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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Queda é a principal causa de hospitalizações de crianças no Brasil

Para especialista, acidentes com vítimas de até 14 anos são “grave questão de saúde pública”


Um menino de três anos fica gravemente ferido ao cair da sacada de um hotel no Rio Grande do Sul. Em Pernambuco, uma garota de seis anos é resgatada após cair em um poço com 45 metros de profundidade. No interior de São Paulo, um garoto de dez anos despenca do 10º andar de um prédio e só sobrevive porque atinge o telhado da garagem. Os casos aconteceram em fevereiro deste ano, mas semelhanças não param por aí. As três histórias dão um contorno real a uma estatística.

Levantamento da Organização Não Governamental Criança Segura aponta que as quedas ocupam o primeiro lugar no ranking de hospitalizações de crianças vítimas de acidentes no Brasil e é a quinta causa externa de morte. Elas podem ocorrer de diversas maneiras: de escadas, de lajes ou, até mesmo, em brincadeiras cotidianas, como skate e bicicleta. De acordo com a pesquisa, que é baseada em números do DATASUS/Ministério da Saúde, quase 60 mil meninas e meninos de até 14 anos são internados, anualmente, em razão desse tipo de ocorrência.

Em 2012 (dado mais recente), foram 122.631 hospitalizações de crianças por acidentes — mais de 300 por dia. Depois de queda, as principais causas são trânsito (14.720), queimaduras (20.187), intoxicações (3.636), sufocações (625), afogamentos (254), acidentes com arma de fogo (149).

Ainda conforme o levantamento, as quedas e todos os outros acidentes somados representam a primeira causa de morte e a terceira de hospitalização de vítimas entre 0 e 14 anos, o que torna o problema  uma “grave questão de saúde pública”, segundo avalia a coordenadora nacional da ONG Criança Segura, Gabriela Guida de Freitas.



Para Gabriela, os recursos destinados às hospitalizações poderiam ser empregados em outras áreas se houvesse um trabalho focado na prevenção. O levantamento da instituição mostra que os custos por internação das vítimas infantis, para o SUS (Sistema Único de Saúde), em 2012, foram de R$ 80 milhões — as quedas representaram gasto de R$ 29 milhões.

— É muito recurso que poderia ir para a educação, para a prevenção, por exemplo.

De acordo com a ONG, 90% dos casos poderiam ser solucionados com ações “como a disseminação de informações sobre o tema e a mudança de comportamento”.  A coordenadora ressalta que é preciso desconstruir a ideia, arraigada no País, de remediar ao invés de evitar.

— O acidente tem algo muito característico. É fácil de resolver. Não é como um câncer, que exige investimento em ciência, em tecnologia para descobrir a cura. É uma mudança de comportamento, é um trabalho educativo. É ter outro olhar. De forma bem ampla, que a cultura de prevenção se torne prioridade para nós. Temos que parar de pensar que é isso frescura, que só vai acontecer com o filho do vizinho. Acidentes são a causa [externa] que mais mata criança no Brasil.

Gabriela acrescenta que a cultura de prevenção precisa ser desenvolvida não só na sociedade, mas também se tornar prioridade para o governo, por meio de políticas públicas que garantam infraestrutura e ambientes seguros para o lazer, na elaboração de leis e de fiscalização adequadas.

— Deve estar dentro do planejamento de governo, incluindo o planejamento orçamentário [para] que ele invista em campanhas educativas. É preciso também toda uma estrutura de governo para criar a lei, para fiscalizar de forma que ela realmente se torne efetiva.

Como exemplo de falhas na fiscalização, ela cita a obrigatoriedade do uso da cadeirinha para transportar em carros de passeio crianças de até sete anos e seis meses e a proibição da venda álcool líquido com mais de 54º Gay Lussac (46,3 INPM), em vigor desde 2013 — a medida teve a finalidade de reduzir a incidência de queimaduras provocadas pelo produto.

— Já são mais de cinco anos de obrigatoriedade da cadeirinha e ainda tem gente que não usa. Sobre o álcool, ainda é possível encontrar, em venda de bairro, álcool 70, 90.

Ambiente seguro

Gabriela Guida de Freitas afirma que além da mudança de comportamento, em alguns casos, alterações no ambiente são igualmente importantes na prevenção de acidentes envolvendo crianças. Medidas como o novo padrão oficial de tomadas, adotado no Brasil desde 2010 (elas passaram a ter três orifícios de 4 mm ou 4,8 mm), oferecem mais segurança "ao diminuir a possibilidade de choques elétricos, incêndios e mortes", conforme informação divulgada no site do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia). O novo formato, em poço, dificulta o contato do dedo com a corrente elétrica.

— Uma tomada dessa, um protetor de quina na mesinha de centro, uma piscina tampada com lona. Há coisas que podem ser feitas no ambiente que ajudam muito.

A coordenadora da ONG enfatiza que a perda de um filho em decorrência de acidente doméstico não deixa apenas a família devastada emocionalmente, mas, muitas vezes, tem também implicações econômicas,

— É muito difícil para um pai e para uma mãe lidar com essa culpa. É um impacto muito grande que vai além de questões emocionais. Afeta, até mesmo, a parte financeira. Temos vários estudos que mostram que quando a criança fica com alguma sequela, em geral o pai ou a mãe, normalmente a mãe, larga o emprego para cuidar do filho.

 
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