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Notícias / Copa 2014

Muzambinho-MG guarda com orgulho trave da final da Copa do Mundo de 50

Sportv

  O que aconteceu debaixo das traves do Maracanã na final da Copa de 1950 é lembrado até hoje. A derrota por 2 a 1 para o Uruguai calou os mais de 200 mil torcedores presentes no estádio no Rio de Janeiro. O jogo ficou marcado como a mais trágica história do futebol brasileiro, e no final da década de 50 as traves viajaram mais de 500 quilômetros e foram parar em Muzambinho. Atualmente, a população de 20 mil habitantes ocuparia apenas 10% do Maracanã no dia daquela final, mas foi na pequena cidade do sul de Minas Gerais que as traves ganharam uma nova história (assista ao vídeo).

- O prefeito da época em Muzambinho tinha um concunhado que era um dos administrados do Maracanã, e através dele arrumou um jeito das traves virem para cá - recorda o contador Celinho Sales, ao citar as traves que seriam “amaldiçoadas”.

Quando as traves chegaram na cidade, elas foram colocadas no Estádio Municipal Prof. Antônio Milhão. A fama das traves do Maracanã atraiu times do Brasil inteiro. Uma das partidas mais marcantes que o Muzambinho Esporte Clube encarou foi contra o Fluminense, e os donos da casa conseguiram um feito surpreendente.

- A gente dizia que o empate do Muzambinho com o Fluminense era como se ganhasse a Copa do Mundo - diz o ex-zagueiro Jairo Rondinelli.

- Aquele jogo era difícil, porque o time do Fluminense era profissional. Eles fizeram 1 a 0 e depois teve um pênalti a nosso favor, e Adolfo Vieira “Corote” chutou e furou a rede, tão forte que esse moço chutava. Tivemos muitas vitórias e muitas alegrias com essas traves em Muzambinho - conta o aposentado Geraldo "Sapo" Tardelli.

Aos 89 anos, Corote ainda tem na memória o lance marcante diante do time comandado por Telê Santana. E admite que ficou nervoso na ocasião.

- Quando me chamaram para bater o pênalti fiquei até meio bambeado, mas eu tinha confiança em mim e fui e bati.

O ex-zagueiro Rondinelli ainda conta que após deixar o Estádio Antônio Milhão, as traves foram colocadas no Estádio Jair da Silva no Alto do Anjo. Mais tarde, o novo local também desejou traves com contornos arredondados e as antigas tiveram que arrumar um novo endereço, e assim foram doadas para o estádio da zona rural, Seu Nival de Sandy.

- Era um prazer grande demais, porque na zona rural todo mundo vinha e falava: essas traves que vieram do Maracanã? O pessoal se sentia até emocionado também por jogar num campo que tinhas as traves do Maracanã - contou o produtor rural Antônio Carlos Sandy. E foi nesse local que elas ficaram por mais de dez anos, até que um Eucalipto caiu e quebrou umas das balizas. Depois, elas se aposentaram do campo e se tornaram peça de museu.

- Elas fazem parte da história do futebol brasileiro e deveriam ser preservadas. Elas estavam expostas ao tempo, em condições precárias, e se elas continuassem ali iam se perder - afirmou o historiador Fernando Magalhães.

Em 2000, 60 anos depois da final da Copa, uma das traves foi restaurada e levada para a Casa de Cultura de Muzambinho. Ela foi cortada para caber na casa. Um dos pedaços que não foi restaurado ficou na casa da família Sandy, outra parte pertence a Fernando Magalhães, outro muzambiense que, de tanto ouvir a história da Copa de 50, foi ao Uruguai conhecer Ghiggia, que deixou mais uma marca na trave, desta vez com sua assinatura.

- Aqui na cidade sempre se diz que eram as traves da Copa do Maracanã da Copa de 50 e ninguém nunca questionou isso - disse Fernando.

O historiador da cidade de Muzambinho acredita que a afirmação de que as traves teriam na verdade sido queimadas surgiu para apagar a memória sofrida do desfecho da final do Mundial de 50, principalmente para o goleiro brasileiro Barbosa, responsabilizado pelo gol da vitória uruguaia.

- Entre todas as histórias que se ouve a respeito dessa trave do Maracanã, a verdadeira é a nossa, isso posso te garantir - diz sem titubear Celinho Sales. “Se tivesse queimado eu não tinha ela na minha casa”, completa Antônio Carlos Sandy.

Para ajudar a esclarecer a dúvida sobre a autenticidade da baliza, um pedaço da madeira está sendo analisado no Laboratório de Anatomia da Madeira, na Universidade Federal de Lavras, também no Sul de Minas Gerais.