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OPERAÇÃO BERERÉ

Assessor diz ao Gaeco que 'era comum' receber cheques de factoring em favor de Nininho

26 Mar 2018 - 08:04

Da Redação - Paulo Victor Fanaia Teixeira

Foto: Rogério Florentino/OlharDireto

Nininho

Nininho

Quando foi assessor na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), o empresário Tschales Franciel Tschá precisou por vezes receber valores desconhecidos em sua conta bancária, sacá-los e repassá-los ao deputado Ondanir Bortolini (“Nininho”). Foi o que revelou, em depoimento, aos promotores do Grupo de Atuação em Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Samuel Frungilo, Carlos Zarour e Carlos Marchi.

Nininho será investigado pelo Ministério Público Estadual (MPE) no âmbito da “Operação Bereré”, por suspeita de participação no esquema de fraudes a licitação, peculato, corrupção passiva e tráfico de influência no Detran-MT.

As investigações apontam “agentes públicos destinatários das vantagens indevidas que se valem de pessoas físicas e jurídicas interpostas, da emissão de cheques, de triangularizações de transferências bancárias, dentre outras práticas, para ocultar recebimento de propina, bem como a origem ilícita dos valores”.


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“Era comum receber cheques e valores em espécie de terceiros das factorings que operavam com o deputado Nininho”, resumiu o depoente, que trouxe detalhes: certa feita, para quitar empréstimos, Nininho teria dado um avião ao irmão do empresário do ramo de factorings Valdir Piran.

Tschales Franciel Tschá prestou depoimento no dia 07 de março deste ano, na sede do Gaeco. À eles, afirmou ser diretor-presidente da Concessionária Morro da Mesa S.A. em Primavera do Leste desde março de 2017. A empresa é responsável pela administração de trecho da MT 130 e que antes disso exerceu cargo comissionado de assessor parlamentar na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) por nomeação do deputado Ondanir Bortolini (“Nininho”).

Narra que em seguida atuou como secretário gera por indicação da mesa diretora da AL, na época tendo o deputado Guilherme Maluf como presidente e Nininho como 1º Secretário.

Afirma o depoente que “já recebeu e sacou recursos financeiros de sua conta pessoal atendendo a pedido do deputado Nininho, que algumas vezes o deputado precisou recorrer a factorings para atender a despesas pessoais dele e do seu gabinete de deputado Estadual e, algumas vezes, parte destes recursos passaram pela conta do interrogando e isso ocorreu apenas na sua conta do Banco do Brasil”.

Acrescenta Tschales Franciel que também operava com o irmão do empresário do ramo de factorings Valdir Piran, com a pessoa de Chico Badoti e Jurandir, da “Solução Cosméticos”, entre outros que não se recorda.

Lembra-se, porém que a utilização de factorings pelo deputado Nininho já ocorria “inclusive antes dele assumir o mandato de deputado Estadual, quando Prefeito Municipal de Itiquira, principalmente com “Kuqui” Piran, que era amigo pessoal dele”. O depoente afirma saber disto, pois também atuou com ele na prefeitura daquela cidade.

Há alguns anos, narra Tschales à Defaz, Nininho entregou uma aeronave dele “Kuqui”, irmão de Valdir Piran, para quitar empréstimos. “Era comum receber cheques e valores em espécie de terceiros das factorings que operavam com o deputado Nininho, mas poucas vezes referidos cheques transitaram na conta pessoal do interrogando”.

Sobre um cheque em especial, o depoente afirma que provavelmente foi compensado no dia 20 de fevereiro de 2014, no valor de R$ 10 mil, emitido por Claudemir Pereira dos Santos.

Conforme investiga a Defaz, Claudemir Pereira dos Santos (o “Grilo”) que seria, além de chefe de gabinete de Mauro Savi, sócio da empresa Santos Treinamento e Capacitação de Pessoal Ltda., que seria usada para lavar dinheiro obtido no esquema ilícito no Detran. Segundo os investigadores, Claudemir era encarregado de repassar dinheiro para Mauro Savi.

“Nunca tive qualquer negócio com a pessoa de Claudemir Pereira dos Santos”, afirma o depoente, que crê que “R$ 1,5 mil compensado do referido cheque e depositado na conta do interrogando provavelmente foi ressarcimento de alguma despesa paga pelo mesmo e relacionada a alguma despesa pessoal ou de algum familiar do deputado Nininho ou do gabinete dele”.

