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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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OPERAÇÃO BERERÉ

Kobori foi contratado para cessar propina e inserir ex-secretário em esquema, diz Gaeco

Foto: Reprodução

Kobori foi contratado para cessar propina e inserir ex-secretário em esquema, diz Gaeco
O Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), responsável por investigar o esquema instalado no Departamento Estadual de Trânsito (Detran/MT), identificou durante os trabalhos que o empresário Valter José Kobori, sócio da empresa JK Desenvolvimento Humano e Treinamento Gerencial, foi contratado pela EIG Mercados para cessar o pagamento de propinas através da Santos Treinamento. Depois, ele negociou o esquema com o novo governo, após reunião com o ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques.

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Conforme as investigações do Gaeco, José Ferreira Gonçalves Neto contratou Kobori tendo como uma de suas metas fazer cessar o pagamento de propinas através da Santos Treinamentos, pessoa jurídica da qual Roque Reinheimer era sócio à época, o que de fato se empenhou em conseguir.
 
Kobori, junto com o ex-secretário Paulo Cesar Zamar Taques e seu irmão, Pedro Jorge Zamar Taques, valeram-se de seu conhecimento jurídico privilegiado para criar engenhosas artimanhas para maquiar o recebimento de propina. “Ao visualizar a possibilidade de ascensão ao governo do Estado e tendo conhecimento da existência da organização criminosa e do esquema ilícito por ela operado dentro do Detran, Paulo Taques, Pedro Taques e Valter Kobori (...), não perderam tempo em tornar-se parte da organização e iniciar a solicitação e recebimento de propina em razão do cargo que, futuramente, Paulo Taques exerceria”.
 
Depois de acertar o fim do pagamento de propinas através da Santos Treinamento, Kobori – que foi contratado como Chief Executive Officer (CEO) da EIG Mercados – “foi autorizado a a negociar o pagamento de propina com o novo governo a fim de manter o contrato entre sua empresa e o Detran”. O Gaeco acrescenta que, mesmo do resultado das eleições de 2014, Kobori disse que já havia combinado com Paulo Taques o auxílio para a manutenção do contrato.
 
Kobori então sugeriu que o pagamento de propina fosse feito através do advogado de Paulo Taques. Porém, depois, José Ferreira decidiu não efetuar o pagamento da propina daquela forma, já que o empresário se colocou a disposição para ser o atravessador-dissimulador da propina, recebendo-a pessoalmente sob o título de bônus pelos serviços pessoais prestados à EIG e repassando-a para Paulo Taques.
 
O primeiro pagamento para o ex-secretário teria sido de R$ 1,4 milhão, feito em dezembro de 2014. Já em 2015, Kobori solicitou, em nome e para Paulo Taques, propina no valor de R$ 1,2 milhão. que foi pago através da EIG Mercados, em dez parcelas no ano de 2016. “O período de análise bancária compreendido do relatório da Polícia Civil alcançou as movimentações bancárias até o mês de fevereiro de 2016”, diz trecho do inquérito.

"O colaborador JOSÉ FERREIRA GONÇALVES NETO asseverou que, não obstante a assinatura do substabelecimento, decidiu não efetuar o pagamento da propina daquela forma, em razão do que JOSÉ KOBORI se dispôs a ser o atravessador-dissimulador da propina, recebendo-a pessoalmente sob o título de bônus pelos serviços pessoais prestados à EIG MERCADOS LTDA. e repassando-a para PAULO CESAR ZAMAR TAQUES, tendo restado acertado que o pagamento seria feito anualmente. Segundo o colaborador, em dezembro de 2014, ele efetuou o primeiro pagamento de propina para PAULO CESAR ZAMAR TAQUES através de uma transferência no valor de R$ 1.400.000,00 (um milhão e quatrocentos mil reais) para VALTER KOBORI".

Mercedes blindada
 
O empresário Valter José Kobori afirmou ter recebido ameaças de morte após cessar o pagamento de propinas com a Santos Treinamentos, empresa que também fazia parte do esquema. Por conta do fato, exigiu a compra de uma Mercedes blindada, já que temia ser morto pelos integrantes do grupo que a representava.
 
Em um dos interrogatórios, consta que “após cessar os pagamentos das propinas com a Santos, Kobori alegava que estava sendo ameaçado por Roque Anildo Reinheimer, tendo Kobori pedido para a empresa comprar uma Mercedes (E 250) blindada, alegação confirmada por José Henrique Ferreira Gonçalves, que afirmou que Valter Kobori lhe relatava sofrer ameaças do grupo que representava a empresa Santos Treinamentos”, diz trecho da decisão.
 
