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ENTREVISTA EXCLUSIVA

Taques reconhece esquema da Rêmora, mas aponta combate à corrupção como marca da gestão

22 Abr 2018 - 07:40

Da Redação - Érika Oliveira e Ronaldo Pacheco

Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto

Taques reconhece esquema da Rêmora, mas aponta combate à corrupção como marca da gestão
“Estou governador há três anos e três meses”. Pedro Taques (PSDB) costuma contar dia por dia desde que assumiu o Executivo estadual, em 2015. Sucessor de um dos governos mais corruptos que Mato Grosso já conheceu, Taques considera que a principal marca de sua gestão foi justamente o combate a esta prática criminosa, embora reconheça que nem mesmo sua administração passou ilesa de escândalos.


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“Existia uma organização criminosa que roubava por prazer, chegaram a roubar R$ 1 bilhão. Já houve caso de corrupção na nossa gestão? Já! A rêmora, na educação. Antes e depois, tem algum caso de corrupção na nossa administração? Não estou dizendo que não possa existir casos pequenos, mas o combate à corrupção é uma marca da nossa administração”, avaliou o tucano.

A Operação Rêmora, deflagrada em 2016, revelou um esquema de direcionamento de obras de reformas de escolas públicas em Mato Grosso. De acordo com o Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPE) a organização criminosa era dividida por três núcleos e tinha o envolvimento de agentes públicos e de empresários.

Nesta semana, Taques conversou com exclusividade com a reportagem do Olhar Direto e apontou, como ele costuma dizer, onde o Estado “virou a chave”. E, em vias de anunciar se irá ou não disputar a reeleição, o governador rebateu criticas de ex-aliados, afirmou que considera a crise econômica “superada” em Mato Grosso e fez uma auto-análise sobre o que avalia que ainda precisa melhorar para concluir as promessas que fez quando foi eleito, em 2014.

Confira a íntegra da reportagem:

OD - O senhor trata como mote o que chama de “Estado de Transformação”, costuma dizer que o Governo “virou a chave”. O senhor pode apontar onde foram as transformações nesses quase três anos e meio? E, no reverso, onde ainda falta virar a chave?

Na forma de se administrar. Busque conversar com vários empresários do Estado, nenhum deles foi extorquido na nossa gestão. Busque conversar com empreiteiros, nenhum deles foi extorquido. Nós temos 100 mil colaboradores, 70 mil na ativa. Nós pegamos um Estado, como todo mundo sabe, arrombado, que existia para a prática de crimes. Existia uma organização criminosa que roubava por prazer, chegaram a roubar R$ 1 bilhão. Já houve caso de corrupção na nossa gestão? Já! A rêmora, na educação. Antes e depois, tem algum caso de corrupção na nossa administração? Não estou dizendo que não possa existir casos pequenos, mas o combate à corrupção é uma marca da nossa administração.

No momento em que, no caso da rêmora, por exemplo, chegou a noticia a nós, nós tomamos todas as providencias necessárias. Isso é um fato.

Primeiro: organizar a máquina. A máquina foi totalmente desestruturada. Na nossa administração organizamos a máquina pública, para que pudéssemos dar um passo e avançar.

Falando de educação, Mato Grosso tem 770 escolas, destas 43 foram inauguradas na nossa administração. Eu gostaria que vocês procurassem nos últimos oito anos, antes de eu assumir o Governo, quantas escolas foram inauguradas. Além de inaugurarmos 43 escolas e chegaremos a 60 até o final do ano, nós reformamos 150 escolas, nós pintamos mais 200 escolas. Existe sim a necessidade de reforma de mais 400 escolas, mas tudo tem seu tempo. Nós fizemos a correção de fluxo, fizemos concurso para professores, mantivemos o aumento salarial dos servidores da educação, que foi compromisso que eu tive.

A escola tem tempo integral, que nós não tínhamos, hoje temos 40 unidades. As escolas militares, que tínhamos uma, até o final do ano vamos chegar a dez. As escolas técnicas, terminaremos o ano com 17, eram 8. Portanto, houve um avanço. E os indicadores já revelam isso, Mato Grosso era o 26º pior colocado em Educação, hoje somos 19º. Ainda temos o que avançar.

O salário dos profissionais da Educação em Mato Grosso é o segundo melhor do Brasil. Graças a quem deu o aumento? Não, graças a quem pagou. Foi a nossa gestão que pagou e manteve o aumento.

