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Suiá Missú

Idoso que tentou tomar arma de policial dispensa pecha de herói

13 Dez 2012 - 11:50

Da Reportagem local - Lucas Bólico e Renê Dióz - enviados especiais a Estrela do Araguaia (Posto da Mata)

A imagem do idoso que tentou tirar a arma de um agente da Força Nacional rodou o país. O homem que encarou as balas de borracha de peito aberto durante a desintrusão de não-índios em Suiá Missú, na região nordeste de Mato Grosso, tem 62 anos de idade e dispensa o título de herói que ganhou no local.


“Foi mais desespero do que valentia”, admite Aparecido Oliveira da Silva, 62 anos, mais conhecido na região como Prego. Homem humilde do interior paulista, o trabalhador declara que tomou uma intempestiva atitude para garantir o futuro de seus netos. A única coisa que tem para deixar de herança é a pequena propriedade que usa para arrendar gado.

“Eu tô aqui desde quando começou isso aqui, a existência que tem isso aqui tem eu também, lá por 1998, ou mais cedo ainda”, relembra sobre sua chegada na região disputada. A briga, no entanto, não foi para defender a sua área, mas a Fazenda do Alemão, a maior e com melhor estrutura na região.


Foto: José Medeiros / Olhar Direto


“Hoje vêm acusando os fazendeiros, mas eles é que zelam por essa população, dão emprego pra todo mundo. Todo mundo que é fraco trabalha com eles”, argumenta. Do embate, Prego levou três tiros de armamento não-letal, um corte na mão e chutes na cabeça.

“Eu penso muito na minha dignidade. Os netos deles [policiais] vão passar um natal gordo. E os meus, vão passar mendigando?”, questiona.

Na hora da briga, Prego conta que agiu meramente por instinto ao investir contra o agente da Força Nacional. “Eu quis só me defender porque eu tava com aqueles três soldados muito em riba de mim. Cortou minha mão toda, olha aí. Ele deu uma espetada na minha barriga e eu quis me defender, só isso”, explica.

“Na hora que o fuzil tava apontado ni mim, eu peguei pra tomar o fuzil dele, mas eu num dei conta. Quem é um velhinho pra lutar contra um soldado daquele?”. Além da dignidade, o que está em jogo para Prego são os 65 alqueires que divide com dois irmão e o prejuízo que terá com seu despejo.

“Meu é 150 gado, mas não é meu não, é pegado no arrendo. Tá com um ano que eu to zelando esse gado, começou algumas a parir ai eu não arrumo pasto. O dono do gado não pega. Quem pega um gado numa situação dessas? Não pega, aí o que vai fazer? Vai confiscar o gado, eu vou perder meu tempo de serviço e eu ainda vou ter que trabalhar pra pagar o gado do homem. É país isso? É país não”.


Foto: José Medeiros / Olhar Direto


Pronto pra outra

Apesar dos hematomas, o ‘herói’ do Posto da Mata afirma que está pronto para uma nova briga. Ele inclusive participou da ‘caçada’ empreendida pelos homens da região durante a última quarta-feira, quando saíram em comboio atrás dos agentes policiais que cumpriam a ordem de despejo em fazendas na rodovia federal BR-080. Só que, desta vez, não houve sequer contato com a polícia e a coragem de Prego não foi necessária. De qualquer maneira, ele não descarta entrar em ação.

“Vou talvez com mais força. Não acho que todo mundo devia ter agido como eu, porque se fosse todo mundo eles matariam nós, por que eles agiram de muito mal ver. O ataque partiu deles não foi de nós não. Teve uma pessoa lá que jogou uma pedra numa viatura mas o que é uma viatura perto do dinheiro que eles estão gastando para massacrar nós aqui?”.
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