“Que os mil reais oriundos do cheque mencionado e que foi depositado na conta do deputado Nininho foi por ordem dele e possivelmente também para ressarcir de alguma despesa feita por ele”, narrou.

Sobre a pessoa de Luziele Alves da Silva, o depoente diz não conhecer. Mesmo assim, depositou na conta dela R$ 3 mil. Explica: fez “por determinação do deputado Nininho”.

Por fim, Tschales resume à Defaz. “Todas as operações relacionadas a este cheque não possuem qualquer relação com o interrogando, tendo as efetivado por determinação do deputado Nininho”.

Desembargador resume:

Sobre o depoimento, o desembargador José Zuquim Nogueira, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, destaca. O "deputado foi citado no interrogatório de Tscharles Franciel Tschá à Defaz, o qual afirmou que ocupou cargo de assessor parlamentar do deputado, também recebeu e sacou valores depositados por Claudemir Pereira em sua conta e os entregou ao parlamentar".

O outro lado:

O deputado Ondanir Bortolini (PSD), Nininho, se diz “indignado” com a decisão do desembargador do TJ José Zuquim. Salienta que mais de duzentas pessoas participaram das movimentações de cheques hoje apuradas pelo Gaeco e que o seu, especificamente, era de apenas R$ 1 mil, oriundo de movimentação legal, retirado em factoring e destinado a pagamentos de despesas comuns. O parlamentar afirma não saber que este cheque tinha ligação com a pulverização de dinheiro ilegal da esquema no Detran-MT. Acrescenta que está à disposição da justiça.

Entenda o Caso:

A Operação Bereré é um desdobramento da colaboração premiada do ex-presidente do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso (Detran-MT), Teodoro Lopes, o “Doia". Dentre as informações prestadas por Doia, consta suposto esquema de cobrança de propina com uma empresa que prestava serviços de gravame - um registro do Detran.Dentre os supostos crimes cometidos estão organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. 

Segundo o Gaeco, as investigações tiveram início na Delegacia Especializada em Crimes Contra a Administração Pública e Ordem Tributária (DEFAZ), sendo que as medidas cautelares foram requeridas pelo NACO Criminal (Núcleo de Ações de Competência Originária) do Ministério Público Estadual e estão sendo cumpridas em Cuiabá, Sorriso e Brasília-DF, pelo GAECO (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) e Polícia Judiciária Civil, com apoio da Polícia Militar, por meio do BOPE.

Durante a operação o Gaeco cumpriu mandados na Assembleia Legislativa e na casa dos deputados Mauro Savi (PSB) e Eduardo Botelho (PSB). O ex-deputado federal Pedro Henry também é um dos investigados.

No último dia 16 foram bloqueados bens de: l) Mauro Luiz Savi, 2) José Eduardo Botelho, 3) Pedro Henry Neto, 4) Marcelo da Costa e Silva, 5) Antônio , Eduardo da Costa e Silva, 6) Claudemir Pereira dos Santos, 7) Dauton Luiz Santos Vasconcellos 8) Roque Anildo Reinheimer, 9) Merison Marcos Amaro, 10) José Henrique Ferreira Gonçalves, 11) José Ferreira Gonçalves Neto, 12) Gladis Polia Reinheimer, 13) Janaina Pollà Reinhéimer, 14) Juliana Polia Reinheimer, 15) FDL Serviços de Registro Cadastro, Informatização e .Certificação de Documentos Ltda., atualmente EIG - Mercados, 16) Santos Treinaménto e Capacitação de Pessoal Ltda. e 17) União Transporte e Turismo Ltda.

Autorização 

Na semana passada, o  desembargador José Zuquim Nogueira, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, autorizou o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público de Mato Grosso a estender as investigações, no bojo da "Operação Bereré", aos deputados estaduais Wilson Santos (PSDB), Baiano Filho (PSDB), Romoaldo Júnior (MDB), José Domingos Fraga (PSD) e Ondanir Bortolini (PSD), o Nininho. O pedido do MP se deu por conta de todos eles possuírem foro privilegiado, em razão do cargo que ocupam na Assembleia Legislativa.

De acordo com o MP, as investigações apontaram que “os agentes públicos destinatários das vantagens indevidas que se valem de pessoas físicas e jurídicas interpostas, da emissão de cheques, de triangularizações de transferências bancárias, dentre outras práticas, para ocultar o recebimento de propina, bem como a origem ilícita dos valores.

Todos os parlamentares negam qualquer ato ilícito. 
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