Alguns falam que eu errei na gestão, mas não tem coragem de dizer onde foi o erro. Onde eu errei, em manter os salários? Então eu errei e vou continuar errando.

OD - Muitas pessoas acusam o senhor de ter feito contratações além do que podia.

Isso é conversa de mentiroso e de quem não tem informação sobre a máquina pública.
Nós chamamos 3663 novos policiais, porque seria um caos no Estado se nós não tivéssemos chamado esses policiais. Essas pessoas que dizem que eu errei, tem que ter a coragem de dizer onde eu errei.



OD – Mas se o senhor fizesse uma auto-avaliação, onde considera que faltou virar essa chave?

A Saúde precisa ser mais rápida, eu reconheço isso. Precisamos fazer com que a saúde possa, o mais rápido possível, atender com dignidade o cidadão. Mas eu tenho avanços na Saúde também, que eu gostaria de falar.

OD – Então, quanto à Saúde. O senhor disse que se enquanto governador tivesse feito apenas a Caravana da Transformação, já estaria satisfeito. Mas, além da Caravana, quais programas ou ações ou senhor considera que foram exitosas?

Nós instalamos 204 UTI’s no Estado. Rondonópolis tinha 31 UTI’s, passamos 71. Lucas do Rio Verde não tinha UTI, nós estamos bancando 16 no hospital São Lucas. Ainda falta, precisamos aumentar, mas quantas vidas foram salvas com essas 204 UTI’s que nós instalamos?

A reforma do Cridrac, que foi fundado em 1977 e, de lá para cá, não recebeu nenhuma reforma. Um novo Cridrac vai ser inaugurado em maio e vai atender 4 mil pessoas.
O início da reforma no Adauto Botelho, que tem 50 anos, mas ninguém reformou.

A construção do novo Pronto-Socorro de Cuiabá, por que outros governadores não fizeram? Essa pergunta tem que ser feita. Eu sou governador há 3 anos e 3 meses e estou fazendo. Aliás, eu comecei a fazer no meu primeiro ano de gestão. Eu me comprometi em 2014 a fazer o Pronto-Socorro [nova sede em Cuiabá], em abril de 2015 iniciei a obra. O Mauro Mendes estava no terceiro ano da gestão dele. Eu iniciei o Pronto-Socorro, eu banquei o São Benedito, no primeiro ano da minha gestão. Isto é fazer gestão na Saúde. 

Eu ajudei a bancar a UPA do Santa Izabel, ajudei a pagar a UPA do Ipase em Várzea Grande, aumentei o repasse para o Pronto-Socorro de Várzea Grande, aumentei o repasse para o hospital de Barra do Garças. O único Governo que repassou dinheiro para os filantrópicos foi o meu.

E a Caravana da Transformação, 50 mil pessoas já passaram pelas cirurgias oftalmológicas. Barra do Garças, em quatro anos, fez 120 cirurgias a R$ 7 mil cada uma. Nós fizemos 50 mil, em 1 ano e três meses, e vêm [críticos da oposição] dizer que é eleitoreiro?

Quem fala que Caravana da Transformação é atraso, é o mesmo tipo de gente que falou quando libertaram os escravos que seria um atraso. É o mesmo tipo de gente que não gosta de pagar o salário mínimo para o trabalhador. Esse tipo de gente não merece o respeito do cidadão.



OD – O senhor considera que as críticas são injustas, então?

Não, eu acho que as criticas fazem parte do processo democrático. Mas eu tenho o direito também de contrapô-las, e vou fazer.

Eu não posso ficar preocupado com o que a oposição diz. A oposição está no lugar que o cidadão a colocou.

Eu ganhei a eleição para fazer o que eu estou fazendo, que estava no meu programa de governo.

OD – O senhor deu uma declaração há poucos dias de que a “parte da oposição” teria roubado o Estado. Essa alegação irritou os deputados e, o deputado Zeca Viana rebateu dizendo que os parlamentares que foram delatados pelo ex-governador Silval Barbosa é que faziam parte da base do senhor. Como o senhor responde à isso?

Isso ele tem que falar para os deputados. Ele é muito corajoso, tem que falar para os deputados lá na Assembleia Legislativa.

OD – Alguns aliados do senhor, de 2014, a exemplo do ex-prefeito Otaviano Pivetta, dizem que o senhor não cumpriu com o que prometeu, que foram enganados, enfim, uma série de declarações. Pivetta chegou a dizer que enxergava o Pedro Taques de antes diferente do atual. Mudou o Pedro ou mudou o Pivetta?

