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CORRUPÇÃO

A corrupção não vai acabar em Mato Grosso, “mas diminuir, com certeza”, garante juíza Selma

09 Dez 2015 - 08:45

Da Redação - Paulo Victor Fanaia Teixeira

Foto: Paulo Victor Fanaia Teixeira

Juíza sendo recepcionada pela Maçonaria, na capital.

Juíza sendo recepcionada pela Maçonaria, na capital.

Dos desvios milionários das companhias ao dinheiro do cafézinho nas rodovias, da propina nas prefeituras ao mensalinho nas secretarias. Lamentavelmente, se existe uma coisa que não faltou nas capas de Olhar Direto e Jurídico este ano, foi o tema corrupção. Questão que já é encarada, inclusive, como o maior problema do Brasil, aponta a pesquisa Datafolha de novembro deste ano. Se por um lado, há quem rouba, por outro, há iniciativas que visam seu combate. Data pouco conhecida, hoje (9), por exemplo, se comemora o “Dia Internacional Contra a Corrupção”. A data relembra a assinatura do texto produzido pela Convenção das Nações Unidas que reuniu 110 representantes de países, incluindo o Brasil, no México, em 2003. O texto foi aprovado pelo Congresso Nacional em 2006 e desde então celebramos a data. Mas muito pouco temos feito para fazê-la valer. Afinal de contas, porque somos tão corruptos? É possível acabar com a corrupção?

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A expectativa é de um 2016 que já nasce morto: Processo de impeachment, eleições municipais e Olimpíadas no fim do ano, tudo isso acompanhado por uma economia em recessão e unido aos diversos conflitos que provavelmente teremos no ano que vem, a exemplo dos estudantes em São Paulo com a Polícia Militar do governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). Em meio a essa gritante balburdia, a corrupção continuará silenciosamente a infectar gabinetes, secretarias e prefeituras Brasil afora, e o Mato Grosso não é excessão.

Se é possível acabar com a corrupção, não sabemos, mas a juíza da Vara Especializada Contra o Crime Organizado de Cuiabá, Selma Rosane Santos Arruda, pode nos dar pistas. De cara, ela já adianta: acabar, não, mas diminuir, certamente. Mas o que falta para a corrupção chegar a zero, pelo menos em nosso Estado?

Condições de trabalho

A juíza denuncia o primeiro ponto: as condições de trabalho. De acordo com ela, se as instituições não se fortalecerem, as investigações estarão sempre atrasadas. Ela explica: “Muitas vezes a gente não consegue fazer tudo que planeja, pois as condições de trabalho são muito pequenas. Não digo só em Mato Grosso, mas em qualquer lugar. Se você comparar com a condição da criminalidade. Nós temos uma criminalidade rica e ágil, que se apodera muito rapidamente da tecnologia e nós temos um Estado grande, pesado, nada ágil e muitas vezes burocrático”. E em que isso implica?

O uso da tecnologia


Ela explica: “Até nós conseguirmos nos apoderar de alguma tecnologia para perseguir determinado crime, você já ficou muito tempo para trás. Exemplo: um crime de lavagem de dinheiro. A pessoa pode, usando um smartphone, fazer um envio de dinheiro em segundos. Até o Estado descobrir, levantar, e saber onde foi, são anos! Então é muito destoante. As velocidades são muitos diferentes. Então, às vezes a gente se entrava, o trabalho fica entravado por conta disso”.

Mato Grosso na mídia

Constatando que somos destaque nacional por conta da corrupção, perguntamos se Mato Grosso é um Estado mais corrupto que os demais, ela explica: “Nós temos em todo Brasil situações às vezes até mais graves do que a que temos aqui. Esse tema está mundialmente em pauta, hoje. O mundo todo está se preocupando com a corrupção, porque ela tem demonstrado ser um dos fatores que atravancam o desenvolvimento mundial, o desenvolvimento das economias dos países. Em razão disto, estamos vivendo este momento, no mundo, consequentemente no Brasil e em Mato Grosso, de trazer a debate esse assunto e trazer às claras o que, na verdade, acontece às escondidas”.

Como assim, “às escondidas”? Ela explica: “A corrupção é um crime muito silencioso, muito 'por baixo dos panos'. Então, quando você consegue trazer alguma coisa à tona, geralmente você consegue trazê-la em forma de escândalo. Claro, porque envolvem milhões, envolve muito dinheiro. Você não vai ver em nenhuma reportagem em Mato Grosso, no Paraná ou no Sergipe, que trate de alguma corrupção de cinquenta reais, de cem reais, pra um funcionário público liberar qualquer coisinha em uma pequena repartição. Os que saem na mídia são escândalos. Agora, óbvio, Mato Grosso é um estado muito rico, então temos aqui, também, esse ingrediente para que a corrupção aconteça, e acontecem em níveis que merecem repercussão nacional”.

O fim desse mal


Para quem tem esperanças de que a corrupção um dia acabe, pode levar um balde de água fria. A juíza acredita que esse fenômeno não irá acabar nem no Mato Grosso, nem no Brasil, nem no mundo. Ela explica por que: “Nem nos países considerados pela Transparência Internacional como os países com menos corrupção no mundo, há corrupção zero. De um ranking que vai de zero a dez, você tem índices de transparência de no máximo 9.2, 9.5, 9.6. Portanto, acabar com a corrupção é um sonho que talvez a gente não vá realizar, mas diminuir, com certeza!”.


Quem é ela Selma Arruda?

Para quem ainda não a conhece, a juíza Selma foi quem determinou a prisão preventiva do ex-governador do Estado (2010-2014), Silval Barbosa (PMDB), acusado de lavagem de dinheiro e concessão de incentivos fiscais durante seu mandato. Junto com ele foram presos preventivamente seus secretários Pedro Nadaf e Marcel de Cursi. A a juíza determinou ainda a prisão preventiva da esposa do ex-governador, Roseli Barbosa, por suspeitas de desvio milionário. Além disso, botou atrás das grades três vezes neste ano o ex-deputado estadual, José Geraldo Riva e seus secretários, em decorrência de investigações de desvios milionários da Assembléia Legislativa.
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