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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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O não legado da Copa no Brasil

O parágrafo entre aspas, abaixo transcrito, mostra o que a maioria dos brasileiros pensa a respeito da Copa do Mundo no Brasil, segundo a Revista on-line, Pública, no endereço http://www.apublica.org/: “ Da Copa do Mundo, eu abro mão. Quero dinheiro pra saúde e educação”. “Este foi um dos gritos mais ouvidos durante as manifestações de junho de 2013, em diversas capitais brasileiras. De fato, ao comparar os investimentos do governo federal com as bandeiras da população, as prioridades parecem não serem as mesmas.”

O SEBRAE/SP, nas palavras de seu presidente também afirma que, para podermos receber o legado da Copa como uma herança positiva temos de realizar sérias mudanças na política, na organização tributária e em muitas outras coisas no país.

Estas não são visões isoladas, basta que tenhamos um pouco de interesse no que acontece no país para vermos que não estamos vivendo o momento certo para receber a copa do mundo. Por exemplo, há grande disparidade entre os investimentos que são realizados para tal evento e aqueles que são feitos para a Educação e a Saúde dos brasileiros em informações retiradas do Portal da Transparência CGU. Vejamos:

Só nas estruturas provisórias montadas para receber espaços de mídia, exposição comercial e atendimento a torcedores VIP, entre outras coisas, foram gastos R$ 208,8 milhões em verbas estaduais nas seis sedes da competição, em 2013.

Já o total dos repasses do Governo Federal para a saúde e a educação entre os anos de 2010 e 2013, para Cuiabá foi de 238 milhões para a educação e 5,7 bilhões para a Saúde, isso para 4 anos, o que significa que se dividirmos por ano, resta para a educação 59,5 milhões por ano e para a saúde 1,42 bilhões, investimentos proporcionalmente, muito menores que aquele realizado para as estruturas provisórias montadas para receber espaços de mídia, exposição comercial e atendimento a torcedores VIP, nas seis sedes da competição em 2013, apenas para 28 dias de Copa.

É por estas e outras, que não dá para muitos brasileiros se sentirem felizes em receber a Copa do Mundo no país. Já pensou que, por estarmos sediando este evento e recebendo os “legados” por ele deixados, quantos brasileiros morreram na fila do SUS à espera de um tratamento de saúde? Quantos estudantes de todos os níveis da Educação Brasileira deixaram de receber uma educação de qualidade, capaz de melhorar o seu desenvolvimento social e financeiro no futuro?

Entretanto, esse disparate não termina por aqui, existe ainda um lado dessa desorganização que muitos não enxergam, como, por exemplo, quantas famílias desestruturadas por falta de investimentos públicos estão passando para o lado do “mal” por dia? Quantas famílias inteiras deixando de acreditar no Estado passaram a acreditar no traficante que lhe ofereceu um pouco de conforto financeiro pelo menos para alimentar os filhos?

Esse é um problema que só se enxerga quando assiste aos jornais televisivos do país, ou quando vemos crianças de nove, dez anos empunhando armas brancas e de fogo como se fossem brinquedos, outros carregando sacolinhas plásticas cheias de papelotes de drogas, para vender nas esquinas ou diante das escolas.

Realmente, não dá para ficar feliz em receber a Copa do Mundo em um país como este. Nossos gestores deveriam ter pensado nisso antes de aceitar tal encargo. Acredito que a represália dos brasileiros vai ser terrível. O pior é que tudo isso vai refletir lá fora como uma propaganda negativa do país, mesmo com toda a maquiagem realizada nas estruturas físicas em algumas cidades. “Não adiantou tapar o sol com a peneira.”

Ana Angélica Pereira foi professora de português por 25 anos, é advogada, com endereço profissional à Av. Barão de Melgaço – Ed. Barão Center. e-mail: angelicapc10@hotmail.com

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