Nem parece que o atual campeão da Taça Libertadores está ali, na região periférica de Buenos Aires, rodeado por casas humildes, uma favela, e pouquíssima movimentação. Punido pela Conmebol por causa de incidentes com sinalizadores na decisão continental de 2014, o San Lorenzo não poderá receber torcedores no Nuevo Gasometro nesta quarta-feira, quando enfrenta o Corinthians e faz sua estreia em casa na competição. Por isso, a região nem dá sinais de que terá um grande confronto continental nos próximos dias.

A dois dias do jogo, portões fechados. Exatamente como deve ser na quarta-feira. Ninguém pôde ter acesso à parte interna do estádio, apenas às portarias. O San Lorenzo havia treinado ali pela manhã. O Corinthians fará o mesmo na tarde desta terça.

A preocupação maior do torcedor do “Ciclón” é outra. O clube vive a expectativa de retomar suas raízes com um novo estádio que já tem nome: Papa Francisco. Nascido no bairro de Boedo, o San Lorenzo teve de sair em 1979 por causa de uma dívida que não parava de crescer – vendeu o terreno ao governo de Buenos Aires, na época em regime militar, e viu o campo ser demolido para a construção de um hipermercado.


O prédio da rede Carrefour ainda está em funcionamento, mas será realocado em breve para o início da construção da arena do San Lorenzo. A aprovação da Lei de Restauração histórica facilitou a vida do “Ciclón”, que pôde readquirir o terreno na Avenida La Plata para realizar o sonho de voltar para casa. A estimativa é de que a obra chegue ao custo de US$ 75 milhões.

Segundo a assessoria de comunicação do clube, as obras devem começar ainda em 2015. A diretoria ainda está levantando recursos e observando a melhor maneira de utilizá-los. O San Lorenzo pretende também ajjudar na construção de uma escola e mais espaços de lazer no bairro.


O Nuevo Gasometro fica a cerca de 2,5 quilômetros do antigo estádio. A capacidade é de 40 mil pessoas, que costumam fazer um inferno para os adversários. Sorte do Corinthians, que jogará num estádio silencioso. Apesar do título da Libertadores e de muitas grandes vitórias conquistadas lá, a saudade permanece em Boedo.


Torcedor ilustre do “Ciclón”, o Papa Francisco aparece caricaturado na porta principal da sede do clube – esta sim, ainda localizada no bairro de origem. Em setembro do ano passado, o presidente Matías Lammens confirmou o retorno do San Lorenzo ao seu antigo território. O estádio com o nome do pontífice também terá capacidade para 40 mil.


O Papa, claro, dá ainda mais força a um clube que era motivo de chacota dos rivais há até bem pouco tempo. Entre os cinco considerados grandes de Buenos Aires, só o San Lorenzo não tinha a Libertadores – apesar de ter conquistado a Copa Mercosul em 2001 e a Sul-Americana em 2002. O time era conhecido por “Club Atlético Sin Libertadores de América”, paródia com o Club Atlético San Lorenzo de Almagro. 


Agora, porém, o torcedor pode se gabar de ter a conquista. E, em breve, de ter sua identidade resgatada no retorno a Boedo.