Notícias / Copa 2014

18/07/2014 - 16:28

Juiz brasileiro da Copa pede 'atitude Fifa' nos brasileiros, destaca disciplina alemã e apoia tecnologia

ESPN

 Sandro Meira Ricci foi o único árbitro brasileiro presente na Copa do Mundo de 2014. E o mineiro de 39 anos pode se considerar sortudo. Foi com ele apitando, em França x Honduras, que o Mundial teve o primeiro "tira-teima" com relação à tecnologia na linha do gol. Sem contar que Ricci também foi o juiz de duas partidas da campeã Alemanha, contra Gana e Argélia.

Em entrevista ao ESPN.com.br, o árbitro explicou porque existem mais faltas e cartões nos jogos do Campeonato Brasileiro do que na Copa do Mundo, se disse a favor da ampliação da tecnologia do futebol e ainda destacou que a Alemanha disciplinarmente é exemplar e que isso tem a ver com o desempenho do time no Mundial do Brasil.

Veja abaixo a entrevista:

Existiu alguma recomendação da Fifa para termos poucos cartões e faltas na Copa?
A própria experiência e leitura levam o árbitro a perceber o tipo de partida que ele está apitando. Copa do Mundo é um ambiente onde existe muito fair play, respeito entre os jogadores. O senso de responsabilidade por parte dos árbitros e jogadores é maior. Isso que levou a um reduzido número de cartões, faltas. Exatamente esse ambiente. As equipes são instruídas antes do torneio sobre como a arbitragem vai se comportar. Esse trabalho preventivo ajuda muito. O próprio clima de jogo limpo entre os jogadores facilita muito o trabalho da arbitragem de modo que a gente não precisa utilizar muitos cartões pra poder controlar o jogo, que eu acho que é o objetivo principal do árbitro.

Por que vemos mais cartões e faltas nos jogos do Campeonato Brasileiro do que na Copa do Mundo?
O desafio é a rapidez de adaptação. Os próprios jogadores que recentemente estava atuando na Copa do Mundo, nos seus campeonatos locais, não se comportam da mesma maneira. Isso não poderia ser diferente para o árbitro. Nós temos que nos adaptar a um novo ambiente de trabalho. O clima de fair play, ele facilita o trabalho da arbitragem. Nos campeonatos nacionais, de 38 rodadas, um cartão para o atleta, pra uma equipe, não faz diferença. Numa Copa do Mundo, você tem 7 jogos no máximo. As decisões têm que ser muito bem aplicadas a ponto de não prejudicar o espetáculo. Aqui é diferente, os próprios jogadores sentem isso e atuam de uma maneira mas até voluntariosa porque eles sabem que a aplicação de um cartão não prejudica. Isso faz com que a atuação dos jogadores e árbitros sejam diferentes. Não por falta de critério, e sim porque existe um outro contexto de atuação.

Você acha que os jogadores aqui no Brasil teriam que ter essa atitude que você citou, de respeito, etc, da Copa do Mundo?
Com certeza. Quando você tem jogadores que a todo momento estão ali se comportando de uma maneira preocupada em não interferir na continuidade da sua equipe, sabendo que um cartão amarelo faz diferença. Tem um respeito muito grande dos adversários, ali não existe uma diferença muito grande entre as equipes do ponto de vista técnico. Então eu acho que se a gente tivesse esse ambiente reproduzido em qualquer campeonato nacional seria melhor não só para os jogadores como para o árbitro e para o futebol. Mas eu entendo que numa competição longa é muito difícil de você adotar a mesma ideologia numa Copa do Mundo.

Como que foi ser o primeiro árbitro do mundo a participar da revisão da jogada na tecnologia da linha do gol na Copa?
Você não percebe isso no momento em que acontece. Você percebe isso quando você chega em casa e os companheiros começam a te felicitar, você começa ver a repercussão do fato e perceber que o momento foi histórico.

Você é a favor de mais recursos tecnológicos no futebol?
Eu acho que todo recurso tecnológico que vem para garantir 100% de precisão na decisão da arbitragem deve ser utilizado. Na minha opinião isso só é possível quando a gente fala de lances binários, de sim ou não, e não lances de interpretação. O próprio sistema de tecnologia da linha do gol poderia ser ampliado para o campo inteiro, e não só para a lina do gol. A gente já teve casos em que a bola...se ela saiu ou não na lateral e não foi possível identificar.

Você acabou apitando duas partidas da Alemanha no Mundial. O que eles têm de diferente que você percebeu em campo?
Tanto a equipe da Alemanha, quanto da França, elas impressionaram muito do ponto de vista tático e disciplinar. São equipes que se comportam muito bem. É bom você apitar jogos assim, mesmo que seja só de uma equipe com essa característica, porque uma acaba levando a outra. A gente teve a oportunidade de apitar duas partidas da Alemanha e uma do Bayern de Munique no Mundial de Clubes. A gente pode perceber que a disciplina alemã é algo exemplar. Parece que eles têm a noção exata do que vai acontecer e de como eles vão chegar à vitória. Acho que essa Copa foi muito marcante nesse sentido, porque a gente pode perceber de perto como é esse comportamento exemplar do jogador alemão perante a arbitragem e um comportamento tático muito disciplinado também. E acho que isso os levou a serem campeões. Na medida que você deixa de se preocupar com a arbitragem, fatores externos, coisas que você não controla e passa a se dedicar à preparação do jogo, da competição, isso leva à vitória.

Nenhum comentário

comentar
Sitevip Internet