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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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Brasileira narra estupro e vontade de ficar no Suriname

Alvo de tráfico de seres humanos, ex-prostituta de garimpo e supostamente estuprada durante o ataque de descendentes de quilombolas a brasileiros no Suriname durante a véspera do Natal, a ex-dona de casa Elisa (nome fictício), 29, nem pensa em voltar ao Brasil. O ouro fala mais alto, conforme ela contou à Folha.


Uma das 19 pessoas que afirmam ter sofrido violência sexual durante o conflito, sua história ilustra o trajeto pelo qual passam muitas das mulheres que chegam ao país. 

Evangélica, nasceu em Imperatriz (MA) e migrou para Curionópolis (PA), onde se casou com um vaqueiro, "homem bacana, um pai exemplar, mas sem domínio com a bebida", que a espancava.

Há dois anos, já com três filhos --hoje com 15, 14 e 11 anos-- e sem saber como sustentá-los, decidiu que escaparia daquela vida aceitando a proposta de uma amiga, que conhecia uma aliciadora de garotas. "Vamos levar você para o cabaré, dá pra ganhar muito", lhe disseram.

Aceitou se endividar em cerca de R$ 4.000 para pagar uma viagem até um garimpo do Suriname, onde passou "uns meses", o suficiente para saldar o que devia. Fazia programas com homens, "uns até legais", que garimpavam na região.

Livre, foi cozinheira do local até economizar para abrir uma cantina em área de exploração de ouro na Guiana Francesa.

O ataque

No final deste ano, ela já tinha quase todo o dinheiro para comprar uma casa e voltar para o Maranhão. Mas tudo --R$ 30 mil em ouro, máquina fotográfica digital, celular-- foi roubado no ataque dos descendentes dos quilombolas.

Elisa disse ter demorado cinco dias para ir até Albina e comemorar o Natal com os outros brasileiros. Viajou pela floresta de canoa, carro e dezenas de horas a pé. Quando enfim chegou, com uma amiga e dois amigos, mal deu tempo de festejar.

"Vieram correndo, dizendo que tinham matado um preto", disse, sobre o incidente que começou o conflito.

Na confusão, ela relatou ter sido colocada em um quarto de uma pensão, espremida com "um monte" de outras pessoas, "uns em cima dos outros".

Até os homens arrombarem a porta e começarem a "rasgar a blusa, a tentar beijar à força", sob os olhares de todos, segundo contou. "Eles [maroons] falavam: "Tira [a calça], tira!".

Brandindo uma garrafa de uísque quebrada na mão e a ameaçando, um deles a penetrou, depois que ela percebeu "que não tinha mais jeito".

"Graças a Deus, não fui espancada, mas o que fica é a dor na alma." No corpo, as feridas foram provocadas por pequenas esferas de metal que os "morenos" --como os brasileiros se referem aos maroons-- usam na ponta do pênis, espécie de piercings, segundo Elisa.

Ela foi submetida a exames ginecológicos, mas os resultados ainda não saíram.

"Estava indo tudo certo, até isso. Foi um sonho atrapalhado, mas não vou desistir. Como comprar minha casa ganhando R$ 300 por mês? Só não vou embora daqui porque não tenho nada fora minha vida."

Desde o episódio, não consegue dormir no quarto de hotel com cerca de 4m2 onde está na capital, Paramaribo. Um médico do governo receitou soníferos, em doses cada vez maiores --que não têm funcionado.

Assim que puder, diz ela, voltará para a mata.
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