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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Torturado durante curso dos Bombeiros vomitou sangue e caiu em posição fetal após abusos de tenente

Foto: Reprodução

Torturado durante curso dos Bombeiros vomitou sangue e caiu em posição fetal após abusos de tenente
Depoimentos colhidos pelo Ministério Público Estadual (MP) apontam o sofrimento e a tortura pela qual o aluno do Corpo de Bombeiros, Rodrigo Patrício Lima Claro, passou no dia 10 de novembro de 2016, durante treinamento da corporação. As testemunhas relataram que a vítima foi submetida a intenso sofrimento físico e mental com uso de violência. A atitude teria sido utilizada pela tenente Isadora Ledur como forma de punição ao mau desempenho dele nas atividades dentro da água.

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Segundo o MP, depoimentos colhidos durante a investigação demonstram que a vítima foi submetida a intenso sofrimento físico e mental com uso de violência. A atitude teria sido a forma utilizada pela tenente para punir Rodrigo por ele ter apresentado mau desempenho nas atividades dentro da água.
 
Em um dos depoimentos, foi relatado que em determinado momento do treinamento a vítima estava com a cabeça baixa, reclamando de muita dor de cabeça, olhos vermelhos e vomitando água e que, mesmo assim, as atividades não foram interrompidas. Rodrigo ainda teria se jogado no chão, em posição fetal e com as pernas escolhidas, por não conseguir ficar em pé.
 
Neste momento, a tenente teria humilhado-o perante todos. “Os métodos abusivos praticados pela instrutora consistiram tanto de natureza física, por meio de caldos com afogamento, como de natureza mental utilizando ameaças de desligamento do curso com diversas ofensas e xingamentos humilhantes à vítima menoscabando sua condição de aluno”, diz um trecho da denúncia.
 
De acordo com os depoimentos colhidos durante inquérito após ter sido submetido a diversas torturas por parte da tenente Izadora Ledur, vomitando muito e apresentando fortes dores de cabeça Rodrigo foi obrigado a se deslocar sozinho, e em sua moto, até o 1º Batalhão para se apresentar ao Tenente-Coronel responsável pelo 16o CFSD, Licinio Ramalho Tavares e justificar a sua saída do treinamento.
 
Rodrigo então teria dito que não estava passando bem e por isso deixou o treinamento. “Nesse momento, verificando a peculiaridade da situação, foi designado pelo Tenente-Coronel que o Cabo Joilson Nunes da Silva acompanhasse Rodrigo até o atendimento à Policlínica do Verdão, instalada a cerca de 200 metros do prédio do 1o Batalhão de Bombeiros, trajeto esse que foi realizado a pé pela vítima e pelo Cabo”.
 
Após o primeiro atendimento, o aluno ainda estaria com fortes dores de cabeça e por mais de uma vez sofreu crise convulsiva, oriundas dos inúmeros afogamentos sofridos durante a instrução, segundo o promotor. Com a verificação da gravidade do quadro clínico da vítima, a médica que o atendeu solicitou transporte imediato de Rodrigo para um hospital, dada a sua suspeita de que ele estivesse manifestando um quadro de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e, devido às limitadas condições estruturais da Policlínica, a confirmação do diagnóstico, bem como o tratamento se tornariam inviáveis ali.
 
Já em um hospital particular de Cuiabá, Rodrigo foi submetido a uma cirurgia de emergência para tentar reverter o seu quadro clínico que foi relatado pelo neurocirurgião como grave. A partir dessa data, Rodrigo permaneceu internado em uma unidade de acompanhamento, vindo a óbito por hemorragia cerebral de causa natural no dia 15 de novembro, às 22 horas.
 
Para o MPE, o desenlace dos fatos, na ordem como ocorreram, “desvela o nexo causal das sessões de tortura sofridas por Rodrigo e sua morte. Mesmo que a conclusão pericial tenha acordado que a causa do óbito se deu por hemorragia cerebral de causa natural, é fato que o intenso sofrimento físico e mental retratado nos “caldos” produzidos por Isadora Ledur levaram a vítima ao seu extremo e ocasionaram seu falecimento, haja vista as condições saudáveis que Rodrigo se encontrava antes de iniciar as atividades naquele trágico dia, bem como os exames obrigatórios apresentados no ato de sua matrícula no CFSD, que demonstram a total aptidão do aluno para a prática das tarefas”.
 
Na denúncia, o promotor de Justiça destaca que o fato de que, conforme o próprio laudo pericial, Rodrigo não apresentava nenhuma anomalia ou doença congênita que pudesse remetê-lo a esse estado urgente de saúde, ou seja, nada, naquele momento, além da intensa sessão de tortura física e mental cometida pela tenente poderia ter desencadeado esse quadro clínico na vítima, levando-o a óbito.

Outro lado

A reportagem tentou contato com o advogado da tenente, mas as ligações não foram atendidas.

Prisão

O Ministério Público do Estado de Mato Grosso pediu a prisão da tenente Bombeiro Militar, Izadora Ledur de Souza Dechamps, por crime de tortura com resultado morte do aluno Rodrigo Patrício Lima Claro. A prisão preventiva foi pedido pela 24ª Promotoria de Justiça Criminal de Cuiabá Especializada da Defesa da Administração Pública e Ordem Tributária na tarde desta quarta-feira (19). Além dela, outros cinco militares também foram denunciados pelo mesmo crime.
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