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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Derrotado por Taques em 2014, Lúdio Cabral avalia que adversário não soube ouvir a sociedade

Foto: Rogerio Florentino/Olhar Direto

Derrotado por Taques em 2014, Lúdio Cabral avalia que adversário não soube ouvir a sociedade
Em 2014, o ex-vereador por Cuiabá Lúdio Cabral (PT) tentou se eleger governador de Mato Grosso, mas acabou perdendo as eleições para o então senador da República Pedro Taques (PSDB), que naquela ocasião venceu o pleito em 1º turno, com 57,25% dos votos válidos.


Quatro anos depois, uma nova eleição, e o petista se elegeu deputado estadual, enquanto o atual chefe do Executivo amargou uma dura derrota, ficando no terceiro lugar da disputa à releição. Em entrevista exclusiva ao Olhar Direto, Lúdio avaliou que Pedro Taques fez um Governo “centralizado” em seus próprios pensamentos e vontades e, por não saber ouvir a sociedade, se tornou vítima de sua vaidade.

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“Talvez a principal dificuldade tenha sido a de diálogo, de escutar a sociedade como um todo. Foi um Governo muito centralizado no pensamento e na vontade do governador Pedro Taques. Não se governa sozinho, se governa escutando quem pensa diferente de você”, criticou o petista.

Com a experiência de dois mandatos consecutivos como vereador na bagagem, Lúdio assume a segunda cadeira do PT na Assembleia Legislativa de Mato Grosso com a declaração prévia de fazer oposição ao governador eleito Mauro Mendes (DEM), a quem também já enfrentou nas urnas, quando disputou a Prefeitura de Cuiabá em 2012.

Cabe destacar que Mauro Mendes e Pedro Taques, tanto em 2012 quanto em 2014, eram aliados. Este ano, durante a convenção que anunciou sua candidatura, Lúdio afirmou que adoraria concorrer novamente contra os antigos adversários, mas acabou optando pela candidatura que o elegeu deputado estadual.

Veja abaixo a íntegra da entrevista com o deputado eleito, que falou ainda das eleições presidenciais que derrotaram seu partido e sagraram a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), a quem Lúdio também promete fazer oposição ferrenha.

OD – A voz das ruas deu um recado claro para a classe política este ano, prova disso teremos uma Assembleia Legislativa cuja renovação atingiu 58%. O senhor, embora deputado de primeiro mandato, não é um político de primeira viagem. Como avalia a chegada desses novos colegas e como acredita que será trabalhar neste novo cenário?

Lúdio -
Vai ser uma Assembleia nova, bastante plural. Nenhum partido vai ter hegemonia absoluta, porque o partido que elegeu mais deputados só elegeu três, outros, como é o nosso caso, elegeram apenas dois e, alguns, apenas um deputado. São 14 novos deputados de várias origens, de várias identidades, então será uma Assembleia bastante diversa e na minha leitura isso é bastante positivo. Agora, nós precisamos aguardar qual será o posicionamento, a postura, o comportamento político de cada um desses candidatos. E só aí nós poderemos avaliar se essa renovação terá produzido um efeito realmente produtivo para a vida da população.

OD - Tendo em vista as legendas que elegeram deputados aqui no Estado, há uma expectativa de criação de bancadas, a exemplo do Congresso Nacional, que defendam pautas polêmicas como o tal armamento da população. Esta pauta, inclusive, é muito bem vista entre o eleitorado mato-grossense. Como o senhor deve atuar frente a essas questões?

