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Quinta-feira, 28 de março de 2024

Notícias | Copa 2014

Trabalhadores dos estádios não conseguem nem dar uma 'espiadinha' nos jogos

RIO, MANAUS, SÃO PAULO e SALVADOR — Só mesmo a emoção de trabalhar em uma Copa do Mundo para que os apaixonados por futebol consigam lidar com a tortura que é estar no estádio e não poder assistir nem a um minuto dos jogos.


Para Bruna Medina, de 28 anos, que é ascensorista de um dos elevadores da imprensa do Maracanã, a energia que emana de uma Copa é suficiente. Mas, se um gênio saísse da lâmpada e dissesse que iria atender a apenas um de seus desejos, ela escolheria assistir ao Brasil na final e, se possível ainda, esbarrar com Daniel Alves, de quem é fã.

— Tinha muita vontade de estar aqui na Copa, tem gente do mundo todo — diz Bruna, que não fala outras línguas mas, com um sorriso no rosto, sempre consegue passar a sua mensagem.

Se Bruna sonha com Daniel Alves, Giovanna Paola Gomes teve mais sorte e conseguiu uma foto com Ronaldo Fenômeno — que entrou no elevador justo quando ela conversava com O GLOBO.

— Tira uma foto para mim? Estou sem celular — pediu a ascensorista, em pleno estado de choque, à repórter.

Giovanna perdeu a abertura do Mundial, entre Brasil e Croácia, pilotando o elevador oito do prédio Oeste. Além de ficar por fora do que acontecia no campo, passou cerca de 20 minutos presa no elevador com 15 pessoas. Nesse dia, ela acredita ter sido xingada em vários idiomas.

— O elevador já dava tranco desde o dia anterior. Mas não tinha parado. Os jornalistas estrangeiros estavam preocupados, e tivemos de colocar um papel, escrito “ajuda”, na frente da câmera. O radio não funcionava, e o alarme não surtia efeito — contou Giovanna, que também perdeu a transmissão do jogo entre Uruguai e Inglaterra, no Itaquerão. — Fico no elevador para cima e para baixo, nem sei quando escurece. Mas, a final, não vou perder!

Um dos motoristas dos ônibus das cinco linhas colocadas pela Fifa à disposição dos jornalistas para o transporte até o estádio da Fonte Nova, em Salvador, José Carlos dos Santos é outro que sofre por estar tão perto e tão longe dos jogos.

— Não tenho credencial e não posso entrar no estádio. Preciso correr para a televisão mais próxima para não perder nenhum lance. Pouco antes de o jogo acabar, já estou de volta ao volante, pertinho do estádio, mas sem sequer ver o campo — conta ele.

Alex Vieira, pelo menos, consegue acesso ao estádio. Ele foi escalado para dar informações e impedir o acesso de torcedores às áreas restritas dos bastidores da Fonte Nova, distantes do campo. Não viu a cor da bola, a não ser pela televisão.

— Eu trabalho para as pessoas poderem se divertir. É um pouco frustrante, mas é o meu trabalho — comenta Alex, sem jogar a toalha: —Ao menos dá para escutar a explosão da torcida na hora do gol. E na Fonte Nova foram muitos...

Thiago Manoel da Silva, também é segurança particular, mas no Maracanã. Nos jogos fora da Copa, ele até consegue ver os jogos, mas no Mundial, ele preferiu ficar nos bastidores porque a salário é maior.

— É angustiante. Gostaria de ver o jogo, mas só de ouvir a torcida e ver pessoas passando fico animado — jura.

E não se faz Copa do Mundo nem Jogos Olímpicos sem voluntários. Caso do desempregado Clenildo Oliveira Santana de 37 anos, que trabalha no estacionamento da Fifa e de VIPs na Arena Amazônia, em Manaus. De lá, ele diz não ter noção do que acontece no campo.

— Na hora em que escuto os gritos lá dentro, fico ansioso para saber se foi gol. Só descubro mesmo quem ganhou quando as pessoas começam a sair da arena — conta.

Há outras pessoas cujas profissões não permitem o encontro com amigos, com a família, ou mesmo a diversão de estar com desconhecidos em algum lugar que tenha uma televisão. Profissionais de saúde, de segurança pública, maîtres, garçons, cozinheiros, vendedores ambulantes, entre outros, fazem parte da turma dos sem-Copa.

— Minha família está fazendo um churrasco nesse momento. É claro que gostaria de estar lá me divertindo e vendo o jogo do Brasil. Mas tenho consciência da importância do meu trabalho — esume a enfermeira Kely Cockrane, de 29 anos.

Durante o Mundial, o Centro de Operações do Rio (COR), da prefeitura, responsável pelo monitoramento da cidade, não pode parar. Marcio Almeida, diretor do COR, faz parte do grupo de mais de 150 profissionais que estava em pleno expediente no local durante o jogo do Brasil contra o México, na terça-feira. O telão de 80 metros quadrados - por onde operadores monitoram a cidade - ganhou a companhia de duas televisões, sintonizadas no jogo.

— É para que os operadores possam dar uma olhada aqui ou ali nos jogos da seleção, mas a prioridade é a cidade e o bom funcionamento dela. Trabalhamos para que os cariocas e turistas possam aproveitar a Copa com segurança — explica Marcio. — ostaria de estar curtindo os jogos com amigos, mas trabalhar para o coletivo é mais gratificante.

Maître do Maxim's, na Avenida Atlântica, em Copacabana, Wagner de Souza, de 62 anos, é responsável pelo atendimento a inúmeros turistas estrangeiros.

— De vez em quando, tem como dar uma espiadinha. E é divertido ver os turistas brincando uns com os outros. Está muito bom, embora não possa ver os jogos como gostaria — diz o maître.

Acompanhando uma equipe da emissora de TV mexicana Televisa, o taxista Wagner Azevedo, de 62 anos, estava angustiado no Brasil x México.

— Pensei em ver o jogo do carro mesmo, mas a televisão do GPS pifou. Infelizmente não deu... —resignava-se ele, estacionado na Avenida Atlântica, bem distante da Fifa Fan Fest.

Já o cabo da Polícia Militar Diogo Nascimento tinha o que comemorar.

— No dia do primeiro jogo trabalhei com todo o equipamento de proteção, que pesa cerca de 15 quilos, durante 16 horas. Mas devo estar de folga na segunda-feira e vou ver o jogo do Brasil e Camarões. Vai ser a minha vez de torcer — estejava o policial.


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