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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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DIA DOS PAIS

Longe dos filhos, venezuelanos e haitianos mantêm esperança de reconstruir a vida em Cuiabá

Foto: Rogério Florentino Pereira/OD

Longe dos filhos, venezuelanos e haitianos mantêm esperança de reconstruir a vida em Cuiabá
Depois de nascer e viver por 48 anos na Venezuela e celebrar o Dia dos Pais ao lado dos filhos, desta vez o professor Luís Manoel Siso irá passar a data comemorada neste domingo (12) longe da família. Foi justamente com o propósito de ajudá-los, que ele veio para a capital mato-grossense em busca de uma oportunidade. Sem alunos e sem perspectiva, Luís deixou a esposa e dois filhos com oito e nove anos de idade e seguiu para Cuiabá com grupos de venezuelanos, trazidos pela Força Aérea Brasileira (Fab), nas últimas semanas.


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“A situação na Venezuela é muito problemática, já que existe um conflito entre o Governo e a oposição. E como consequência, o povo tem passado muita fome, preços muitos caros, a comida é difícil. É difícil procurar comida lá. Por essa razão, muitos venezuelanos estão vindo para cá, solicitando ajuda do Brasil e do seu Governo. Porque o Brasil, apesar de que tem situações politicas complicadas e a crise, não tem os mesmos problemas que temos lá. Lá a coisa tá muito mal, muito forte”, contou ao Olhar Direto.
 
Os imigrantes que fogem da fome estão sendo trazidos para Roraima, Mato Grosso e São Paulo. Os atendimentos aos venezuelanos são feitos em parceria entre Prefeitura, Estado e Pastoral do Migrante. A força-tarefa fornece alimentos e também custeia alguns itens básicos de sobrevivência como água e energia elétrica.
 
O tratamento ofertado pela Pastoral é “espetacular”, segundo pontuou. “Eu trabalhei como professor. Lá eu ganhava 500 bolívar, dava para comprar dois pacotes de arroz. Só isso. Não comia carne. Muito difícil para comer. Não tem dinheiro para comprar carne, não dinheiro para compra ovos de galinha. Muito caro. Uma cartela de ovo custa 1.500 bolívar. Um mês de trabalho e não dava para comer ovo. Por isso tem muitos venezuelanos precisando de ajuda”, afirmou.
 
Luís lecionava psicologia, filosofia e sociologia para formação integral. Apesar de ter conseguido uma formação acadêmica, ele teme que seus filhos não consigam ter acesso a uma instituição de ensino superior.
 
No entanto, ele afirma que veio para a capital “mudar de vida” e pretende trazer a família para morar aqui.  “Eu tenho dois filhos. Eles ficam na Venezuela. Por isso estou aqui procurando emprego, para pegar eles lá e trazer. Preparar a morada para que eles fiquem comigo aqui”, relatou.
 
De acordo com ele, 48 anos foram necessários para ter certeza que, hoje ele quer construir uma nova vida com sua família no Brasil. “Eu vivi tempo necessário na Venezuela. Agora, eu gosto muito da cultura daqui, do idioma. Quero trocar de vida. Vamos mudar de vida. Quero trabalhar aqui. País muito unido”.
 
Para conseguir realizar o sonho de trazer os filhos para Cuiabá, ele afirma que aceita emprego em qualquer área. Luís também contou que tem capacidade de fazer o que o patrão precisar.

“Além de professor, trabalhei como serralheiro, como professor de serralheria, tudo de ferro, serviços gerais na reparação, estrutura. Tudo em construção civil. Como trabalhador, estou à disposição de emprego. Eu tenho capacidade para fazer o que o patrão precisa. O tempo que vivi na Venezuela é para ser um melhor ser humano. Da maneira como o Brasil nós acolheu, nós podemos acolher outros”, ponderou.
 