Lúdio -
Nós temos que aguardar como vai se estabelecer isso. Cada parlamentar tem o direito de se aliar, de se aglutinar em blocos – por pautas, por linhas de pensamento -, acho que isso é natural da democracia. Agora, o que eu tenho claro é aquilo que nós do PT, e eu particularmente, iremos fazer na Assembleia. Nós temos um compromisso com os pequenos e com a população trabalhadora, com aqueles que precisam de serviços públicos de qualidade na saúde, na educação, na segurança, na assistência social, na agricultura familiar. Então, é para defender os interesses dessa parcela da população que nós vamos para a Assembleia, para fortalecer os serviços públicos, para valorizar o servidor, para defender um outro modelo de desenvolvimento do nosso Estado que não fique dependente apenas da agricultura de grande escala. E que mesmo essa agricultura sofra um processo gradativo de industrialização para que a produção fique no mercado interno e distribua renda gerando arrecadação para o Estado. Nós defendemos um outro modelo de orçamento que tenha como prioridade alocar recursos para as áreas essenciais e para isso tem que cortar privilégios de determinados setores. Os bilionários do Estado que detém o poder econômico e político há algumas décadas terão de ser enfrentados, cortando privilégios e fazendo uma reforma tributária para que o Estado possa se desenvolver. Então, é dentro dessa linha que a gente vai atuar. Que os Poderes pactuem a contribuição que cada um dará do ponto de vista financeiro para enfrentar o drama da saúde, por exemplo.

OD – O governador Pedro Taques firmou um compromisso de encerrar o Fethab 2. Mauro Mendes, por sua vez, disse que o fim do Fundo trará prejuízos ao Estado. O martelo ainda não foi batido sobre essa questão. Caso essa discussão fique a cargo da próxima legislatura, como o senhor deve se posicionar?

Lúdio -
Eu acho que enquanto não se faz uma reforma tributária consistente é preciso manter o Fethab. E imediatamente, ao assumir o Governo, há um conjunto de renúncias fiscais que podem ser reduzidas por iniciativa exclusiva do próximo governador, porque muitas delas são resultados de portarias ou decretos que a própria ação governamental, independente da aprovação da Assembleia ou não, pode alterar. Isso significa trazer para o Estado recursos na casa de R$ 2,5 bilhões, isso já de imediato. Mas fundamentalmente nós precisamos de uma reforma tributária, que alivie os pequenos e obrigue os gigantes a dar a necessária contribuição. Chega de concentração de riquezas nas mãos de poucos, chega de bilionários trocando de jato executivo todo ano. Eles precisam pagar impostos para que o Estado realize uma saúde e uma educação de qualidade, porque eles se apropriam das riquezas do Estado e não compartilham com a maioria da população.

OD – A atual gestão prometeu uma reforma tributária que não se concretizou. O senhor deve encabeçar esse debate a partir do próximo ano?

Lúdio -
Nós vamos fazer esse debate sim, começando exatamente pela revogação da Emenda do Teto de Gastos, é a primeira proposta que eu vou apresentar. Mas nós vamos estimular esse debate, sobre a necessidade de uma reforma tributária para alterar a lógica de formação do orçamento do Estado. Eu espero sinceramente que o próximo governador não cometa o erro que o atual cometeu, porque o enfrentamento das dificuldades financeiras do Estado não passa pelas despesas, é muito pouco o que se pode movimentar na redução de despesas. Na minha leitura, onde é mais possível fazer essa redução é no número de cargos comissionados e do apadrinhamento político-partidário. Mas o que nós precisamos é alocar mais recursos em áreas que são essenciais. Não é pelo caminho de enxugar despesas que você superará as dificuldades financeiras, nós temos que enfrentar o drama da receita e isso só vai se dar por meio da taxação dos gigantes.

OD – O senhor também mencionou contribuição dos Poderes, isso envolve corte no duodécimo?

Lúdio -
Na minha leitura isso é tarefa do governador. Eu entendo que é extremamente necessário um pacto, que todos sentem à mesa e pensem qual a contribuição que cada um pode dar para que nós tenhamos condições de alocar recursos de forma emergencial. Se isso implicar na redução de duodécimo eu serei favorável.

OD – O senhor disse que não concorda com essa política de redução de despesas, mas a principal proposta do governador eleito Mauro Mendes é, tão logo assuma, cortar drasticamente o número de cargos e secretárias.

