina A, vitamina B, cálcio, sais minerais, fósforo, refaz as energias física e mental. Então o açaí, sendo puro, é bom pra uma porção de coisas. É bom pro coração, pra problemas de artrite... Inclusive tem uma senhora que compra aqui pro marido dela todo mês. O marido dela tava na cadeira de rodas, já está andando. Mas tem que tomar puro, viu? Não adianta querer colocar açúcar, aí estraga tudinho o açaí”.

Como acompanhamento, também não adianta querer colocar banana e granola. Por aqui, os clientes pedem farinha de tapioca, farinha d’água, camarão seco, peixe frito e jabá assado para comer com o creme de açaí. “O que o cliente pedir. Só que o cliente tem que pedir, porque eu não tenho, por exemplo, se chegar aqui agora e quiser um açaí com jabá assado, não tem como, porque tem que tirar o sal e assar, né? Mas se ligar, encomendar... dia de sexta eu faço peixe, então vendo com peixe frito. Mas o pessoal gosta muito com farinha de tapioca. Tem qualquer hora que quiser”. O açaí na tigela (com farinha de tapioca) custa R$15. Enquanto o açaí puro, 22 o quilo.

Tacacá da Dona Arlete (Foto: Olhar Conceito)

Dona Arlete também prepara pato no tucupi (sumo amarelo extraído da raiz da mandioca brava), o tacacá (tucupi, goma de tapioca, camarão seco e jambu), maniçoba (‘feijoada sem feijão’ feita com maniva, a folha da mandioca triturada, que leva uma semana para ser cozida), bolo de queijo paraense (com muçarela, manteiga de garrafa e queijo de búfala), creme de cupuaçu e bombom de açaí.

Pato no tucupi; Açaí com farinha de tapioca; Maniçoba (Fotos ilustrativas - Alexandre Schneider / Romero Cruz)

Para aqueles que preferem levar os ingredientes para casa, ela também o tucupi, o jambu, o camarão, o molho de pimenta, o pirarucu salgado, o açaí puro, o cupuaçu cortado na tesoura, e tudo mais o que o cliente quiser e encomendar. “Quem me manda é meu irmão e uma amiga minha. Vem de Belém, Santarém e Itaituba. Porque esses produtos do Pará não têm um pedido que você faça e que tenha firma que despachar, não tem”, explica.

Foto: Olhar Conceito

Há mais de vinte anos no mesmo lugar, Arlete não pretende se mudar, e garante que não precisa de muito luxo para vender as iguarias. “Quero ficar aqui. Pretendo dar uma melhorada, mas a gente pra mudar, depois que estou aqui há mais de 20 e poucos anos, não adianta. Tem gente que fala, ah, vai pra outro lugar... [mas vai] encarecer aluguel, vai encarecer o produto”, comenta.

“Eu tive convite de uma amiga minha, querendo colocar uma sociedade lá no shopping. Mas eu disse que no shopping não vai dar. Sabe por que? Esse tipo de comida é rústico. Você vai lá no Pará, não acha em restaurante granfino ela. Você acha pela rua, em barraquinhas.

É assim que é vendido. Lá não tem um restaurante, é tudo rústico. E se você for colocar alguma coisa assim, vai encarecer, vai sair por quanto?”, finaliza.

Dona Arlete (Foto: Olhar Conceito)

Serviço

Cantinho das Delícias
Endereço: Av. XV de Novembro, 381 – Porto
Informações e encomendas: (65) 3624-6867 ou (65) 98125-4790.
Funcionamento: Segunda a sexta, das 6h às 18h / Sábados: das 6h às 14h
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