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Notícias / Criminal

Promotor vive escoltado e mantém família a 2 mil Km; "se algo acontecer, é sinal que o Estado perdeu a guerra"

Da Redação - Arthur Santos da Silva

Willian Oguido Ogama, 32 anos, sempre sonhou em desempenhar um papel relevante na sociedade. Com o esforço necessário, logo conseguiu. Formado em Direito na Universidade Estadual do Paraná, em Londrina, tomou posso no começo de 2016 como promotor do Ministério Público de Mato Grosso. O que Willian nunca sonhou é que, para cumprir sua função jurisdicional, defendendo a democracia, a própria vida exista sob ameaça.
 
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O membro do órgão ministerial atua como promotor substituto na cidade de Colniza (1065 km de Cuiabá). Em 2017, o município serviu como tablado para dois crimes brutais. No dia 17 de abril, cinco pessoas assassinaram cruelmente 9 trabalhadores rurais na Gleba Taquaruçu do Norte, zona rural. O caso, ainda em julgamento, resta nacionalmente conhecido como a Chacina de Colniza.
 
Oguido foi o responsável por formular o processo da chacina. O promotor encarou o risco de ser fiel às investigações.
 
“Para mim, como servidor público, membro de instituição como o MPMT, que garante a segurança institucional, fico com segurança permanente, apesar de que a nossa privacidade fica restringida. Tenho um filho de apenas 4 meses e a esposa e, justamente por questão de segurança, ficarão longe de mim, quase 2.500km de distância, em tempo indeterminado”, explica .
 
Em Colniza, ainda em 2017, o prefeito Esvandir Antonio Mendes, conhecido como Vando, foi morto a tiros no final da tarde do dia 15 de dezembro. A cidade, que possui aproximadamente 34 mil habitantes, entre zona urbana e rural, parece formar uma estufa de selvageria.
 
“Para a população de Colniza, ela não é uma cidade violenta, porém impera a lei do silêncio, o que dificulta a elucidação de alguns crimes. Colniza não é uma cidade com altos índices de crimes praticados mediante violência (roubos, extorsão). A maioria dos homicídios ocorriam no campo (zona rural). Muitos crimes não são registrados, porque fazem parte da cifra negra, ocorrendo a quilômetros de distância da zona urbana, havendo dificuldade de obtenção de informações. Infelizmente, em 2017, a violência do campo chegou na cidade”, afirma o membro do órgão ministerial.
 
Os mais de 1000 quilômetros de distância da capital, percorridos, caso desejado, num tempo que leva em média dois dias, contribuem para o estado crítico. Falta de segurança numa cidade com ampla extensão territorial (quase do tamanho do Alagoas).
 
“O ‘Estado’ só vem quando ocorre alguma tragédia. Agentes políticos pousam de avião, não ficam mais de um dia e retornam, sem vivenciarem a realidade local (estradas com atoleiros, quedas constantes de energia, falta de água). Vendem promessas à população e as dificuldades continuam”.
 
Após os crimes de 2017, segundo o Secretário de Segurança Pública, Gustavo Garcia, seriam encaminhadas equipes da Segurança Pública, para permanecer no município, além do apoio às vítimas e testemunhas. Não existe posicionamento oficial sobre o efetivo cumprimento da promessa.
 
“Antes de temer por mim, represento uma instituição respeitada, nesse Município, que é a esperança de vida para os colnizenses, uma vez que é o papel do Ministério Público buscar garantir a segurança pública efetiva, além de inúmeros direitos à população, como saúde, educação, todos expressamente assegurados. Sinto, muitas vezes, impotente, mas falta de esforço não é e com certeza se algo acontecer comigo é sinal que o Estado definitivamente perdeu a guerra contra o crime”, finalizou o promotor.

A chacina

Valdelir João de Souza, Pedro Ramos Nogueira, Paulo Ramos Nogueira, Ronaldo Dalmoneck  e Moisés Ferreira de Souza foram denunciado por homicídio triplamente qualificado (mediante pagamento, tortura e emboscada). 

Conforme a denúncia do Ministério Público, os nomes integram um grupo de extermínio denominado “os encapuzados”, conhecidos na região como “guachebas”, ou matadores de aluguel, contratados com a finalidade de praticar ameaças e homicídios.
 
No dia da chacina, Pedro, Paulo, Ronaldo e Moisés, a mando de Valdelir, foram até Taquaruçu do Norte, munidos de armas de fogo e arma branca, onde executaram Francisco Chaves da Silva, Edson Alves Antunes, Izaul Brito dos Santos, Alto Aparecido Carlini, Sebastião Ferreira de Souza, Fábio Rodrigues dos Santos, Samuel Antonio da Cunha, Ezequias Satos de Oliveira e Valmir Rangel do Nascimento.

O grupo de extermínio percorreu aproximadamente 9 km matando, com requintes de crueldade, todos que encontraram pelo caminho.

A morte do prefeito

O Ministério Público denunciou quatro acusados pela morte do prefeito de Colniza.

O órgão busca responsabilizar os envolvidos por crimes de homicídio qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa.
 
Foram denunciados os suspeitos, Antônio Pereira Rodrigues Neto, Zenilton Xavier de Almeida e Welisson Brito Silva, presos em flagrante, no dia 17 de dezembro, em uma estrada entre os municípios de Juruena e Castanheira.  

A esposa de Antônio Rodrigues, Yana Fois Coelho Alvarenga, também foi denunciada por suposta participação na ação criminosa.
 
Antônio Pereira Rodrigues Neto é empresário em Colniza do ramo de rede de combustível e táxi aéreo.
 
Segundo as investigações, ele arregimentou dois comparsas oriundos do Pará para o crime, motivado por cobrança de dívida. Apontado como o mandante, o suspeito também participou da execução do prefeito.
 
Segundo investigação, Yana tinha conhecimento do crime e acobertou a ação do marido. 
 
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