Lúdio  -
Não basta diminuir o numero de secretárias, precisa é reduzir o número de cargos que são objeto de aparelhamento político-partidário e emponderar o servidor público. Nós precisamos dar ao servidor público a capacidade de ocupar os cargos de comando em áreas que são estratégicas. A gente tem que aguardar o que virá de proposta concreta, mas se essas propostas forem no sentido de penalizar o servidor por conta do discurso da crise financeira terá a nossa oposição firme e sistemática.

OD – Tradicionalmente quando se fala em corte de secretárias o Esporte, a Cultura e a Agricultura Familiar são as primeiras a serem penalizadas. Como o senhor vai reagir, caso essas Pastas entrem nos cortes previstos por Mauro Mendes?

Lúdio -
São sempre penalizadas áreas que são importantes para a qualidade de vida da população e para o desenvolvimento do Estado. A Cultura é essencial para a manifestação da vida em sociedade, inclusive para o fortalecimento da nossa economia. O esporte da mesma forma. E essas áreas precisam ser reconhecidas pelos Governos. Mas o problema não é você ter uma secretária para essas áreas, o problema é muitas vezes concentrar os recursos em despesas que não produzem resultados. Eu acho mais importante manter essas áreas do que extingui-las apenas com discurso que precisa reduzir despesa.

OD – O senhor é um político bastante experiente. Em linhas gerias, onde acha que o governador Pedro Taques errou?

Lúdio -
Talvez a principal dificuldade tenha sido a de diálogo, de escutar a sociedade como um todo. Foi um Governo muito centralizado no pensamento e na vontade do governador Pedro Taques. Não se governa sozinho, se governa escutando quem pensa diferente de você. E do ponto de vista prático, algumas questões centrais não foram enfrentadas no início do mandato, uma delas e exatamente o orçamento, que eu citei anteriormente. E eu espero que o Mauro não cometa esse mesmo erro, de não enfrentar os barões da soja.

OD – A Assembleia tem pela frente a análise de dois processos contra o governador Pedro Taques, um deles pede o seu afastamento. Qual a avaliação do senhor sobre essas ações?

Lúdio -
Cada Poder tem as suas responsabilidades e tem que cuidar delas. Na minha leitura, o principal julgamento que o atual governador recebeu foi o julgamento da população que não o reelegeu. Então, todas essas denúncias têm que ser tratadas no espaço específico. Em minha opinião não cabe, por conta de sermos adversários políticos, nos aproveitarmos dessas situações para politizar questões que devem ser tratadas no âmbito da Justiça, com todo o rigor, com o amplo direito de defesa e com as ferramentas que são próprias.

OD – O Estado de Mato Grosso se mostrou bastante conservador nessas eleições, vide o resultado expressivo da eleição do presidente eleito Jair Bolsonaro. Existe um clamor da sociedade para que os Legislativos pautem alguns temas como a questão de gênero dentro das escolas, de ideologia política e também a questão do desarmamento. Qual o posicionamento do senhor frente a essas proposições?

Lúdio -
O Estado tem que ser laico, tem que respeitar todas as manifestações de natureza espiritual e religiosa, todas as matrizes. Cabe ao Estado cuidar dos direitos de toda a população, portanto não cabe nenhum tipo de discriminação, seja de raça ou de gênero, de qualquer natureza. Toda pessoa é portadora de direitos e esses direitos têm que ser respeitados. Tem que ter política pública voltada para a defesa da população LGBT, dos direitos da mulher, da população negra, dos direitos da juventude, especialmente a que está mais vulnerável na nossa sociedade. No âmbito do Poder Legislativo estadual esses temas têm que ser tratados a partir desses princípios. Para mim, algumas pautas têm uma natureza muito mais de enfrentamento político que não tem sentido trazer para o ambiente do Parlamento, inclusive algumas coisas que são falsas. Esse discurso da escola sem partido, na verdade, quer colocar um partido dentro das escolas. A vida em sociedade é orientada pela política em qualquer esfera e democraticamente todas as visões, todas as linhas de pensamento têm que ser tratadas especialmente no âmbito da educação. Esse debate é sem sentido e reacionário que, na verdade, quer introduzir visão partidária por outro viés.

