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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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Mulher preserva cemitério com 50 mil escravos debaixo de casa no Rio

A Praça Quinze, as igrejas, o Paço Imperial e o chafariz do Valentim testemunharam mais de dois séculos de mudanças. A cidade planejada para o futuro sonha com sua própria imagem no passado.

Mas tinha um viaduto no meio do caminho para o mar. Em cinco segundos ele foi ao chão. Os motoristas vão fazer o mesmo trajeto em um túnel que está sendo aberto 40 metros abaixo da superfície. Quando ficar pronto, no ano que vem, ele terá 3,4 quilômetros de extensão. Será o maior túnel para a passagem de carros do país.

Os buracos no subterrâneo abriram as portas do passado. Nos montes retirados das obras, surgem cacos, lembrança das famílias que habitaram a região.

As pedras irregulares fazem parte de um sítio arqueológico. O Cais do Valongo recebeu, somente em cinco décadas, um milhão de escravos.

“E esta região era um complexo dedicado ao tráfico da escravidão, as pessoas chegavam aqui, as que chegavam doentes iam para o lazareto, as que chegavam mortas iam para o cemitério dos escravos, que, na verdade, era uma vala comum, uma dimensão bastante desumana de como isso acontecia.”, conta o presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade Washington Fajardo.

Em ruas do Rio, os africanos que chegavam muito magros, iam para as chamadas casas de engorda. Mas muitos não resistiram aos suplícios da viagem e acabaram no maior cemitério de escravos do país. Ele foi descoberto por acaso durante as obras na casa de uma família, em uma vizinhança. Dezoito anos após a descoberta, a dona da casa continua morando no mesmo lugar.

Globo Repórter: Mas pra sua família, como foi sentir isso, em casa?
Merced Guimarães, empresária: A minha família, ela, por parte das minhas filhas, elas não gostaram muito da história, não. Porque elas estavam na pré-adolescência e isso atrapalhou o sonho do quarto, da reforma, da piscina.

Ela fundou uma instituição de memória e pesquisa, que recebe visitantes e promove palestras.

“A gente estima que se tenha aqui debaixo enterradas mais de 50 mil pessoas. Eu acho que isso aqui é uma missão, eu já pego como uma missão, de ser a voz de 50 mil, que foram jogados como se fossem lixo. Tem gente que não entra aqui comigo e eu falo ‘Nossa, por quê? Você tem medo de cemitério? Tenha medo de vivos, não tenha medo de mortos.’”, diz a empresária.

Debret retratou época em que a população de escravos era maioria no Rio

Os negros, escravos ou livres, de várias nações africanas, já foram a imensa maioria da população desta cidade, retratada pelo pintor e arquiteto francês Jean Baptiste Debret. Repórter atento, cronista do cotidiano, Debret desenhou o barbeiro que atendia os fregueses no meio da rua, o sapateiro com uma profusão de sapatos amontoados e pendurados no teto da pequena loja. Muitas dessas profissões resistem até hoje na cidade. 

De repente, parece que o tempo não passou. E os cariocas tomaram outras vezes as ruas e praças do centro da cidade para fazer história.

Do terraço de um prédio, em frente à Igreja da Candelária, o fotógrafo Evandro Teixeira acompanhou a missa em protesto pelo assassinato do estudante Edson Luís de Lima Souto em março de 1968.

“Nós estávamos aqui desse prédio, desse local, daqui de cima, e a cavalaria chegou arrasando com tudo”, lembra o fotógrafo Evandro Teixeira.

“Os padres fecharam a igreja com medo. E aí aqueles fiéis que não conseguiram entrar e ficaram do lado de fora, aí esses sim, esses foram massacrados, pisoteados, foi uma coisa terrível. Mas o jornalismo teve muita coragem nessa época. E pra isso nós estamos aqui contando aqueles momentos, quantos anos depois?”, relembra o fotógrafo.

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