O Pedro não mudou, todo mundo sabia como eu era. Agora, algumas pessoas acreditavam que colocariam cabresto em mim, pelo fato de ter ajudado na campanha eleitoral, pelo fato de ser milionário. Não adianta. Eu sou desse jeito e vou continuar da mesma forma, atendendo o cidadão mais humilde, não vou privatizar a Unemat, não vou reduzir salário dos professores. É o compromisso que eu tenho com Mato Grosso. Quem se decepcionou, sabe bem porque ficou decepcionado.

OD- O senhor, em uma entrevista, utilizou a palavra “esquemas”. Disse que não compactuou com esquemas e que por isso teria rompido com alguns aliados. Quais esquemas seriam esses?

Não estou falando com relação ao Pivetta. Quero dizer em nome da verdade que quando uso a palavra “esquemas” não me refiro ao Otaviano Pivetta.

OD – É certo que houve um trabalho ferrenho de sua equipe de transição, antes da posse. E o senhor por várias vezes disse que já sabia da situação real do Estado. Mas, depois da posse, alguma coisa o surpreendeu? O que levou o senhor a tomar tantas decisões amargas e algumas até contraditórias?

Quando nós assumimos o Governo, nós conhecíamos muito bem o Estado. Mas nem a imprensa investigativa sabia, ou tinha comprovação, que o Silval recebeu dinheiro do Consórcio VLT. Ouviam comentários. Vocês tinham comprovação que tinha esquema no Detran? Por quê que eu tinha a obrigação de sabe? Nem o Ministério Público sabia.
Portanto, muita coisa que apareceu nesses três anos ninguém comprovou. Eu, como senador, já falava disso toda semana na tribuna do Senado. Desse mal eu não padeço.

Agora, por exemplo, a Copa do Mundo em Cuiabá foi um erro ou um acerto de gestão? Foi um erro! A escola do VLT foi um erro ou um acerto? Foi um erro. E esses erros não fui eu quem cometi, quem cometeu que assuma esta criança. A história vai demonstrar isso.

Cada dia que eu entrava em uma Secretaria, a partir da minha posse, era um buraco que existia. Fofoca existia na sociedade, até as pedras do rio Cuiabá sabiam que existia corrupção no VLT. Mas se o Ministério Público não tinha comprovação, por que eu teria? A Assembleia, o Tribunal de Contas, ninguém sabia. Essas coisas eu não sabia e não tinha obrigação de saber, porque eu não era mais procurador da República.

Agora, por que eu não terminei o VLT o erro é meu? Erro é de quem quis fazer, que roubou no trilho, que montou empresa fantasma para ganhar dinheiro do Estado. Isso foi crime.

OD – O senhor prometeu enviar para a Assembleia Legislativa a proposta de criação do Fundo de Estabilização Fiscal (FEF) e da Reforma Tributária. Muitas pessoas rechaçaram esse fundo, inclusive o seu ex-secretário de Fazenda Gustavo de Oliveira.

Em 2015 nós editamos o decreto 02, para repactuar contratos. Criamos o Cira, que já recuperou R$ 1 bilhão. Desse montante, 25% foi encaminhado aos municípios. Eu paguei mais de R$ 300 milhões de restos a pagar. Se não fosse isso, a Saúde hoje estaria em dia.

O Fundo de Estabilização, com quem concordou em ajudar, irá destinar cerca de R$ 180 milhões 100% para a Saúde do Estado.

Nós já estamos saindo da crise. Há quanto tempo não se houve falar de Poderes cobrando duodécimo? Quanto tempo que não se noticia atraso no repasse, por exemplo, aos municípios?

Existem atrasos de 2017, vocês mesmo noticiaram. Agradeço à bancada, que conseguiu R$ 100 milhões e nos ajudou muito. Foi por isso que nesses quatro meses de 2018 nós estamos pagando tudo. Esses R$ 180 milhões serão utilizados para pagar atrasos.



OD – Além dessa verba da bancada, o que mudou nas finanças do Estado de dezembro para cá?

A arrecadação cresceu. O Gallo, na Secretaria de Fazenda, aumentou os processos de arrecadação, criou novos sistemas. E a PEC do Teto, que nos permitiu pagar menos da dívida com a União.

