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16/04/2014 - 15:40

Doze anos depois: o mesmo Felipão, mais careca e com novos desafios

Globo Esporte

 Doze anos após conquistar definitivamente o carinho dos brasileiros, o técnico Luiz Felipe Scolari voltará, a partir de junho, a comandar a Seleção em uma Copa do Mundo. Como em 2002, o objetivo natural continua sendo o título. Os desafios e obstáculos, no entanto, são diferentes.

Em 2002, Felipão viajou para a Ásia com um grupo desacreditado, após uma eliminatória tensa que, por pouco, não deixou o Brasil fora da Copa. Por outro lado, Scolari tinha em mãos um time experiente, com craques rodados na Europa como Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos, Ronaldinho Gáucho e Cafu.

Quando reassumiu a Seleção em novembro de 2011, no lugar de Mano Menezes, Felipão também encontrou uma equipe que não empolgava a torcida. A conquista da Copa das Confederações, no entanto, mudou o panorama. Com um bom futebol, o jovem time de Scolari desbancou a favorita Espanha e levou mais do que o tetracampeonato: conquistou também respeito, admiração e apoio dos brasileiros.

Agora, a menos de dois meses da Copa do Mundo, Felipão tem um desafio distinto do que levou na bagagem para a Ásia em 2002. Mas ele não se enxerga de forma diferente em relação àquela época, apenas com alguns fios de cabelo a menos. O talento sobra, mas a experiência internacional ainda é pouca entre jovens atletas como Oscar, Neymar, Paulinho e Bernard. Segundo as palavras do próprio treinador, a comissão técnica ainda busca uma forma de administrar o excesso de vontade dos jogadores, para que ela não se transforme em afobação e venha a atrapalhar em jogos complicados nas fases decisivas do Mundial.

- Essa Seleção de agora é mais jovem. Mas também é boa de trabalhar, tem uma cabeça muito legal, uma dinâmica diferente. A Seleção de 2002 também era ótima. Tinha muita experiência. Experiência que, muitas vezes, fazia com que eles ditassem o ritmo dentro dos jogos. Nós, atualmente, ainda temos dificuldades para nos impormos diante dos adversários em alguns momentos. A vontade, às vezes, é excessiva, e precisamos trabalhar isso – disse Felipão.

Em bate-papo com o GloboEsporte.com, nesta terça-feira, durante um evento de um patrocinador da CBF na Granja Comary, em Teresópolis, Felipão falou sobre os últimos detalhes do planejamento para a Copa, disse já ter a lista de convocados na cabeça e não descartou novidades no dia 7 de maio.

- Uma ou duas, no máximo.

Sobre Neymar e o momento delicado que o craque vive no Barcelona, o treinador afirmou que o atacante conta com a confiança da comissão técnica e deu a entender que o camisa 10 vem sendo prejudicado pela maneira como é escalado na Espanha.

- Sozinho ele não vai ganhar e também não vai perder. Em relação à Seleção, não muda nada. Já falamos com ele e gostamos imensamente do Neymar jogando em uma posição diferente. Ele vai voltar e se apresentar com uma alegria imensa.

Confira os principais trechos da entrevista:

GloboEsporte.com: Antes de embarcar para a Europa, você disse que tinha poucas dúvidas em relação à lista final para a Copa do Mundo. Após duas semanas acompanhando jogos por lá, dá para dizer que já tem a lista fechada na sua cabeça?

Felipão: Tenho 45 jogadores que venho sempre observando. Quando vamos assistir a um jogo in loco, é claro que queremos observar uma situação diferente, um jogador que vem se destacando e que a gente acredite que possa acrescentar algo a mais à Seleção. Mas, a principio, as dúvidas não existem mais por tudo aquilo que a gente vem fazendo desde o início do trabalho, nessa fase de preparação. A lista, hoje, estaria pronta. O maior problema, neste momento, não são as dúvidas. O maior problema são os jogos importantes e decisivos que os jogadores têm pela frente nesse fim de temporada. Muitas vezes uma lesão pode ocasionar uma troca.

Teremos novidades na convocação final?

Pode ter novidade de acordo com observações que fizemos. Muitas vezes um jogador está se sobressaindo por ter uma superproteção em sua equipe ou o time dele joga de uma forma que nós não vamos jogar. E daí surge a discordância que existe muitas vezes por parte da imprensa e dos torcedores em relação ao técnico. Mas em uma situação normal, não teremos muitas modificações ou quase nenhuma. Uma ou duas, no máximo

Quando jornalistas e torcedores receberem a lista, serão surpreendidos por algum nome?

Se alguém errar, vai errar por um nome. Dois, no máximo.

O que falar sobre o momento do Barcelona? As críticas pela eliminação da Liga dos Campeões e pelos tropeços no Campeonato Espanhol podem respingar no Neymar e, consequentemente, na seleção brasileira?