As histórias no local se cruzam. Na Pastoral do Migrante, a maioria dos alojados é homem, chefe de família, que vem em busca de uma mudança para a família. Em Cuiabá, 115 venezuelanos chegaram até o final de julho de 2018 por meio do programa oficial do Governo Federal. O número de haitianos é ainda maior. Os dados apontam 3.437. Mas os números podem ser bem maiores, já que muitos vêm por conta própria. Independentemente da nacionalidade, todos chegam a Mato Grosso com um principal objetivo: encontrar emprego.
 
Em 2010, após um terremoto de grandes proporções, centenas de pessoas saíram do Haiti. Em Mato Grosso, acabaram trabalhando principalmente na área da construção civil, movimentada pelos preparativos para a Copa do Mundo de 2014, que tinha a capital do estado como uma das sedes. Já em 2018, os venezuelanos chegam fugindo da fome no país natal, que hoje enfrenta uma inflação desenfreada, falta de empregos, alimentos, além de itens de higiene pessoal e remédios.
 
Há cinco anos, Anneau Darelus saiu da Republica do Haiti e veio para Cuiabá com esperança de uma vida melhor. Durante este período, trabalhou como soldador, pedreiro, eletricista. Por três anos, ele passou o Dia dos Pais longe do filho. Mas, agora tem motivos para celebrar. Há dois anos, ele, esposa e filhos residem em uma casa alugada no bairro Pedregal.
 
Com 60 anos, um haitiano contou à reportagem que veio para o Brasil há cinco anos. Lá, ele trabalhava como relojoeiro, mas aqui nunca conseguiu arrumar emprego por conta da sua idade.  Ele disse que o custo de vida no Brasil e muito caro e que se conseguir dinheiro voltaria para seu país de origem, por conta da idade e também para passar o resto de sua vida ao lado dos filhos.
 
Sem chances de crescimento, o artista do Equador de 45 anos, chamado Equatoriano veio para o Brasil com esperanças de atuar como mágico. No entanto, quando chegou a São Paulo, teve todos seus equipamentos roubados. Na sequência ele veio para Cuiabá e atualmente fica na Pastoral do Migrante. Ele afirma que se conseguir um emprego, pretende juntar o dinheiro para voltar para casa. “Estou precisando que me ajudem. Estou aqui há um mês, eu gostei do Brasil, mas me roubaram”, revelou.
 
Os caminhos para o emprego
 
Os caminhos para o primeiro emprego em solo estrangeiro nunca são fáceis. Em Cuiabá esse processo conta com o apoio da Superintendência Regional de Trabalho de Mato Grosso (SRTb/MT), que disponibilizou uma profissional para fazer a orientação dessas pessoas na Pastoral do Migrante.
 
A responsável pelos atendimentos é a Auditora Fiscal do Trabalho Marilete Mulinari que, juntamente com uma funcionária da ONU, tira as dúvidas dos imigrantes sobre os caminhos legais para conseguir emprego no Brasil. Elas informam sobre os direitos trabalhistas e colocam os imigrantes em contato com as empresas interessadas em contratar.
 
Apenas no primeiro semestre, a equipe já encaminhou cerca de 50 deles para postos de trabalho, embora muitos ainda permaneçam desempregados. A auditora começou a trabalhar com os imigrantes de forma voluntária em 2013, quando haitianos estavam chegando em grande número para trabalhar nas obras da Copa.
 
Segundo ela, não há nenhum impedimento para que os refugiados possam migrar para as cidades do interior, desde que tenham carteira de trabalho regular e atuem de forma legalizada no mercado. “Trabalhamos para que todos os direitos sejam respeitados”.
 
Conforme a coordenadora da Pastoral do Migrante, Eliana Aparecida Vitalino, haitianos e venezuelanos têm características diferentes, mas ambos enfrentam problemas na hora de conseguir emprego. “Os haitianos, em geral, têm mais dificuldades na comunicação e preferem trabalhos em empresas e na construção civil. Já os venezuelanos, em regra, são mais comunicativos, têm mais facilidade com o idioma, e sabem trabalhar no campo, fazendas ou como caseiros”.
 
