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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Crise no Pomeri

“Quero sair o quanto antes”, desabafa juíza após críticas por conceder cigarros a infratores no Pomeri

Foto: Reprodução

“Quero sair o quanto antes”, desabafa juíza após críticas por conceder cigarros a infratores no Pomeri
A juíza de direito Gleide Bispo Santos desabafou ao Olhar Jurídico e revelou que se cansou de atuar na 2ª Vara Especializada da Infância e Juventude de Capital. O pedido de afastamento da magistrada já está nas mãos do presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, o desembargador Orlando Perri, que é quem breve decidir se acata ou não a solicitação.

A magistrada “jogou a toalha” depois de ter recebido duras críticas do Sindicato dos Agentes do Sistema Socioeducativo de Cuiabá. O estopim para sua saída aconteceu depois de a magistrada ter liberado a entrada de cigarros dentro do Centro Socioeducativo de Cuiabá, o complexo do Pomeri, no dia 7 de abril, durante um motim.

Atuando como titular da 1ª Vara Especializada da Infância e Juventude de Cuiabá, desde 2012, a Gleide Bispo acumula também a 2ª Vara Especializada da Infância e Juventude da Capital, que delibera sobre o Pomeri.  Durante toda sua fala, a magistrada demonstrou fadiga depois de ter “brigado” por melhorias no sistema socioeducativo de Cuiabá durante os dois anos que esteve a frente da 2ª Vara.

Gleide Bispo se orgulha ao dizer que conseguiu fazer um trabalho assistencial com os adolescentes infratores e fez com que a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos voltasse a olhar para o socioeducativo. “Fiz uma mudança cultural”, avalia a juíza.

Para Gleide, o Centro de Socioeducativo de Cuiabá precisa ter um olhar diferenciado. Por esta razão, desde que assumiu a 2ª Vara se empenhou em conversar diretamente com os adolescentes que estavam reclusos na unidade. “Toda a semana eu estava lá e escutava um por um (menores)”, lembra.

Gleide defende que 80% dos jovens que ali estão são passiveis de ressocialização. “São seres humanos o que falta é organização e estrutura para serem melhores”, afirma a magistrada ao citar os projetos implantados no Pomeri nesses dois anos.

Administração

Dentre os feitos está à demolição da ‘parte podre’ do complexo. A ala foi demolida no início desde ano e a unidade passará por reforma de melhoria em sua infraestrutura. Apesar da conquista, a juíza lamenta não poder mais continuar. Segundo ela, a parceria que tinha com Secretaria acabou depois de constantes críticas feitas em suas últimas decisões. “Até agora éramos parceiros no sistema, mas não foi possível continuar com os ataques. É um desgaste emocional e psicológico muito grande”, desabafa.

A magistrada também comemora ter conseguido transmitir aos adolescentes seus direitos adquiridos. Segundo ela, essa conscientização fez com que os jovens não aceitassem mais abusos e passaram a denunciar os casos ocorridos dentro da unidade.

Um exemplo de delação seria o próprio motim planejado por adolescente da ala seis do complexo. “O motim era para chamar a atenção, porque eles alegavam terem ficado sem água e sem comida”, cita.

As melhorias descritas pela juíza também atingiu diretamente os próprios socioeducadores do Pomeri. Apesar das ferrenhas críticas feitas pelo sindicado da categoria, a reestruturação do complexo trouxe melhor qualidade de vida no trabalho para os agentes.

Um dos questionamentos que ficou sem resposta para a Gleide Bispo foi o incomodo que gerou no sistema por causa de sua afeição com os jovens. “Lá existem menores com 12, 13 14 anos e eu tenho um carinho muito grande por eles e isso não sei por que incomoda”, declara.

A magistrada aproveita sua experiência frente ao sistema socioeducativo para deixar um aviso à sociedade. “A maioria da população critica, mas é preciso ter um olhar mais amoroso com eles, até porque se diminuir-mos o número de infratores reduziremos também o do sistema carcerário”, justifica.

Conflitos

Antes mesmo de o ‘falso motim’ ter sido confirmado por um dos adolescentes, o relacionamento entre a juíza de direito Gleide Bispo e agentes estava ‘arranhado’. O estopim do desentendimento ocorreu depois de a magistrada ter permitido a entrada de cigarros na ala 6 da unidade – onde acontecia o tumulto – como parte do acordo para o fim da confusão e libertação de um ‘refém’.

O Sindicato dos Agentes do Sistema Socioeducativo de Cuiabá foi firme ao se posicionar contra a atitude da juíza e fez duras críticas sobre a interferência da mesma na gerência da unidade. “Ela [magistrada] sempre interfere e às vezes ela ultrapassa a competência dela, pois, esse tipo atitude ela pode passar na frente de todos”, acusou Paulo César de Souza, presidente do sindicato.

Paulo também declarou a reportagem do Olhar Direto que na próxima semana buscará a corregedoria e órgãos competentes para solicitar a saída da magistrada da 2ª Vara Especializada da Infância e Juventude de Cuiabá.
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