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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Período de chuvas já carregou mais de 450 toneladas de lixo para o Pantanal; voluntários se mobilizam para limpar local

Foto: Reprodução

Período de chuvas já carregou mais de 450 toneladas de lixo para o Pantanal; voluntários se mobilizam para limpar local
O início do período de chuvas causou um efeito desagradável. Todo o lixo acumulado que é jogado ou vai parar no Rio Cuiabá é carregado para a Baía de Chacororé no Pantanal, em Barão de Melgaço (a 111 km de Cuiabá).


O engenheiro sanitarista e professor da Universidade Federal de Mato Grosso, Rubem Palma de Moura, calculou que apenas na chuva de agosto, após um período de 82 dias de estiagem, cerca de 490 toneladas de lixo foram levadas para a baía. Voluntários do Projeto Teoria Verde se mobilizam em ações de coleta de lixo nos rios.

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O professor Rubem fez uma estimativa de quanto lixo é liberado diariamente, somente na região de Cuiabá e Várzea Grande, e vai diretamente para os rios.

“Fiz uma conta, por alto, pra dar uma idéia. Eu considerei que Cuiabá e Várzea Grande têm um milhão de habitantes, o censo diz que tem em torno de 900 mil, mas eu acredito que tenha um milhão. Se nós imaginarmos que cada pessoa gera 1 kg de lixo por dia (média do brasileiro), nós teríamos mil toneladas de lixo por dia, 1 milhão de quilos de lixo produzidos todo dia nestas duas cidades. Se considerarmos, e aí eu estou sendo bonzinho, que 95% deste lixo é coletado e levado para os lixões, aterros sanitários, então eu fico com 5% deste lixo que representa 50 toneladas por dia não coletados. Se imaginarmos ainda de maneira bastante otimista, que só 10% deste lixo que não é coletado está em algum ponto que pode ser levado para um curso d’água pela água, nós temos 5 toneladas por dia chegando ao rio”.

Cerca de 50% do lixo é composto por matéria orgânica, em torno de 15% é composto por materiais flutuantes e 35% é composto por materiais pesados, que não são visíveis pois ficam no fundo do rio.

Cuiabá e região passaram por um período de 82 dias de estiagem este ano e todo este lixo ficou acumulado na beira do rio. Com a primeira chuva de agosto tudo foi carregado. O professor estima que a quantidade de lixo foi quase de 500 toneladas.

“Aquela primeira chuva que aconteceu em agosto, nós imaginamos que ela levou para o rio 490 toneladas de lixo, isso só as primeiras chuvas. Como 15% deste lixo é flutuante, naquela chuva, 72 toneladas de material flutuante desceram o rio. Agora nesta época que quase todo dia chove, em torno de 800 kg a 1 tonelada todo dia chega com a chuva, dentro do rio Cuiabá e Coxipó, e desce. Tudo chega ao mesmo instante lá na Baía de Chacororé”.

De acordo com o professor, Chacororé conta com um vento constante que segue na direção à margem, e empurra o lixo para lá, onde ele fica enganchado, não se espalha pela baía. Quando vem a seca o rio vai baixando e o lixo vai se sedimentando, isso ano a ano.

“Há uns 6 ou 7 anos a baía secou, colaborei em uma reportagem do Fantástico, mostrando o tanto de lixo que tinha ali, aí conseguimos uma catação, com exército, escolas, escoteiros, em um dia catando lixo, em uma área que não devia dar 10 hectares, tiramos 40 toneladas em seis horas de serviço”, disse.

Voluntários do Projeto Teoria Verde se mobilizam para realizar uma nova ação de coleta de lixo no Pantanal. Em 49 ações os voluntários já recolheram cerca de 160 toneladas de lixo. O publicitário Jean Peliciari, que está a frente do projeto, disse que o lixo que se acumula no Pantanal vem de 13 municípios, mas cerca de 90% dos resíduos são produzidos em Cuiabá e várzea Grande.

"A nossa 50ª ação vai ser lá na Baía de Chacororé até Siá mariana. É uma campanha de financiamento coletivo, onde as pessoas vão poder ajudar. Não são os mesmos voluntários das ações que fazemos, por exemplo, no morro da luz, na orla do porto. Nós vamos convidar defesa civil, polícia ambiental, bombeiros, marinha, os pescadores ali de Barão de Melgaço também, para realizar esta ação de limpeza, e a população que está matando o pantanal vai poder ajudar nesta limpeza que nós vamos realizar em fevereiro”, disse o publicitário.

Jean denomina o Teoria Verde como um projeto de comunicação. Utilizando os conhecimentos que adquiriu em sua carreira como publicitário, ele gerencia redes sociais, grupo de WhatsApp e um site, no intuito de trazer informação para as pessoas.

“É para alertar e tentar educar as pessoas sobre este problema que é de todo mundo, o lixo não é problema só de município, é um problema de todo mundo. O papelzinho de bala que eu jogo no chão está impactando o meio ambiente, então a gente tenta mostrar isso pra população, não adianta ficar culpando o município porque não tem lixeira, que porque paga imposto tem que limpar, mas antes disso a população não deveria jogar lixo no chão”, disse.

Ao todo já participaram do projeto cerca de 3 mil voluntários, que são sazonais. Jean acredita que é importante que os voluntários revezem para que muitas pessoas tenham a oportunidade de catar lixo um dia, para sentir a conseqüência de não se preocupar com o lixo.