OD – Mudando de assunto. O senhor, o doutor Mauro Zaque, o ex-juiz Julier Sebastião e a Polícia Federal foram responsáveis por desmontar o crime organizado em Mato Grosso, principalmente com a prisão do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro; e, depois, as prisões dos ex-deputados José Riva e Humberto Bosaipo, entre outros. Hoje todos estão soltos. O senhor não teme ser alvo de vinganças ou represálias?

Todos estão soltos. Parece uma festa, não é?! Será que valeu a pena? Estão soltos, andando de carro novo, família viajando para o exterior, comprando bolsa de R$ 70 mil. E a família que usufruiu e usufrui de tudo isso? Sinceramente, como cidadão, eu fico triste que isso ocorra. Devolveu o dinheiro? A família está aí usando até hoje.

OD – O senhor, no começo da entrevista, citou a operação Remora.  É sabido que adversários políticos do senhor estão montando um dossiê, a ser utilizado durante a campanha, com ênfase na Remora e na Grampolandia. A sua equipe já está se preparando para contrapor e evitar que essa pecha de leniente com a corrupção cole no senhor?

Eu não estou preocupado com isso. Eu estou preocupado em trabalhar para o Estado. Não me preocupo com adversários, eu honro os votos que eu recebi.

OD – Os deputados Zeca Viana e Valdir Barranco impetraram ações contra o senhor, por suposta improbidade administrativa, nos casos dos repasses aos municípios nas áreas da Saúde e, na Educação, por meio do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Como o senhor deve conduzir estes processos?

Eles fazem a representação, cabe ao Ministério Público acatar ou não. Eu tenho total tranqüilidade. O PT, o Barranco, são exemplos de honestidade, não é?!

OD – Voltando a falar sobre seus ex-aliados, na semana passada o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, partido pelo qual o senhor foi eleito senador e governador, o chamou de traidor. O senhor acredita que existe algum remorso e, se sim, a que o senhor atribui essa mágoa?

Quando eu entrei no PDT eles me conheciam. Eu não mudei. Eles podem fazer qualquer sorte de crítica, a minha relação é com o cidadão e não com o PDT.

OD – O senhor anunciou que construiu 2,6 mil quilômetros de asfalto em Mato Grosso. O ex-governador Silval Barbosa disse que isso só foi possível graças ao governo dele, que deixou dinheiro amarrado em programas carimbados. Isso contraria o que o senhor sempre diz, que o Estado estava “arrombado”.

A democracia é muito bonita. Até criminosos confessos podem criticar. Graças à Deus terminou o governo dele, senão esse tal dinheiro teria sido roubado. Certas pessoas não podem nem acordar muito cedo, porque roubam mais.

OD - O ex-secretário Eder Moraes apresentou um projeto na Assembleia Legislativa, que propõe mudanças no Fethab. O senhor disse em entrevista que isso era uma piada. Sem entrar no mérito da vida pregressa do Eder, o Governo não está disposto nem a analisar a proposta?

Sinceramente, eu tenho mais o que fazer.

OD – E caso a Assembleia entenda que a proposta é salutar? Como o Governo irá se posicionar?

Cabe ao Poder Executivo, de acordo com o artigo 61, apresentar projetos sobre o Fethab. Não cabe à Assembleia. Eles podem debater e é bom que se debata. Mas isso é decisão do Executivo, só eu posso apresentar.

OD – A Semana Santa já passou e o senhor já comeu a famosa canjica. Quando o governador Pedro Taques irá começar a discutir oficialmente seu futuro político? O seu grupo, afinal de contas, vai estar no mesmo palanque que Jayme Campos e Mauro Mendes?

Eu vou decidir o meu futuro no momento correto. Não estou com pressa. Até casamento acaba, por que uma relação política não pode acabar? Jayme é meu amigo, converso com Jayme todo dia. Se acabou [a relação com Mauro] eu não sei, faz tempo que eu não falo com o Mauro e está muito bom assim.

OD – Para a gente finalizar, existe uma grande curiosidade no meio político com relação à religiosidade do senhor. O ex-governador Júlio Campos, inclusive, chegou a sugerir que o senhor tivesse sido “tocado pelos sinos do Vaticano”, por conta de o senhor ter passado a inserir “Deus” em seus discursos ultimamente, inclusive mandando seus opositores lerem a bíblia. Como o senhor responde a isso?

Eu respondo dizendo que Júlio é Júlio. E Jayme é Jayme. E o povo de Mato Grosso sabe quem é quem. Eu comi canjica com Jayme, mas não comi com Júlio.
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