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Quarta-feira, 24 de abril de 2024

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Sem moradia, 400 famílias ocupam casas de residencial com obra abandonada e sem água

Foto: Rogério Florentino Pereira/ Olhar Direto/Ilustração

Sem moradia, 400 famílias ocupam casas de residencial com obra abandonada e sem água
Por volta das 16 horas, sob o sol implacável de quase todos os dias na baixada cuiabana, o calor não dava trégua em meio à caminhada pelo Residencial Jequitibá, na Rodovia Mario Andreazza, em Várzea Grande, ocupado por cerca de 400 famílias. Lá, crianças, idosos, pessoas com deficiência, trabalhadores e desempregados, compartilham de tarefas diárias e um sonho: a casa própria.

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Com obras paralisadas desde 2015, quando a Construtora Aurora entrou em recuperação judicial, o residencial do programa “Minha Casa, Minha Vida” estava com quase toda estrutura depredada. Portas, janelas, e o teto de grande parte das casas foram destruídos. Tomado por um matagal, o conjunto habitacional era usado como esconderijo de veículos roubados, e alvo fácil para criminosos se esconderem.

Ocupado há cerca de 10 dias, os moradores limparam a área e marcaram os seus nomes nas casas,  para avisar a todos que o local já possui 'dono'. 

“Não queremos nada de graça, a realidade é que queremos pagar. Fizemos isso porque a obra já estava abandonada há mais de cinco anos. As casas já deveriam ter sido entregues, mas a construtora faliu. Eu fico indignado, pois não houve a entrega da obra”, contou o jovem, de 23 anos, Wendrio Dábio da Silva, um dos líderes do movimento de ocupação. Casado, com dois filhos e a esposa grávida do terceiro, ele vive de pequenos ‘bicos’ e precisava arcar mensalmente com R$ 400 de aluguel.

Com uma história parecida com a de Wendrio, o pedreiro de 43 anos, Jonas Fernando Corrêa, se viu obrigado a vender seu freezer para pagar três meses de aluguel. Ele, esposa e três filhos se mudaram para o conjunto habitacional, mas ainda temem o despejo. Para conseguir obter o sustento, ele capina grande parte dos quintais do Jequitibá. “A nossa condição é pouca. Estava tudo abandonado, roubaram tudo, tem casa até sem telhado”, contou.  Cuiabano, ele cobrou assistência e oportunidade de crescimento das autoridades. “Tem gente que vem de fora e cresce de uma forma tremenda, e nós da terra não temos esse respaldo de crescimento. Pois a prioridade é para o povo de fora”, reclama.

A construtora responsável pelo residencial consolidou-se em um dos maiores conglomerados de construção civil de Mato Grosso, com foco voltado para a construção de unidades habitacionais, sendo a atividade mercantil desenvolvida com a mesma estrutura administrativa, mesma contabilidade e colaboradores. No entanto, após a recuperação juducial, ainda houve indícios de irregularidade no cadastro dos que precisavam de moradia. 

Em 2015, estudos preliminares da Secretaria e Desenvolvimento Urbano, Econômico e Turismo apontaram irregularidades nos critérios das pessoas que teriam direitos a moradia. A secretaria constatou inclusive renda superior à exigida pelo programa, ou inscritos que residem em outros municípios. No Residencial Jequitibá, dos 71 contratos devolvidos, constaram 25% de falhas. 

Ciente dos problemas, o pedreiro Jean Martins, de 23 anos, afirmou que os moradores estão dispostos a pagarem pela moradia. “Nós estamos lutando para poder conseguir. Tem muito tempo abandonado, e não apareceu ninguém. Nós queremos uma resposta para fazer um acordo. Ninguém quer nada de graça, nós queremos pagar. Deixar do jeito que estava não tem como”, contou ele, com a filha de um ano no colo. Na ocasião, mostrou à reportagem onde está vive com a família.



Ainda de maneira improvisada, os familiares de Jean se acomodam em uma casa, com chão de concreto, portas e janelas quebradas e uma cama de solteiro. O restante dos móveis ainda estão na antiga residência, onde ele pagava R$ 350 mensais.  
 
Dura realidade 

Apenas uma das pessoas ouvidas pela reportagem possui renda fixa. Trata-se de um jovem cadeirante, que recebe um salário mínimo, do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Fabrício Rosa de Moraes, de 22 anos, sofreu um acidente de motocicleta, que o deixou impossibilitado de andar e trabalhar. Na época, ele trabalhava em um supermercado. Hoje faz uso de sonda vesical, que custa R$ 10, e não é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
 
Por conta da sonda, constantemente o jovem tem infecções que o levam a ficar internado no Pronto-Socorro. “Eu pagava R$ 400 de aluguel, além da energia elétrica. Não tinha condições e depois que consegui a casa, larguei tudo e vim para cá”, contou Fabrício.

A esposa do jovem, Bruna Tatiane, de 21 anos, se dedica integralmente aos cuidados de Fabrício e da filha do casal, de três anos. Ela disse que um rapaz concedeu a casa para a família, ao saber da situação que enfrentava.



“Meu esposo foi um dos últimos que chegou aqui. Um rapaz cedeu a casa para ele morar. A gente não tinha condições, o aluguel já estava atrasado. E quando chegamos aqui, o rapaz se comoveu e saiu da casa e deu para mim e pro meu esposo ficar. Essa foi uma oportunidade da casa própria para nós. Eu só tenho a agradecer, aqui só tem gente do bem”, conclui ela, que aproveitou para pedir qualquer tipo de ajuda. Seja como cadeira de banho para o marido, sonda ou até mesmo um fogão. (O contato da família é 99259-6639).
 
Necessidades básicas: falta água
 
Sem saneamento básico, Valdir dos Reis, de 40 anos, percorre mais de 10 quilômetros, de Várzea Grande, até o bairro Jardim Cuiabá, na capital, para conseguir pegar água. “Eu pego a moto e vou até o Jardim Cuiabá e pegava com galões de água”, contou. Ele é casado, tem quatro filhos com idades entre 1 e 12 anos. Atualmente não possui emprego fixo.  

Contudo, nem todas as famílias têm a mesma possibilidade e por isso vão até uma espécie de córrego encher vasilhames. “É a única água que a gente tem acesso. Eu não sei se é uma mina, se é água da chuva, só sei que todos pegam água aqui”, contou a moradora.  

Prefeitura de VG

O secretário de Comunicação de Várzea Grande, Marcos Lemos, disse que a empresa Aurora Construtora alegou problemas financeiros e entrou em recuperação judicial. Contudo, como não houve entrega, não cabe ao município fazer a fiscalização.
  
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