Seja qual for o tipo de trabalho exercido pelos imigrantes, uma coisa é certa: eles possuem os mesmos direitos trabalhistas que os brasileiros e devem ser tratados sem nenhuma discriminação, o que inclui receber o mesmo salário que o colega brasileiro que exerce a mesma atividade. 

Para conseguir atuar legalmente, os imigrantes precisam cumprir as obrigações previstas pelas leis brasileira, que consistem em ter um passaporte válido de seu país de origem e vistos de entrada e de trabalho. Por fim, precisam solicitar a Carteira de Trabalho junto ao Ministério do Trabalho (MTb).

A rigor, quem não tem visto de trabalho não tem autorização do Governo Federal para atuar no Brasil. Se ainda assim forem contratados, devem receber todos os direitos trabalhistas decorrentes da atividade. 
 
Caso precisem buscar o judiciário, entender o que se passa no processo judicial também é um direito. Direito esse que é levado a sério pela Justiça do Trabalho em Mato Grosso, que possui em seu quadro de peritos tradutores aptos a auxiliar nas audiências. Hoje, tramitam no estado cerca de 110 processos de trabalhadores haitianos.
 
Idioma ainda é entrave para emprego de haitianos

Estima-se que Mato Grosso abrigue cerca 3,5 mil haitianos, conforme dados apresentados pelo Instituto de Migrações e Direitos Humanos. Entre eles, está Sadraque Bon, de 31 anos, que deixou seu país após perder tudo que mais importava na sua vida: além da casa e o terreno onde trabalhava, perdeu também o pai, que morreu de ataque cardíaco durante o forte terremoto que assolou o país.
  
A exemplo de tantos outros compatriotas, Sadraque veio para o Brasil na esperança de enviar dinheiro para sustentar a esposa e o filho, de apenas dois anos, que ficaram no Haiti. Deixou a cidade de Jacmel, a 93,5 km da capital Porto Príncipe, e percorreu o trajeto mais utilizado por seus compatriotas: cruzou a fronteira com a República Dominicana e de lá foi para o Panamá, de onde seguiu viagem até o Brasil, via Equador e Peru. Então cruzou a fronteira pela cidade de Brasileia, no Acre.
 
Lá, foi atraído pelas notícias de que Cuiabá, uma das cidades sedes da Copa de 2014, vivia um 'boom' na construção civil. No entanto, Sadraque explica que a falta de fluência no português sempre o atrapalhou na hora de conseguir um emprego, dificuldade também enfrentada pelo conterrâneo Emmanuel Germains, há três meses em Cuiabá. Falando apenas algumas palavras em português, reclama que vê venezuelanos conseguindo trabalho enquanto ele permanece à espera.

Acolhimento

As ações de acolhimento aos venezuelanos, em relação ao Executivo municipal estão sendo coordenadas pela Secretaria de Governo e envolvem as Secretarias Municipais de Trabalho e Desenvolvimento Econômico, Assistência Social, Saúde, Ordem Pública, Educação, Gestão e o Núcleo de Apoio à primeira – dama Márcia Pinheiro.
 
A Secretaria de Assistência Social está cadastrando os migrantes no CadÚnico, para que possam ser incluidos nos programas assistenciais e nas ações oferecidas pelos Centros de Referência de Assistência Social (Cras). Também estão recebendo orientações para inclusão no mercado de trabalho através do Sine.

Eliana ressalta que a instituição recebe todo tipo de ajuda. Desde alimentos, até móveis e eletrodomésticos. No entanto, camas, fogões e geladeiras em bom estado de convervação são os itens que a Pastoral mais necessita. 

Quem tiver interesse em ofertar emprego aos imigrantes e também ajudar com doações pode entrar em contato com a Pastoral do Migrante através do seguinte telefone: (65) 3641-1451

Endereço: Av. Gonçalo Antunes de Barros, 2785 - Carumbé, Cuiabá - MT, 78058-743
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