OD – O senhor, além de político há bastante tempo, também é medico. Uma das agendas defendidas por Mauro Mendes para solucionar os problemas na área da saúde é a criação de consórcios. Qual a opinião do senhor sobre essa proposta?

Lúdio -
Na minha opinião tem questões que são essenciais na saúde do Estado para o próximo governador. Primeiro que há um modelo de gestão dos serviços do Estado que é baseado na contratação de entidades privadas, que se iniciou em 2011 com a contratação das OSS’s e que passou a ser o modelo central dos serviços do Estado e que tem um custo muito alto. As OSS’s não têm raízes nos Estados, não conseguem produzir na escala necessária para as necessidades da população e qualquer dificuldade financeira que o Estado passe em repassar recursos elas rescindem contratos e vão embora, deixando o serviço sucateado. Para mim, o Estado tem que assumir a gestão direta dos seus serviços. Onde houver possibilidade de realizar parceria com os municípios é importante que isso ocorra, mas o Estado precisa muito mais ajudar os municípios, do que o inverso. Os consórcios têm que ter esse sentido. Primeiro que eles têm que ser públicos e segundo que os serviços estaduais têm que ser diretamente geridos pelo Estado, com alocação de pessoal concursado. Há uma demanda bastante objetiva, é preciso urgentemente realizar concurso público na área da saúde. O ultimo concurso realizado na saúde em Mato Grosso aconteceu em 2002, são 16 anos, foi o concurso em que eu fui aprovado. Então tudo que vier nessa linha é o que eu entendo necessário para o Estado dar conta da sua tarefa. Os hospitais regionais, por exemplo, podem fazer parcerias com as Universidades. Alguns deles estão em locais que concentram campus da UFMT e da Unemat onde tem cursos na área da saúde. Fazer desses hospitais regionais hospitais escolas permite o aporte de recursos do Ministério da Saúde e da Educação e melhora a qualidade do atendimento, além de fortalecer essa concepção de serviço 100% público.

OD – O Anuário de Segurança Pública apontou um aumento de 27% nos casos de feminicídio em Mato Grosso. Nosso estado também é um dos líderes quando o assunto é morte de população LGBT+. A eleição do presidente Jair Bolsonaro, que é publicamente contra a defesa dessas classes, tem gerado um cenário de incerteza que levou entidades como a OAB a alertarem para o retrocesso de direitos adquiridos a partir do próximo mandato governamental. O senhor pretende atuar em favor desses grupos minoritários?

Lúdio - Nosso mandato será a voz dessas parcelas vulneráveis da população. Isso é um processo de construção histórica que a gente vem fazendo, de manter vínculos com movimentos sociais que organizam esses setores da população. As políticas públicas devem ser realizadas sem preconceitos, sem discriminação e protegendo essas pessoas dos riscos que elas vivenciam numa sociedade tão contaminada pelo ódio e pelo preconceito atualmente. Nós vamos viver um período bastante sombrio da nossa história, porque há uma ameaça concreta a democracia e as instituições democráticas no discurso do candidato que se elegeu presidente da República, antes e ao longo da campanha. Há setores da sociedade muito radicalizados nessa lógica do preconceito, da discriminação e do ódio contra minorias e contra a militância de esquerda. É um futuro Governo que sinaliza para uma política ultra-neo-liberal de retirada de direitos da nossa população, da aposentadoria, de direitos trabalhistas e desse ataque aos direitos das populações mais vulneráveis. E cabe à nós do campo progressista, não só o PT, mas todos os partidos e lideranças políticas de centro, artistas, intelectuais, academias, universidades, estudantes e professores, enfim, cabe à nós nos abraçarmos em um movimento de resistência ao risco de autoritarismo que se instala. Vamos nos organizar, mas vamos aguardar que o processo Governo respeite essa democracia e que respeite o direito de manifestação dessa população.
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