“Tem muito lixo, quanto mais as pessoas jogam lixo nas ruas, mais estamos matando o pantanal, de pouquinho em pouquinho, é bem tenso o que está acontecendo. Eu estive lá semana passada, nos corixos, e é triste demais, você vê de tudo, garrafa pet de tudo quanto é tipo, televisão, sofá, capacetes de moto, tudo que tem na cidade você encontra lá no pantanal. E eu quero que todo mundo um dia cate lixo no chão para sentir, só este impacto de você agachar e catar um lixo no chão, talvez um adulto mude”, disse.

Além das ações de coleta de lixo nos rios, o Teoria Verde também faz palestras em escolas e empresas, para conscientizar a população.

“A gente sabe que não é só com ação de limpeza, então mais de 7 mil alunos já foram impactados com as nossas palestras educativas, nós estamos com três palestrantes, em escolas e rodando o estado também, já fomos em mais de nove municípios, mais de sete mil alunos já receberam a nossa palestra educativa. A gente está dos dois lados, chamando a atenção com as nossas redes sociais, também fazendo nossas ações de limpeza e em paralelo estamos nas escolas, porque ali realmente a gente vai ter um efetiva mudança daqui cinco, dez ou quinze anos”.

O professor Rubem também concorda que a falta de conscientização e os novos hábitos são alguns dos principais problemas.

“Na minha infância eu morava na Barão de Melgaço, antes de ter comércio por ali, e eu me lembro que todos os moradores dali pegavam seu lixo, varriam a calçada e sarjeta, e juntavam tudo isso. hoje em dia ninguém faz nada, todo mundo fala que é o poder público quem tem que fazer, ninguém se compromete com mais nada. Outra coisa é que eu ia com minha mãe para a feira e comprava para o dia, carne a gente comprava no dia porque os refrigeradores eram pequenos, você não tinha material sólido que sobrava, hoje tudo que você compra vem embalado, a carne vem em uma bandeja de isopor, com um filme plástico por cima, o leite está em uma embalagem que é de papelão e alumínio, então tudo hoje gera um resíduo. A pior coisa nossa é a falta de educação, e aí aliada à falta de gestão a gente chega em uma situação como esta”.

Outra ação que o professor Rubem afirma ser necessária é a coleta seletiva do lixo e o tratamento do esgoto. Ele diz que faltam políticas públicas.

“Hoje trata-se 28% do esgoto gerado, mas não trata convenientemente bem, quer dizer, nós jogamos hoje no rio com certeza 2,5 m³/s de esgoto, então isto tem uma carga muito violenta sobre o rio. Outra coisa é a coleta seletiva. Faltam programas, falta gestão de trabalhar com a reciclagem do lixo, e esta reciclagem não tem que ser feita em uma esteira, porque aquilo mistura tudo, se você separa na sua casa, você tem um lixo limpo, para entregar para uma cooperativa, só que isso no mundo inteiro é difícil, mas tem que começar. E se você traz um turista, você fala em pantanal, você leva o cara ali, aquilo é degradante”.

Para participar do Teoria Verde, Jean disse que qualquer pessoa pode procurá-lo. Para entrar no grupo do WhatsApp, para receber informações das ações, o contato é feito pelo telefone 65 99910-5369. Ele também pede que sigam o Teoria Verde nas redes sociais, ou no site, para acompanhar o projeto.

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) enviou uma nota dizendo que atua no monitoramento dos rios e conta com investimentos de R$ 7 milhões. A Sema também disse que a preservação do Pantanal também precisa da contribuição dos municípios.

Leia a nota na íntegra:

NOTA

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) informa que atua primordialmente no monitoramento da qualidade da água dos rios que compõem as três bacias hidrográficas de Mato Grosso, do Paraguai, Amazonas e Araguaia-Tocantins.

Esse trabalho é feito pelo laboratório da secretaria e divulgado a cada três anos; e que conta com investimentos de R$ 7 milhões da Agência Nacional da Água (ANA) para ser ampliada nos próximos cinco anos.

O último relatório, de março do ano passado, apontou a piora na qualidade da água em diversos trechos que compõem a bacia que desagua no Pantanal, mais próximos às áreas centrais dos municípios, principalmente de Cuiabá.

No entanto, conforme a equipe técnica, ainda há elevada capacidade de autopurificação dos rios na região, já que a qualidade dos recursos hídricos na região onde fica o Pantanal está preservada.

É importante destacar que o trabalho de preservação do cartão-postal designado pela Unesco como Reserva da Biosfera (RB), no ano de 2000, não é apenas uma questão de fiscalização, ela requer inúmeras ações em diversas esferas, entre elas, do Conselho Executivo da RB, composto por instituições públicas, privadas e não-governamentais de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul que estão com um cronograma de 80 ações para serem implementadas nos próximos anos.

Além disso, a conservação do Pantanal requer a contribuição primordial dos municípios, que detém, conforme legislação federal, a competência na gestão dos resíduos sólidos e do saneamento básico, bem como da população.

A Sema está atualmente com duas licitações em andamento para auxiliar os municípios no quesito resíduos sólidos, são elas: Plano Estadual de Resíduos Sólidos e Plano Intermunicipal de Resíduos Sólidos da Região do Consórcio Nascentes do Pantanal.

De qualquer modo, a Sema entende os prejuízos provocados pelo baixo acesso dos cidadãos ao saneamento básico e as dificuldades dos municípios no cuidado com os resíduos sólidos. Para 2018, a secretaria pretende ampliar a fiscalização e as tratativas com os prefeitos e secretários de meio ambiente da região que compõem a bacia do Paraguai com o objetivo de aperfeiçoar o trabalho de conservação ambiental.
 
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