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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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MPE, advogados, militares e imprensa agiram para travar caso grampos e destruir imagem de Perri

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

MPE, advogados, militares e imprensa agiram para travar caso grampos e destruir imagem de Perri
Fatos arrolados nesta quarta-feira (27) na representação da "Operação Esdras" pela prisão preventiva de envolvidos no caso dos grampos revelam um verdadeiro esquema criminoso para frear as investigações e  afastar o desembargador Orlando Perri do caso.
 
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As informações foram reveladas pelo Tenente Coronel da Policia Militar José Henrique Costa Soares. A suposta organização criminosa contaria com ramificações de personagens militares, advogados, políticos, membros do Ministério Público e agentes de comunicação social.
 
Conforme os autos, em depoimentos prestados por Soares nos dias 16, 18 e 22 de setembro, “descortinou-se um sórdido e inescrupuloso plano” no intuito de interferir nas investigações policiais e macular a reputação do desembargador Orlando Perri em todos os inquéritos instaurados.
 
Segundo o processo, Costa Soares foi convocado para atuar como escrivão no inquérito do caso grampos. Logo da convocação, a suposta organização criminosa teria buscado sua cooptação.
 
Após assumir a função de escrivão, Soares foi procurado pelo advogado Marciano Xavier das Neves, defensor do Coronel Lesco e do Cabo Gerson.
 
O jurista teria dito que a esposa de Lesco, identificada como Helen Christy Carvalho Dias Lesco, gostaria de estabelecer uma conversa, pois a referida esposa estaria de posse de informações que poderiam comprometer sua carreira.
 
As informações que poderiam ferir a imagem de Soares também estariam em posse de Rogers Elizandro Jarbas, secretário de segurança afastado também por envolvimento no caso dos grampos.
 
Após ser pressionado, Soares entrou em contato com Helen, marcando um encontro num posto de gasolina.
 
No referido local, foi comunicado ao escrivão do inquérito a existência de vídeos e gravações de áudios com informações sobre uma suposta dependência química por parte do militar.
 
O responsável por reunir as informações contra Soares seria Paulo Taques, ex-secretário de Casa Civil. Paulo, segundo informações do processo, atuou como advogado do militar.
 
Assim, Helen teria coagido Soares, exigindo informações de todo o ocorrido que acontecesse no curso do inquérito policial militar, bem como que o escrivão monitorasse os passos do desembargador Orlando Perri.
 
Numa primeira oportunidade, quando de uma reunião ordinária em que Orlando Perri estava presente, todas as conversas foram gravadas. Os áudios foram repassados, sob pressão, à esposa de Lesco.
 
Em um segundo momento, Soares encontrou o próprio Lesco. Foi solicitado um monitoramento audiovisual aprofundado sobre Orlando Perri. 
 
A intenção era utilizar de qualquer frase ou palavra para solicitarem a suspeição do magistrado. Um equipamento de captação de áudio e vídeo foi instalado na farda de Soares.
 
Em um terceiro momento foi apresentado pela trama criminosa a figura do major PM Michel Ferronato.
 
O militar teria prometido uma promoção de carreira a Soares desde que este representasse contra o desembargador Orlando Perri. Soares deveria denunciar que o magistrado “estava fazendo ingerências na investigação e que não estaria sendo imparcial”.
 
A suposta organização criminosa guiaria até mesmo a representação de Soares contra Perri. Um promotor de Justiça não identificado seria responsável por instruir o processo.
 
O agente oculto seria um “promotor de Justiça de confiança da organização”.
 
“E não seria qualquer membro do Ministério Público, a quem pudesse apresentar a febricitante e façanhosa assacadilha. Tratava-se, segundo o confessante, de um membro que representava um grupo do Ministério Público interessado no meu afastamento dos processos”, afirma Perri.

Finalizando a estratégia para destruir as investigações sobre os grampos, até mesmo o a imprensa seria cooptada.
 
Soares foi comunicado que um repórter o procuraria para que uma reportagem sobre os “desmandos” de Perri fosse produzida. O objetivo era influenciar a opinião público.

Ciente de todo o esquema, Perri finaliza: “Com base em tais razões, podemos afirmar, com segurança, que estão presentes a prova da materialidade e indícios suficientes de autoria em relação a vários tipos penais distintos, a saber: corrupção ativa [art. 333, CP], com pena de dois a doze anos de reclusão e multa; coação no curso do processo [art. 344, CP], que prevê a reprimenda de um a quatro anos de reclusão e multa; integrar organização criminosa [art. 2º, Lei n. 12.850/2012], com pena de três a oito anos de reclusão; embaraçar investigação de infração penal que envolva organização criminosa [art. 2º, § 2º, da Lei n. 12.850/2013], com pena de três a oito anos de reclusão; e do delito de prevaricação [art. 319, CP], cuja pena é de três meses a um ano de detenção; e de denunciação caluniosa, em sua modalidade tentada [art. 339, c.c. art. 14, inciso II, ambos do CP], com reprimenda de dois a oito anos de reclusão.  

'Esdras'

A lista de pessoas que tiveram a prisão preventiva decretada pelo desembargador Orlando Perri conta com nomes de advogados, dois coronéis e um major da Polícia Militar e também o delegado e secretário afastado, Rogers Jarbas. 

Em hebráico, Esdras significa ajudador. É um livro bíblico que conta a história de um escriba e de pessoas fiéis e diligentes que venceram a oposição e a resistência para reconstruir o templo de Deus e restaurá-lo a sua antiga glória.

Foram presos:
 
Paulo Cesar Zamar Taques

cel. pm Airton Benedito de Siqueira Júnior

Rogers Eizandro Jarbas

cel. pm. Evandro Aexandre Ferraz Lesco

sgt. pm João Ricardo Soler

major pm Michel Ferronato

Helen Christy Carvalho Dias Lesco

José Marilson da Silva

Marciano Xavier das Neves (*medidas cautelares)

Esquema dos Grampos:

Reportagem do programa "Fantástico", da Rede Globo, revelou na noite de 14 de maio que a Polícia Militar em Mato Grosso “grampeou” de maneira irregular uma lista de pessoas que não eram investigadas por crime.
 
A matéria destacou como vítimas a deputada estadual Janaína Riva (PMDB), o advogado José do Patrocínio e o jornalista José Marcondes, conhecido como Muvuca. Eles são apenas alguns dos “monitorados”.

O esquema de “arapongagem” já havia vazado na imprensa local após o início da apuração de Fantástico.
  
Barriga de aluguel

 
Os grampos foram conseguidos na modalidade “barriga de aluguel”, quando investigadores solicitam à Justiça acesso aos telefonemas de determinadas pessoas envolvidas em crimes e no meio dos nomes inserem contatos de não investigados.

Neste caso específico, as vítimas foram inseridas em uma apuração sobre tráfico de drogas.

Processo:

No caso dos grampos, já foram denunciados pelo Ministério Público três coroneis, um tenente-coronel e um Cabo da PM.
 
A denúncia refere-se apenas aos delitos previstos na Legislação Militar. Os acusados são: Zaqueu Barbosa, Evandro Lesco, Ronelson Barros, Januário Batista e Gerson Correa Junior. Com o posicionamento do Pleno, todos se tornaram réus.
 
Os cinco vão responder pelos crimes de Ação Militar Ilícita, Falsificação de Documento, Falsidade Ideológica e Prevaricação, todos previstos na Legislação Militar. Zaqueu Barbosa e Gerson Correa Junior seguem presos preventivamente.
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