Kobori exigiu a compra do carro, pois tinha “medo de sua integridade física”. A afirmação feita em depoimento está respaldada na nota fiscal da compra do veículo mencionado, que foi juntada no inquérito.
  
Depoimento de Kobori:

Em seu depoimento ao Gaeco, que durou mais de 7h, o empresário isentou os irmãos Taques, negando ter feito pagamentos de vantagens indevidas ao ex-secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, e ao seu irmão, o advogado Pedro Zamar Taques. 

“O interrogando (José Kobori) já prestou os esclarecimentos a respeito desses fatos, reforçando que jamais houve qualquer pagamento de vantagens indevidas a pedido de Pedro Zamar Taques ou Paulo Taques”, consta do depoimento ao Gaeco obtido por MídiaNews.

O depoimento de José Ferreira Gonçalves Neto, sócio da EIG Mercados Ltda., que já confessou a existência do esquema de fraudes no Detran-MT, apontando supostos membros, foi apresentado à Kobori. Este contrariou a testemunha ao afirmar que não há esquema de propinas no governo Pedro Taques (PSDB).
 
“Que confirma também ter comentado com José Neto sobre essa amizade que mantinha com Pedro Zamar e Paulo Taques e que por isso comentou com Neto que não haveria mais cobrança de propina por parte do Estado de Mato Grosso, já que conhece a índole da família e tinha certeza dessa afirmação”.
 
Para dar convicção ao dito em relação à Mato Grosso, chegou a por em dúvida o contrato que a FDL/EIG Mercados mantém com Detran de outros Estados.   

“Que ressalta que não teria essa mesma certeza em relação aos outros contratos da FDL/EIG com outros Detran’s, do Estado de Maranhão, Alagoas e Piauí; Que acredita que os contratos dos Detran’s desses Estados não tinham sido renovados, pelo simples fato de ter implementado compliance e não ter recebido os representantes desses Estados”, finalizou.

Operação Bônus
 
O ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques e o deputado estadual, Mauro Savi (DEM), foram presos em uma ação conjunta do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) e do Núcleo de Ações de Competência Originária (Naco), na segunda fase da 'Operação Bereré', deflagrada na manhã desta quarta-feira (09). Além deles, outras quatro pessoas também tiveram mandados de prisão.
 
A segunda fase da 'Operação Bereré' foi batizada de 'Bônus'. Foram expedidos, pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso, seis mandados de prisão preventiva e cinco de busca e apreensão em Cuiabá, São Paulo (SP) e Brasília (DF). As ordens partiram do desembargador José Zuquim Nogueira.
 
A 'Operação Bônus' é resultado da análise dos documentos apreendidos na primeira fase da Bereré, dos depoimentos prestados no inquérito policial e colaborações premiadas. Tem como objetivo desmantelar organização criminosa instalada dentro do Detran para desvio de recursos públicos.
 
Bereré
 
A ‘Bereré’ é desdobramento da colaboração premiada do ex-presidente do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso (Detran-MT), Teodoro Lopes, o “Doia". Dentre as informações prestadas por Doia, consta suposto esquema de cobrança de propina com uma empresa que prestava serviços de gravame - um registro do Detran.
 
Na primeira fase, os mandados foram cumpridos na Assembleia Legislativa de Mato Grosso e na casa de Savi e Eduardo Botelho (DEM). O ex-deputado federal Pedro Henry é alvo também. O presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Eduardo Botelho (DEM), é outro investigado.
 
O governador Pedro Taques (PSDB) decretou a intervenção do Estado no contrato que o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) havia firmado com a EIG Mercados para registro dos contratos de financiamento de veículos com cláusula de alienação fiduciária, de arrendamento mercantil, de compra e venda com reserva de domínio ou de penhor no Estado. A empresa foi alvo da ‘Operação Bereré’ e é apontada como pivô do esquema que teria desviado R$ 27,7 milhões.
 
Confira abaixo os alvos da ‘Operação Bônus’:
 
Mauro Savi (deputado estadual)
Paulo César Zamar Taques (ex-chefe da Casa Civil)
Roque Anildo Reinheimer
Claudemir Pereira dos Santos, vulgo “Grilo”
Valter José Kobori (empresário)
Pedro Jorge Zamar Taques (advogado)
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