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Quinta-feira, 28 de março de 2024

Notícias | Ciência & Saúde

Técnica testada no AC reduz lesões que causam câncer de colo do útero

A Terapia Fotodinâmica, técnica testada desde fevereiro do ano passado no Acre, apresentou regressão total de lesões precursoras do câncer de colo de útero em oito pacientes, conforme o médico oncologista Antônio Vendette, responsável pelas pesquisa no estado. Segundo ele, a técnica, que já é utilizada no país no câncer de pele, tem sido usada de forma pioneira no estado.

Vendette explica que os estudos são feitos no estágio em que o câncer é limitado, as chamadas NIC 1, para evitar possíveis prejuízos às pacientes, que serão observadas pelo período de dois a cinco anos para verificar se as lesões serão reincidentes. Ele ressalta que o tratamento incide sobre células alteradas, porém, que não apresentam risco de metástase.



No estágio em que as pacientes são incluídas nos testes, de acordo com o médico, as lesões tanto podem sofrer regressão espontânea quanto avançar, chegando a NIC 2 e NIC 3. Ao progredir, a forma de tratamento mais comum é por meio de cirurgia. O estudo consiste na tese de doutorado do médico, pela Universidade de Brasília (UnB).

"Como o tratamento é experimental e não podemos submeter o ser humano a risco, nós incluímos principalmente pacientes com NIC 1 que possam ter um tempo para observação. Se não funcionasse, haveria a possibilidade de um tratamento habitual. Nessas pacientes, vimos a eliminação completa da lesão. Podemos dizer que essa mulher se curou da lesão precursora de um câncer", diz.

Os primeiros resultados ainda não foram publicados em revista científica, conforme Vendette. O oncologista diz que espera que os testes sejam realizados em pelo menos 15 pacientes. Para que, em seguida, sejam realizadas todas as avaliações necessárias para a oficialização do uso da técnica no câncer de colo de útero e, posteriormente, seja estudada em estágios mais avançados da doença.

"Depois das avaliações, vai ser produzido um texto e enviado para publicação internacional junto com os exames de comprovação. É feita toda uma perícia em cima dos objetos de pesquisa. A publicação significa o reconhecimento científico e a oficialização do fato. A partir disso, as metodologias e resultados são divulgados, podendo ser replicados", fala.
 

Técnica é ambulatorial, diz médico
O médico esclarece que a vantagem é que a terapia é realizada em ambulatório, sem a necessidade de cirurgia, com a aplicação de uma cápsula nanométrica com duas medicações, que são ativadas por um equipamento com lasers coloridos. Dessa forma, as lesões são identificadas e tratadas. As substâncias e a máquina são disponibilizadas pela Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto.

"Todos os tratamentos são ambulatoriais. A paciente chega, recebe o medicamento, fica um tempo para absorção, depois recebe o estímulo luminoso e vai para casa. A aplicação dura por aproximadamente dois minutos e meio. A anatomia do colo uterino fica completamente preservada, ou seja, a fertilidade dessas mulheres é mantida", acrescenta Vendette.
 

O coordenador do Centro de Nanotecnologia, Engenharia Tecidual e Fotoprocessos voltado à Saúde (CNET) da USP, Antônio Tedesco, que chefia o setor que produz a substância e orienta a pesquisa de Vendette, diz que os medicamentos foram criados para tratar especificamente as lesões no colo uterino. Havendo as comprovações, ele diz que a ideia é ampliar a produção e viabilizá-la para a iniciativa privada.

"A substância combina dois ativos, um para diagnóstico e outro para tratamento. Assim, podemos diagnosticar as lesões com altíssima segurança e, ao mesmo tempo, tratá-las. O laser foi desenvolvido por um parceiro nosso, que faz esse tipo de equipamento e foi adaptado à nossa necessidade", esclarece Tedesco.

A pesquisa é monitorada externamente pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanobiotecnologia (INCT em Nanobiotecnologia), que também custeia o trabalho. O coordenador do órgão, Ricardo Azevedo, que também é professor em nanobiotecnologia na UnB, acrescenta que a universidade iniciou há 15 anos os testes da técnica em animais de laboratório, passando a ser testada em humanos após aprovação do conselho de ética.

"O acompanhamento é feito não só por visitas no Acre, bem como visitas do Antônio Vendette a Brasília, como também por discussões através da internet. Os primeiros resultados são maravilhosos. Nós realizamos ainda testes em outros tipos de lesões cancerígenas ou não. Esperamos publicar os primeiros resultados ainda este ano", fala.
 

'Ver redução da lesão foi um alívio', diz paciente
Uma das pacientes do estudo é a universitária Evilane Costa, de 20 anos. Ela diz que, depois de ver a luta de uma tia para se tratar de um mioma, decidiu fazer o exame preventivo e acabou descobrindo uma alteração. "Fizemos a biópsia e acabamos identificando que se tratava de uma ferida já no estágio 2. A partir do 3 seria o câncer propriamente dito", lembra.

Evilane conta que, devido à pouca idade, o médico a encaminhou para a pesquisa antes de recorrer a uma cirurgia que resultaria na retirada do útero. A estudante lembra que receber o diagnóstico causou desespero, sobretudo, devido ao sonho de infância de terminar os estudos, casar e ser mãe.

"Foi muito difícil, deu um pouco de desespero. O que mais me assustava nem era a possibilidade de ter câncer, mas não poder ter filhos. Isso me deixava muito triste. O diagnóstico modificou muito a minha vida, porque passei a ter medo de ficar sozinha, chorava o tempo inteiro pensando que não haveria cura", relata.

Evilane iniciou o tratamento fotodinâmico em dezembro do ano passado e, de acordo com ela, dois meses depois havia restado apenas uma "mancha" no útero, mesmo a biópsia mostrando a redução de tamanho. Após quatro meses de terapia, o preventivo mostrou que já não havia mais nenhuma alteração uterina.

"Eu sempre quis ter filho e ver a redução das lesões foi um alívio. É uma sensação de que, de agora em diante, as coisas seriam diferentes. Sentir que consegue vencer algo grave faz você se sentir mais seguro, confiante e otimista em relação a tudo", acrescenta Evilane.
 

Desdobramentos da pesquisa
Antônio Vendette afirma que, como continuidade aos estudos, a terapia está sendo testada diretamente no vírus HPV, principal causador do câncer de colo de útero. Após identificar o HPV na paciente, a técnica será aplicada e, em uma semana, novos exames serão feitos para verificar modificações.

"Além de evidenciarmos a redução de 100% das células cancerosas, queremos saber também se estamos matando o vírus HPV, porque, até então, não temos tratamento eficaz a não ser eliminar as lesões. Vamos fazer os testes em novas pacientes que serão incluídas no protocolo", ressalta.

Existem ainda, ao menos 15 vagas abertas para novas pacientes com lesões no colo do útero na pesquisa, conforme o oncologista. O estudo quer, no total, chegar a 30 pacientes para, em seguida, ser expandido para outras unidades hospitalares e estados brasileiros. Ele acrescenta que também existem vagas para os tratamentos de câncer de pele, realizado com outro médico.

Os interessados em participar podem entrar em contato no telefone (68) 3223-4004. "Recebemos pacientes que foram ao ginecologista e tiveram diagnóstico de NIC, neoplasia de baixo ou alto grau, e também aqueles que têm lesões suspeitas na pele. Não precisa nem estar totalmente comprovado, nós promovemos a biopsia e todos os exames sem custo", fala.

 

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