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11/03/2014 - 10:20

Inclusão de 'ex-escravos' em obras da Copa em MT vira referência nacional

Da Redação - Darwin Júnior

Foto: Almir Bindilatti/Divulgação

O baiano Anílton dos Santos foi resgatado de uma fazenda em Itiquira há menos de um ano

O baiano Anílton dos Santos foi resgatado de uma fazenda em Itiquira há menos de um ano

O exemplo de Cuiabá em uma obra da Copa do Mundo começa a ganhar o país. A iniciativa de contratar egressos do trabalho escravo para obras de infraestrutura virou referência de inclusão e está sendo seguido por outros estados. A iniciativa ocorreu na construção da Arena Pantanal, sob responsabilidade da construtora Mendes Júnior. O mesmo aconteceu na usina hidrelétrica Teles Pires, da Odebrecht, na divisa de Mato Grosso com o Pará. Neste ano, deve se expandir para pelo menos três Estados que já negociam com parceiros regionais, vagas para esse tipo de mão de obra.

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De acordo com matéria veiculada nesta segunda-feira (10) pela Folha de São Paulo, Rio, Bahia e Pará discutem programas como o Ação Integrada, que em Mato Grosso empregou 588 trabalhadores resgatados entre 2011 e 2013. A carteira assinada nas obras vem acompanhada de cursos de qualificação e alfabetização promovidos em parceria por entidades como Sesi e Senai e empresas da construção, de colheita de algodão e de criação de suínos.

Por enquanto, o número de resgatados que voltam ao mercado de trabalho em programas desse tipo ainda é pequeno diante do total de libertados no Brasil. Conforme levantamento da Folha, foram 2.300 no ano passado e perto de 46 mil desde 1995, quando o país reconheceu a existência de trabalho análogo à escravidão.

No entanto, o número de empregados em MT (588) já representa quase dois terços dos 1.615 que receberam o seguro-desemprego especial de resgatados nesse Estado, de 2003 a 2012. A expansão do programa abriu espaço para uma discussão entre fiscais, procuradores do Ministério Público e especialistas que atuam no combate a essa prática.

Em sua reportagem especial, a Folha de São Paulo ouviu egressos do trabalho escravo que mudaram a vida em Cuiabá. Esse é o caso do paulista José Divino da Silva, 59, que chegou à obra da Arena Pantanal desnutrido, com anemia e sem condições físicas de enfrentar a rotina da construção. Foi caminhoneiro e acabou indo parar numa fazenda de algodão em Primavera do Leste (MT).

Divino ganhava R$ 14 para capinar cada rua da plantação. Levava até três dias para fazer uma rua com 3.400 metros. Ele conta que “morava num barracão com 40 colegas. E só tinha uma paredinha separando a gente do chiqueiro. Quando chovia, os porcos invadiam o cômodo”.

Com a saúde frágil, Divino foi empregado como responsável por cuidar do alojamento da obra. “A vida mudou muito. Naquele tempo, a comida era fraca e pouca. A gente comia carne só quando alguém caçava tatu. Agora tenho carteira assinada, salário e consegui comprar meu carrinho, em 36 vezes”, revela.

A reportagem da Folha ouviu um trabalhador da obra de construção da hidrelétrica Teles Pires. A história do baiano Anílton Conceição dos Santos, 30, resgatado de uma fazenda em Itiquira (MT) há menos de um ano, traz semelhanças com a de Divino. “Trabalhava sob sol e chuva. Posso dizer, sim, que era quase um escravo”.

Havia promessa de receber R$ 1.600 de salário, mas, com todos os descontos e dívidas, diz, o dinheiro nunca chegava ao bolso. “A comida custava caro, a bota era descontada. Cada vez que pedia para ir à cidade, o frete custava R$ 190. Quando saía da fazenda, levava advertência”. Anílton fez curso de soldador e tem sonhos: quer estudar mais, ser motorista e viajar pelo Brasil.

“Como o Brasil virou um canteiro de obras e faltam profissionais, a vinda desses trabalhadores também foi uma alternativa importante”; diz Chrispim Sheikespire, gerente administrativo na obra do estádio Pantanal. Segundo ele, há vários casos de trabalhadores que já estão sendo promovidos. Durval Fernandes da Silva, 40, começou como servente, mudou de cargo duas vezes e vai ser oficial de armador na obra de duplicação da BR-163.

Conforme o superintendente do Trabalho em Mato Grosso, Valdiney Arruda, “é preciso entender que esse trabalhador precisa ser resgatado em vários aspectos. Não adianta simplesmente assinar a carteira. O programa avalia a aptidão profissional, resgata a cidadania (muitos nem documentos têm) e ajuda com cursos práticos. Na sala de aula, prepara esse trabalhador”.

Imagem: Reprodução Folha de São Paulo/Com informações da Folha de São Paulo

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por Boiadeiro, em 11/03/2014 às 20:40
Odebrecht, empresa que acima de tudo pensa nos seus integrantes, qualidade de vida, segurança, foi a melhor empresa que trabalhei.
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