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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Mortes de pacientes

Juiz compara crimes de 'organização criminosa da saúde' ao Comando Vermelho

Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto

Juiz compara crimes de 'organização criminosa da saúde' ao Comando Vermelho
O juiz Marcos Faleiros, da Sétima Vara Criminal de Cuiabá, apontou em sua decisão - que colocou o ex-secretário de Saúde de Cuiabá, Huark Douglas Correia e outras sete pessoas na prisão - que a organização criminosa integrada pelos alvos da 'Operação Sangria' cometeram crimes mais graves que os do Comando Vermelho (CV). Segundo ele, diversas mortes de pacientes que estavam em filas de espera podem ter sido causadas por conta da atuação do grupo.

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"Por fim, da análise dos elementos informativos constantes nos autos do Ip. n. 119/2018, registro que de todos os processos que trabalhei, esses são os fatos concretamente mais graves, talvez, até mais graves que atuação dos membros da facção Comando Vermelho (Operação Red Money), porque envolvem esquema de corrupção, fraude a licitação em prestação de serviços da saúde pública (UTIs e Clínica médica) e lavagem de dinheiro, gerando a morte de pessoas que estão na fila de espera para realização de cirurgia de alta complexidade (Cardíaca, Neurológica)", diz trecho da decisão.

Faleiros ainda acrescenta que com a monopolização dos serviços, feita pelas empresas investigadas, os pacientes não conseguem o atendimento necessário, já que os responsáveis estavam "fazendo de conta que estão ofertando serviço de qualidade, quando na realidade estão esgotando o dinheiro público em detrimento dos interesses particulares".

"Existem robustos indícios de que a ação desta Orcrim está a gerar um colapso no sistema de Saúde do Estado de Mato Grosso e, por consequência, ocasionando um número considerável de mortes de cidadãos que necessitam do pronto atendimento médico e se submetem ao sistema burocrático controlado pela associação criminosa que são beneficiados pelo monopólio dos serviços médicos e impedindo o credenciamento de outros profissionais que não fazem parte do grupo", aponta outro trecho da decisão.

Em um dos depoimentos, um médico cardiologista, que é proprietário de uma empresa,afirmou que apesar de ter sagrado vencedor para prestação serviços de cirurgias cardíacas no Hospital São Benedito, ainda não foi chamado para firmar o contrato e iniciar a prestação de serviço, cujo objeto do contrato é a realização de 30 cirurgias cardíacas mês, 17 marca passos e 150 consultas. 

A testemunha ainda acrescentou que apesar de inúmeras conversas com o ex-secretário de Saúde (gestão Silval Barbosa), Jorge Lafetá, que era diretor geral da Sociedade Cuiabana de Saúde Pública à época e com o ex-secretário de Saúde de Cuiabá, Huark Douglas, que era diretor técnico na ocasião, não obteve respostas.

Isso porque a contratação contraria "os  interesses do grupo, já que a fila de espera no SUS, proporciona o atendimento dos pacientes nos Hospitais Amecor e HGU, que pertencem ao grupo Proclin que são credenciados para a realização de cirurgias cardiológicas em alta complexidade pelo SUS no Estado de Mato Grosso".

Sangria 2

Até agora, já foram cumpridos mandados contra: Huark Douglas Correia da Costa, Fábio Liberali Weissheimer, Adriano Luiz Sousa, Kedna Iracema Fonteneli Servo, Celita Liberali, Luciano Correa Ribeiro e Fábio Alex Taques Figueiredo. Todos foram encaminhados para a sede da Delegacia Fazendária.

Segundo a apuração, a organização mantém influência dentro da administração pública, no sentido de desclassificar concorrentes, para que ao final apenas empresas pertencente a eles (Proclin/Qualycare) possam atuar livremente no mercado, “fazendo o que bem entender, sem serem incomodados, em total prejuízo a população mais carente que depende da saúde pública para sobreviver”.

A investigação demonstra que a organização criminosa, chefiada por médicos, estão deteriorando a saúde pública de Cuiabá e do Estado de Mato Grosso. Levantamento feito pela Central de Regulação de Cuiabá, em 2017, aponta que 1.046 pessoas aguardavam por uma cirurgia cardíaca de urgência e outras 390 por um procedimento cardíaco eletivo.

A operação, oriunda de investigação da Delegacia Especializada de Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (Defaz), é desdobramento do cumprimento de onze mandados de busca e apreensão, expedidos pela 7ª Vara Criminal de Cuiabá, ocorridos no dia 4 de dezembro, para apurar irregularidades em licitações e contratos firmados com as empresas Proclin (Sociedade Mato-Grossense de Assistência Médica em Medicina Interna), Qualycare (Serviços de Saúde e Atendimento Domiciliar LTDA) e a Prox Participações, firmados com o município de Cuiabá e o Estado.

Nome da Operação

O nome da operação “Sangria” é alusivo a uma modalidade de tratamento médico que estabelece a retirada de sangue do paciente como tratamento de doenças, que pode ser de diversas maneiras, incluindo o corte de extremidades, o uso de sanguessugas ou a flebotomia.

Red Money
 
A investigação da operação “Red Money” apura grande esquema de lavagem de dinheiro e movimentação financeira por parte de uma facção criminosa, com a utilização de empresas de fachadas, contas bancárias de terceiros, parentes de presos, entre outros.
 
A apuração, que deu origem a primeira fase da operação, foi desenvolvida ao longo de 15 meses e resultou, na ocasião, no cumprimento de 94 mandados de prisão, buscas e apreensão, bloqueio de 80 contas correntes, além do sequestro de bens (veículos, joias, imóveis) e valores, totalizando 233 ordens judiciais cumpridas naquela etapa. 
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