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ENTREVISTA EXCLUSIVA

Responsável pelas prisões de Riva e Silval, juíza Selma afirma não temer represália; confira entrevista

29 Nov 2015 - 16:18

Da Reportagem Local - Paulo Victor Fanaia Teixeira

Foto: Paulo Victor Fanaia Teixeira / Olhar Direto

Responsável pelas prisões de Riva e Silval, juíza Selma afirma não temer represália; confira entrevista
Magistrada da Vara Especializada Contra o Crime Organizado de Cuiabá e responsável pelas prisões de "figurões" como o ex-governador do Estado, Silval Barbosa, e o ex-deputado estadual, José Geraldo Riva, a Juíza Selma Rosane Santos Arruda foi recepcionada em uma Loja Maçônica da capital, a convite de seus membros, na noite desta terça-feira (24), para tratar do tema corrupção. Em entrevista exclusiva ao Olhar Jurídico, a juíza explanou sobre as dificuldades enfrentadas no combate aos corruptos, expectativas para Mato Grosso e sobre ameaças de represálias, das quais afirma não temer.

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Escoltada por viaturas da Polícia Civil, a juíza foi recebida pela Loja Maçônica Filhos de Salomão, n.1, Jurisdicionada à Grande Loja do Estado de Mato Grosso. Enquanto aguardava a solenidade, conversou com nomes expressivos da associação e gentilmente concedeu a entrevista que você confere abaixo:

Juíza Selma Arruda, qual o sentido de sua visita à maçonaria esta noite?

“Muito me honra estar aqui na Loja. Fui convidada pelo Desembargador Paulo da Cunha, Presidente do Tribunal de Justiça e pela Desembargadora Maria Erotides, que estenderam o convite dos senhores maçons, para que eu comparecesse aqui oferecendo algumas palavras sobre o tema que está em voga hoje em dia, que é a corrupção”.

Sempre que a mídia nacional cita Mato Grosso, geralmente o assunto é esse. Porque a corrupção é um tema tão recorrente? Nós vivemos em um Estado corrupto?

“Nós temos em todo Brasil situações às vezes até mais graves do que a que temos aqui. Esse tema está mundialmente em pauta, hoje. O mundo todo está se preocupando com a corrupção, porque ela tem demonstrado ser um dos fatores que atravancam o desenvolvimento mundial, o desenvolvimento das economias dos países. Em razão disto, estamos vivendo este momento, no mundo, consequentemente no Brasil e em Mato Grosso, de trazer a debate esse assunto e trazer às claras o que, na verdade, acontece às escondidas. A corrupção é um crime que acontece às escondidas. É um crime muito silencioso, muito 'por baixo dos panos'. Então, quando você consegue trazer alguma coisa à tona, geralmente você consegue trazê-la em forma de escândalo. Claro, porque envolvem milhões, envolve muito dinheiro. Você não vai ver em nenhuma reportagem em Mato Grosso, no Paraná ou no Sergipe, que trate de alguma corrupção de cinqüenta reais, de cem reais, pra um funcionário público liberar qualquer coisinha em uma pequena repartição. Os que saem na mídia são escândalos. Agora, óbvio, Mato Grosso é um estado muito rico, então temos aqui, também, esse ingrediente para que a corrupção aconteça, e acontecem em níveis que merecem repercussão nacional”.

A senhora goza de muito prestígio na sociedade. É tida, por populares, como um ídolo. Alguns a chamam, inclusive, de "xerife do Estado". A senhora aceita essa alcunha?

“Não, de forma alguma. Na verdade, eu sou a única juíza que tem competência para processar este tipo de caso na capital. Como a sede do governo fica aqui, como a sede do legislativo estadual fica aqui, ou seja, como todas as atenções políticas acabam se centrando na capital, é óbvio que a minha Vara fica com essa visibilidade. Mas eu tenho certeza que qualquer colega no meu lugar estaria fazendo o meu trabalho, estaria fazendo as coisas da mesma forma. É apenas uma questão de conjuntura”.

Em que pese o dito prestígio. A senhora teme represálias por conta de suas duras decisões?

“Eu não temo. Não temo nenhum tipo de represália. Até porque, o que se fizer contra um magistrado, vai estar se fazendo contra toda a magistratura. Como lhe disse, se amanhã eu tiver que sair por algum motivo, seja por aposentaria ou por algum outro motivo desses que você tocou, certamente virá outro tão ou mais rigoroso do que eu. Portanto, não vejo risco”.

O que a sociedade mato-grossense pode esperar da Juíza Selma Arruda?


“Com certeza pode esperar que eu cumpra o meu dever da melhor forma possível. Muitas vezes a gente não consegue fazer tudo que planeja, pois as condições de trabalho são muito pequenas. Não digo só em Mato Grosso, mas em qualquer lugar. Se você comparar com a condição da criminalidade. Nós temos uma criminalidade rica e ágil, que se apodera muito rapidamente da tecnologia e nós temos um Estado grande, pesado, nada ágil e muitas vezes burocrático. Até nós conseguirmos nos apoderar de alguma tecnologia para perseguir determinado crime, você já ficou muito tempo para trás. Exemplo: um crime de lavagem de dinheiro. A pessoa pode, usando um smartphone, fazer um envio de dinheiro em segundos. Até o Estado descobrir, levantar, e saber onde foi, são anos! Então é muito destoante. As velocidades são muitos diferentes. Então, às vezes a gente se entrava, o trabalho fica entravado por conta disso. Mas, saibam que aquilo que eu estiver fazendo será sempre o melhor que eu conseguir”.

É possível acreditar que um dia a corrupção acabe no Mato Grosso?

“Olha, nem nos países considerados pela Transparência Internacional como os países com menos corrupção no mundo, há corrupção zero. De um ranking que vai de zero a dez, você tem índices de transparência de no máximo 9.2, 9.5, 9.6. Portanto, acabar com a corrupção é um sonho que talvez a gente não vá realizar, mas diminuir, com certeza!”.

Repercussão:


Ao final da Sessão, o Venerável da Loja Maçônica, Eronides Antônio Mendes, comenta a visita da juíza. “Avalio da melhor maneira possível. Foi uma noite muito boa. A palestra proferida pela juíza Selma Arruda nos esclarece sobre esse importante tema em nossa sociedade, que é a corrupção. Ficamos muito agradecidos pela sua presença”, e aproveita para reforçar a homenagem, “o papel dela é importantíssimo para sociedade mato-grossense, ela serve de exemplo para todos que lutam pela virtude e pela honestidade”. Ao fim, ele reflete... “Graças a Deus ainda existem pessoas como ela, que trabalham pela decência, viu?”.

Quem é ela?

A juíza Selma Arruda é reconhecida por decretar prisões preventivas de diversos nomes investigados por envolvimento com corrupção no Estado. Alguns deles, "figurões" como o ex-governador do Estado, Silval Barbosa e seus ex-secretários Marcel de Cursi e Pedro Nadaf, em setembro deste ano, em decorrência da “Operação Sodoma”. Além de Silval, a juíza também determinou, em agosto deste ano, a prisão preventiva de sua esposa, Roseli Barbosa, em decorrência da “Operação Ouro de Tolo”, ramificação da “Operação Arqueiro”.

Além dos citados nomes, a juíza ainda determinou a prisão do ex-deputado José Geraldo Riva três vezes neste ano. A primeira delas em fevereiro, em conseqüência da “Operação Imperador”. A segunda em julho, em conseqüência da "Operação Ventríloquo", e em outubro decretou não só a prisão de Riva pela terceira vez, mas como de seus servidores e ex-secretários, em decorrência da “Operação Metástase”.
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