Não tenho nada a falar sobre o Barcelona. Não sei o que acontece lá dentro. Os números dessa temporada são diferentes, o que é normal. Ninguém permanece quatro, cinco anos no topo, sem ter um declínio. Em relação ao Neymar, não noto nada diferente nele. Vem jogando da mesma forma desde que lá chegou e, se existe um declínio, é coletivo. Sozinho ele não vai ganhar e também não vai perder. Em relação à Seleção, não muda nada. Ele sabe que nós estamos observando, já falamos com ele e gostamos imensamente do Neymar jogando em uma posição diferente. Ele vai voltar e se apresentar com uma alegria imensa.

Em 2002, antes da Copa, houve toda aquela manifestação popular pela convocação do Romario. Agora, você vive um momento mais calmo, sem pressão pela convocação de um ou outro jogador.

Agora vai ter pressão por algum outro. Pode ter certeza.

Mas será uma pressão infinitamente menor.

Mas vai ter pressão de qualquer forma. Ninguém é unânime entre os 23. Nós não vamos nunca conseguir agradar a todos. Mas dentro da minha filosofia que eu procuro para a Seleção, vou procurar convocar aqueles que eu acho que terei o respaldo necessário, independentemente de outra pessoa pensar diferente.

A pressão pela convocação do Romario ajudou o grupo a se unir ainda mais em 2002?

Não sei, não sei. Eu tinha o meu grupo, e eles sabiam que tinham que jogar por si, pelo grupo e pelo país. E jogaram. Então, independente de quem foi convocado, eles tinham uma obrigação, um dever, um sentimento. Tenho certeza que vai ser da mesma forma agora.

Durante a Copa das Confederações, você falou que a grande diferença entre o time de 2002 e o atual era a experiência dos jogadores que conquistaram o penta. Quase um ano depois, acredita que esse grupo atual já está mais rodado e experiente?

Esse grupo atual ganhou um pouco mais de experiência. Mas a experiência que falei é quando um jogador já disputou seis, sete campeonatos importantes e chegou às finais. Cada vez mais a gente vai observando. Alguns jovens jogam muito bem, mas quando chegam a uma decisão, como ainda não vivenciaram uma situação dessas, têm um declínio. Por isso temos que analisar e observar tudo isso. A função do técnico é essa: levar o time à final. E mesmo que esse time seja jovem, que não sinta a situação e sofra um declínio.

E como lidar, em um momento importante como a Copa do Mundo, com a falta de bagagem dos mais jovens?

Essa Seleção de agora é mais jovem. Mas é boa de trabalhar, tem uma cabeça muito legal, uma dinâmica diferente. A Seleção de 2002 também era ótima. Tinha muita experiência. Experiência que, muitas vezes, fazia com que eles ditassem o ritmo. Nós, atualmente, ainda temos dificuldades para nos impormos diante dos adversários em alguns momentos. A vontade, às vezes é excessiva, e precisamos trabalhar isso.

A comissão técnica vem trabalhando nessa questão?

Nós temos um comando diferente hoje, com o Carlos Alberto Parreira, que é três ou quatro anos mais velho do que eu. Ele é visto pelos jogadores muitas vezes como um pai. E é um cara que já viveu seis Copas. Eu vivi duas. O Parreira também é uma pessoa que ajuda e aconselha a garotada. E ele tem feito isso.


E como vocês pensam em frear o excesso de empolgação com uma Copa disputada no Brasil, com todos os olhos voltados para a seleção brasileira?

Quero que eles cheguem empolgados. Mas temos que aconselhá-los e seguir o nosso planejamento. Nosso planejamento, muitas vezes, não vai agradar algumas pessoas. Tomaremos algumas atitudes para que os jogadores se sintam à vontade e protegidos. As pessoas sabem que estaremos na Granja Comary para treinar. E todos sabem que o acesso à Granja é muito difícil. Então, que as pessoas não caiam em histórias de que os treinos serão abertos ao público. Temos procurado também cuidar de uma série de detalhes junto a nossos patrocinadores. São detalhes e pequenas coisas que podem influenciar diretamente no rendimento de nossos jogadores em campo. Os atletas precisam ter tranquilidade para treinar. O resto vai ser fácil.

O que mudou no Felipão nesses últimos doze anos?

Não mudou nada. Só estou mais velho e careca. (risos). Mas estou melhor do que o Marcos (disse, referindo-se ao ex-goleiro do Palmeiras, que também participou do evento). Mas nada mudou. Eu queria ser campeão em 2002. Graças a Deus, com o trabalho daquele grupo, conseguimos. E o que eu mais quero agora é ser novamente campeão.

Você antecipou as convocações do Julio César e do Fred, mesmo com os dois passando por momentos delicados após a Copa das Confederações. Isso se deu pelo fato de eles serem mais velhos e rodados e poderem passar alguma experiência aos mais jovens?

Todos sabem que gosto muito da atitude deles dentro e fora de campo. Se estiverem em condições físicas, naturalmente serão convocados. Eles são jogadores de referência em alguns assuntos e, até por isso, são dois dos capitães que escolhi (Thiago Silva é a primeira opção). Eles são importantes até pela idade e maturidade.

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