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A sangue frio

Homem que esfaqueou e carbonizou jovem em forno de pizzaria é condenado a 17 anos de prisão

19 Nov 2015 - 22:12

Da Reportagem Local - Paulo Victor Fanaia / Da Redação - Túlio Paniago

Foto: Foto: Paulo Victor Fanaia

Homem que esfaqueou e carbonizou jovem em forno de pizzaria é condenado a 17 anos de prisão
Foi um julgamento frio. Frio tal como o modo com que Weber Melquis Venande de Oliveira, de 26 anos, assassinou a jovem Katsue Stefane Santos Vieira, de 23. A facadas e carbonizando seu corpo na pizzaria onde o réu trabalhava. Um assassinato frio e rápido. Rápido como a decisão do juri: Culpado. E a sentença da Presidente do Tribunal do juri,  Mônica Catarina Perri Siqueira: 17 anos de prisão por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Assim chega ao fim nesta quinta-feira (19), no Fórum de Cuiabá, depois de mais de 8 horas de julgamento, o júri popular que decidiu o destino do pizzaiolo que promoveu um dos casos mais bárbaros de violência da história de Cuiabá. “Quando a vi senti uma vontade imensa de matar”, confessa.

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A narrativa do crime na versão do réu:

Hoje, Weber manteve-se de cabeça baixa durante todo o julgamento. Em seu depoimento, relatou detalhes sobre o fatídico dia. Ele conta que seus pais estavam em Barra do Bugres, e que ele estava designado a fechar a pizzaria Fornalha onde trabalhava. Fechou às 11:30hr. Como era usuário de cocaína e bebidas, teria adquirido R$ 50,00 em cocaína. Após o uso, foi para uma casa noturna da região, onde a vítima estava acompanhada de sete amigas, supostamente fazendo programa. Nesse momento, Weber teria tido contato com Katsue. E desde o primeiro momento, confessa. "Deu uma vontade imensa de matá-la".

Pela madrugada, acaba a droga e ambos saem para comprar mais, e retornam para a boate. Quase amanhecendo, as drogas e o dinheiro chegam ao fim. Weber avisa Katsue que irá para a pizzaria pegar mais dinheiro. “Ela quis ir comigo”, argumenta o réu. E afirma. “Era umas 5:40hr, fomos pegar dinheiro para comprar mais drogas”. Os dois teriam usado a droga comprada dentro da pizzaria, afirma o réu. E então... “aconteceu o fato”, conclui. Weber teria desferido três ataques com faca, sendo um no pescoço. O que teria feito a jovem se ferir, manchando de sangue toda a cozinha do restaurante.

A cada detalhe perguntado pelo corpo de julgamento, a resposta era a mesma: “Não me lembro” ou “Não posso dizer”. Mas, “provavelmente ela morreu no primeiro golpe”, opina. Então, Weber confessa o detalhe que tornou o crime ainda mais chocante. “Abri a boca do forno e peguei ela”. Ele teria empurrado o corpo com uma pá, a mesma que teria, posteriormente, usado para por lenha na fornalha. Ele parece se emocionar. “Quando vi a situação, fiquei doido”. Mas logo demonstra frieza. “Joguei um balde de água e fui embora para casa”, conclui sua narrativa.

Seu pai, Francisco Gonçalves de Oliveira, quando retornou a casa, encontrou Weber dormindo. O jovem teria ainda visitado a pizzaria na companhia do pai, depois queimado as roupas usadas no crime. “Só me dei conta do que fiz depois de três dias”, avalia Weber.

O Promotor do Ministério Público Estadual, Vinícius Gahyva, que atua na ação olha para o réu e pergunta. “Quem vai enxugar a lágrima daquela mãe?”, se referindo a mãe de Katsue. Nesse momento, o Fórum se silencia.

O crime aconteceu em 3 de fevereiro de 2012. Desde então, o réu confesso foi mantido em cárcere no Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC).

A mãe da vítima:

"Hoje está sendo julgado o assassino da sua filha", dispara o promotor diante de Maria Eunice dos Santos, mãe da vítima. No julgamento, visivelmente emocionada, ela chegou a interromper sua fala, pois o choro dificultava seu relato.

Ela afirmou que, apesar de quase quatro anos terem se passado, ainda não teve condições de enterrar as cinzas da filha, que ainda se encontram no Instituto Médico Legal (IML). Desde o ocorrido, faz tratamento psiquiátrico e só dorme com ajuda de remédios. “Minha vida acabou”, afirma.

Sobre a sentença, Maria Eunice foi dura. Não falou sobre perdão e é categórica em afirmar. "Espero que ele pegue muitos anos de cadeia e pague pelo que fez com minha filha", conclui.

Entrevista com o Promotor:

Durante o intervalo do julgamento, o Olhar Jurídico conseguiu uma conversa exclusiva com o Promotor do MP, Vinícius Gahyva.

É possível perceber alguma frieza por parte do réu?

“O réu não manifesta nenhum arrependimento com relação ao fato em si. O arrependimento que ele trás é como consequência durante todo o processo e as consequências pra família dele e pra ele próprio da prática do crime. Ele já tem antecedente, já se envolveu em prática de roubo, crime praticado mediante violência ou grave ameaça. E sorte que ele se enquadra dentro de um perfil de absolutamente normalidade de delinquentes que efetivamente são vocacionados a praticas delituosas e que não conseguem acionar por conta própria os freios inibitórios [...] Disse ele [o réu] hoje que teve a intenção de matar a vítima assim que a encontrou em um ambiente coletivo”.

E com relação às penas?

“A imputação do MP e a pronuncia é pela pratica de crime triplamente qualidado. São três qualificadores. Eventualmente esses qualificadores serão quesitados e submetidos aos jurados. Uma vez reconhecendo um, dois ou três, a dosagem da pena seja feita pela juíza presidente, de acordo com aquilo que os jurados decidirem”.

A sentença:

O corpo de juri, formado por seis membros, decidiu pela culpa do réu. A juíza expediu a decisão pela pena de 17 anos de prisão em regime fechado por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Um assassinato frio para uma sentença morna: A pena frustra às expectativas de quem defendia que o assassino deveria ser penalizado com, no mínimo, 30 anos de prisão. Assim, dá-se fim a este bárbaro episódio que entra para a histórica da justiça mato-grossense. 

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