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Sábado, 20 de abril de 2024

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Entre tapas e beijos: os oito meses do casamento de Campos e Marina

Problemas da aliança começaram em SP, onde casal não conseguiu impor candidatura que absorvesse desejo de mudanças soprado pelas manifestações de junho de 2013


Com festa de primeiro aniversário marcada para as eleições de outubro, a aliança entre o presidenciável do PSB, Eduardo Campos, e a fundadora da Rede Solidariedade, Marina Silva, ainda não está em crise, mas apresenta sinais claros de desgaste.

Os problemas começaram por São Paulo, uma espécie de tambor de ensaio da disputa eleitoral, onde o casal não conseguiu impor uma candidatura própria que absorvesse o desejo de mudanças soprado pelos ventos da jornada de manifestações de junho do ano passado. Impotente para reverter um acordo que já estava fechado antes do casamento, Campos lavou as mãos, deixando a legenda paulista nas mãos do governador Geraldo Alckmin, símbolo de uma continuidade de duas décadas.

Campos terá o candidato a vice de Alckmin, o deputado federal Márcio França, presidente estadual da legenda, mas dificilmente erguerá um grande palanque no maior colégio eleitoral do país.

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“Foi um casamento de conveniência e de última hora. Até agora não apresentou os resultados esperados e há problemas regionais atrapalhando a relação de Eduardo e Marina”, avalia o cientista político Thales Castro, da Universidade Católica de Pernambuco.

Também há ruídos no Rio de Janeiro – apoiando o candidato do PT, Lindberg Faria – e em Minas Gerais, onde o PSB ainda procura um nome de consenso para substituir o deputado Júlio Delgado. No total, o partido não conseguirá lançar candidaturas próprias em mais de dez estados, um avanço fraco para um presidenciável que precisa de capilaridade.

As alianças regionais ainda representam o grande desafio para o casal mais badalado da política brasileira. “Se os dois estão comprometidos a superar a velha política, Marina deveria entender que o processo requer habilidade e jogo de cintura. Ela deveria aceitar os palanques exóticos”, diz o cientista pernambucano.

Histórico

O cortejo da noiva impôs uma mudança de comportamento no pretendente. Na política desde adolescente - ele aprendeu com o avô, o ex-governador Miguel Arraes - e dono de uma fazenda no agreste pernambucano, Campos se viu obrigado a reduzir o assédio aos grandes do agronegócio para construir uma plataforma de desenvolvimento com sustentabilidade.

Marina, como se sabe, surgiu na política como defensora das florestas acreanas. Ela iniciou seu ativismo ao lado de Chico Mendes e ganhou notoriedade combatendo justamente os fazendeiros que perseguiam e matavam seringueiros e ambientalistas. O verde de Marina acrescentou uma nova tonalidade ao vermelho dos socialistas e reforçou o discurso de Campos na defesa do meio ambiente.

Arestas aparadas, e unidos, o primeiro reflexo do casamento foi o fim do namoro de Campos com o DEM que, com 28 deputados (a sétima bancada) e quatro senadores (mesmo número do PSB), deve migrar em bloco para a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG).

“A Marina tirou de Eduardo Campos seu principal ativo, que era a capacidade de construir uma aliança nacional. Ela é intransigente, intolerante, sectária, talibã e metida a dona da verdade. Por isso nos retiramos. É 100% responsabilidade dela”, afirma o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO). A ex-senadora detonou a aproximação de Caiado a Campos argumentando que não poderia estar no mesmo palanque de um inimigo histórico dos trabalhadores rurais, das comunidades indígenas e articulador da derrota do Código Florestal no Congresso.

Caiado diz que o casamento não afastou apenas partidos. “O Eduardo chegou a suscitar empolgação no grande empresariado e no agronegócio, mas esses setores estão migrando para o Aécio (senador Aécio Neves, presidenciável do PSDB) por causa das posições de Marina”, provoca o fundador da extinta União Democrática Ruralista (UDR), entidade que pregava o enfrentamento armado aos sem-terra e de evidente incompatibilidade com os propósitos da Rede. Marina atribui a seu gesto a possibilidade de levar a eleição presidencial ao segundo turno.

Ainda é cedo para se vislumbrar o desempenho dos principais candidatos, mas pesquisas indicam que a presença de Marina, inegavelmente, deu musculatura ao socialista. “Antes, ele tinha entre 2% e 3%. Saltou para 7% a 8%. A capacidade de transferência de Marina está entre 3,5% a 7,5% do que ela tinha, o que é baixo”, diz Thales Castro.

Segundo ele, os dados refletem a desconfiança captada pelas classes média e alta entre os discursos desenvolvimentista e ambientalista que marcaram a história do casal e de seus partidos.

“O casamento perfeito é aquele que resiste às imperfeições dos casados”, filosofa um dos porta-vozes da Rede, o deputado Walter Feldman (PSB-SP). Ele reconhece que há dificuldades regionais e dentro do próprio partido, mas afirma que elas não atrapalharão o projeto de um novo modelo político para o País.

Feldman acredita que é possível superar os problemas no Sudeste antes da definição do quadro eleitoral. As negociações em São Paulo podem resultar na indicação de um nome ligado à Rede para disputar o Senado, vaga propositalmente deixada aberta por Alckmin para adoçar o grupo de Marina caso o ex-prefeito Gilberto Kassab, do PSD, aliado da presidente Dilma Rousseff, desista da coligação com os tucanos em São Paulo. Feldman é cotado para a vaga, com apoio da Rede.

Aliado de Campos na eleição presidencial e de Alckmin em São Paulo, o deputado Roberto Freire (PPS-SP) acha que a aliança entre PSB e Rede contribuiu para o fortalecimento das oposições na disputa presidencial e não descarta mudanças bruscas no cenário atual. “Mesmo depois das convenções, tudo pode mudar. O período é de estresse”, afirma.

A presença de Marina como candidata a vice na chapa do PSB ajudou a levar para o palanque de Campos três nomes de peso dos chamados independentes do PMDB: os senadores Pedro Simon, no Rio Grande do Sul, Luiz Henrique, em Santa Catarina, e Jarbas Vasconcellos, de Pernambuco - este com capacidade de fortalecer a campanha socialista no Nordeste, onde Lula também é forte.

Thales Castro acha que se de um lado Marina contraria a ala desenvolvimentista do PSB, de outro pode estimular o eleitorado indeciso e ávido por mudanças a votar em Eduardo Campos. “O problema é que no Brasil não se vota no vice, mas no cabeça de área”, diz o cientista político.

O rompimento dessa tradição – interrompida pelo golpe de 1964 ao derrubar João Goulart, eleito vice por um partido diferente do então candidato a presidente – pode ser o grande desafio de Marina. E de seu casamento com Eduardo Campos.
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