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Quarta-feira, 17 de abril de 2024

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Conselho de Guardiães admite irregularidades na eleição do Irã

O Conselho de Guardiães do Irã, máxima instância constitucional do país, admitiu na manhã desta segunda-feira (noite deste domingo em Brasília) que, na eleição de 12 de junho, houve irregularidades nas votações, informou o site do canal estatal Press TV. O resultado oficial, endossado pelo conselho, tinha dado vitória ao presidente Mahmoud Ahmadinejad.


Segundo o porta-voz do Conselho dos Guardiães, Abbas Ali Kadkhodai, ainda não é possível "determinar se esse montante é decisivo para [alterar] os resultados da eleição."

De acordo com a TV, o conselho assegurou que, em 50 cidades, o número de votos superou o número de eleitores inscritos, o que implica em mais de 3 milhões de eleitores --o resultado oficial da eleição dá para Ahmadinejad 8 milhões de votos além do recebido por ele em 2005, o que a oposição já tinha considerado irreal.

O Conselho de Guardiães informou que as irregularidades foram encontradas entre as 170 cidades onde um dos candidatos derrotados, Mohsen Rezai, disse ter ocorrido os problemas.

Reuters/AP/Reprodução

O presidente reeleito Ahmadinejad (no alto, à esq.) e os derrotados que o acusam de fraude, Mousavi, Karubi e Rezai (sentido horário)
Essa admissão abre caminho para a investigação dos 646 "irregularidades" apontadas pelos três candidatos derrotados --Rezai, Mehdi Karubi e Mir Hossein Mousavi, líder da oposição e tido, segundo as pesquisas de intenção de voto anteriores ao pleito, como principal ameaça à reeleição de Ahmadinejad. Mousavi e Karubi pediram na sexta-feira (19) que o Conselho dos Guardiães anulassem a eleição. Conseguiram, na ocasião, apenas que fosse feita a recontagem aleatória de 10% dos votos.

O presidente reeleito e o seu ministro do Interior, Sadeq Mahsouli, rejeitaram qualquer possibilidade de fraude, dizendo que as eleições foram livres e limpas.

O reconhecimento das irregularidades traz uma reviravolta na situação política do país, já que, na sexta-feira, o líder supremo da Revolução, o aiatolá Ali Khamenei, havia rejeitado a tese da oposição de que se Ahmadinejad reelegeu através de fraudes. Também fica fortalecida a posição do líder oposicionista Mousavi, que lidera protestos desde a realização das eleições devido às suspeitas de fraude.

Fraude

Entre os indícios de fraude, os especialistas apontam o fato de Ahmadinejad aparecer sempre com o dobro de votos de Mousavi nos resultados parciais da apuração, quando é comum que haja variação, graças às diferentes tendências de diferentes regiões do país; e o fato de 39,2 milhões de cédulas terem sido contadas a mão em apenas 12 horas quando, no passado, em eleições com uma menor participação de eleitores, o tempo foi ao menos duas vezes maior.

Há dúvidas ainda por Ahmadinejad ter recebido a maioria dos votos inclusive nas Províncias em que a minoria étnica azeri, a mesma de Mousavi, é majoritária; e pelo clérigo reformista Mehdi Karubi ter conseguido só 0,85% dos votos quando ele obteve 17% no primeiro turno das eleições presidenciais de 2005.

Mais calma

Mousavi pediu neste domingo a seus seguidores que tenham mais cautela nas manifestações que perduram em Teerã desde as eleições. Depois dos violentos protestos de ontem --dez pessoas morreram nos choques com a polícia, segundo uma contagem divulgada pela TV estatal iraniana-- ele pediu que seus seguidores mantenham os protestos, mas que "tenham precaução".

"Espero que as forças armadas evitem causar danos irreparáveis", disse Mousavi em comunicado publicado em sua página na internet. "O protesto contra as mentiras e a fraude é vosso direito. Hoje o país chora pelos [...]mortos nos protestos. Peço que sigam com calma."

O pedido parece ter tido eco neste domingo. Apesar de Teerã estar tomada de policiais antidistúrbios e milícias islâmicas pró-regime, deixando o clima tenso, os manifestantes não foram às ruas. Mousavi ainda condenou as "detenções maciças" durante os oito dias seguidos de manifestações desde as eleições.

Uma das detenções que mais chamaram a atenção hoje foram as de cinco parentes do ex-presidente do país Ali Akbar Hashemi Rafsanjani. Porém, quatro foram liberados em seguida, segundo a "Press TV". No entanto, permanece detida Faezeh Hashemi, uma das filhas do ex-presidente, que segundo a emissora participou de um ato em favor da oposição.

O governo iraniano também partiu para a ofensiva contra a imprensa estrangeira, que já tem o trabalho cerceado desde o início dos protestos. Hoje o correspondente permanente da BBC, Jon Leyne, recebeu a ordem de abandonar o país em 24 horas, e o canadense Maziar Bahari, da revista americana "Newsweek", foi detido.

Com agências internacionais.

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