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Terça-feira, 23 de abril de 2024

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'Vida nova', diz preso em protesto que começou trabalho externo no Rio

Foto: (Foto: Henrique Coelho/G1 )

Rafael Vieira foi condenado a 4 anos e oito meses de prisão por portar garrafas com material inflamável.

Rafael Vieira foi condenado a 4 anos e oito meses de prisão por portar garrafas com material inflamável.

Rafael Braga Vieira, de 26 anos, único preso remanescente dos protestos de junho de 2013, depois de ser acusado de portar garrafas no material inflamável para usar em atos de vandalismo, deixou a rotina de um ano e três meses preso em regime fechado em Bangu para começar a vida nova trabalhando fora do complexo penitenciário. Nesta terça-feira (28), Rafael completa uma semana trabalhando no escritorio de advocacia, no Centro do Rio.


Em entrevista exclusiva ao G1, Rafael negou mais uma vez as acusações de portar material inflamável, afirmando ainda que os policiais adulteraram provas contra ele. Ele contou ainda que sofreu maus tratos no dia da detenção e também na cadeia, e alegou que não sabia que havia um protesto marcado para o dia 20 de junho na Candelária, que reuniu quase 1 milhão de pessoas.

Apesar de ter se tornado um símbolo das manifestações de junho de 2013, com direito a manifestações pedindo sua liberdade após sua condenação em dezembro, Rafael diz mal saber o que eram as manifestações daquela época.

"Nem sabia de nada que estava acontecendo naquele dia. O que eu queria era guardar o material que eu tinha recolhido para vender na feira", diz ele. Rafael afirma que conseguia até R$ 500 por semana vendendo o material (garrafas plásticas, latas, sobras de material de construção) recolhido Centro do Rio, como a feira do Morro da Providência. "Não estou envolvido com nada errado", garante ele.

Dia da prisão
No dia 20 de junho, Rafael conta que voltou no fim da noite para a casa abandonada onde guardava os materiais que conseguia recolher na rua. O casarão é na Avenida Presidente Vargas, próximo à Central do Brasil, e em frente à sede da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) na região. Ele afirmou ter encontrado duas garrafas de plástico nas escadas do casarão. "Era uma de cloro e a outra de desinfetante. As duas estavam lacradas", afirma.

Ele afirma que, após pegar as garrafas, foi chamado por policiais que estavam em frente à DPCA, e que se dirigiu a eles com as duas garrafas na mão. Ao ser abordado, ele conta que um policial pegou uma das garrafas e já lhe deu um tapa no rosto.

"Fui logo levado para um quartinho na delegacia. Quando fui colher digital, já na 5ª DP, vi uma das garrafas com líquido pela metade, acho que era gasolina ou álcool, e com um pano na boca da garrafa. Eu falei na hora que aquilo era uma covardia, mas ninguém ligou. Eu nem sei o que é um molotov (coquetel, tipo de explosivo artesanal). Sou inocente", diz ele, indignado ao lembrar de sua prisão. Em nota, a Polícia Civil afirmou que todos os procedimentos realizados na delegacia ocorreram dentro da legalidade.

No dia 22, ele foi levado para a cadeia pública Cotrin Neto, em Japeri, na Baixada, onde dividiu uma cela com mais de 100 pessoas. "Era horrível, muita gente dormindo no chão, muitas vezes comendo comida estragada, tudo ruim", afirma ele.

Depois, Rafael passou mais de um ano no Instituto Penal Vicente Piragibe, no Complexo Penitenciário de Bangu. Lá, segundo ele, uma palavra errada dirigida aos agentes penitenciários poderia resultar em agressão:

"Às vezes eles batem sem motivo, dão chute, soco, mas é mais quando você não chama eles de "senhor". Eu já esqueci algumas vezes, e eles me batiam por isso. Mas se você não agir com displiscência, é tranquilo", afirma ele. Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) informou que desconhece o fato citado, mas que a Corregedoria desta pasta irá até o local para apurar a denúncia.

Policiais responsáveis pela detenção alegaram que as garrafas tinham pavios improvisados, mas, segundo o laudo do Esquadrão Antibomba da Coordenadoria de Recursos Especiais, a utilização do material aponta aptidão mínima de incêndio. Ainda assim, Rafael Braga Vieira foi condenado pela existência de etanol em uma das garrafas.

Tempo livre
Após receber o benefício do regime semiaberto e do trabalho externo fora da prisão no início de outubro, Rafael Braga Vieira foi transferido para a Casa do Albergado Coronel PM Francisco Spargoli Rocha, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Lá, ele divide o tempo entre ler, assistir à televisão e jogar futebol. Torcedor do Flamengo, ele se inspira em ídolos do clube. "Sou estilo Romário, Adriano, sou artilheiro", conta, em um breve momento de sorriso em meio à timidez e o nervosismo.

Rafael sai todo dia de Niterói às 7h e vai de barca até o escritório, na Avenida Rio Branco, onde trabalha como auxiliar de serviços gerais. Lá, ele compra suprimentos que estão faltando, busca documentos e realiza outros serviços. Ele não gosta de lembrar dos tempos em que morou na rua para ajudar a mãe e a avó, que também catavam latinhas. Os termos do acordo com a Justiça do Rio indicam ainda que, a cada três dias de trabalho, Rafael diminui em um dia seu tempo na prisão.

Em agosto de 2014, a pena foi diminuída de 5 anos e 2 meses para 4 anos e 8 meses, em uma audiência marcada por protestos do lado de fora do Tribunal de Justiça do Rio. Rafael conta que soube das manifestações de apoio a ele, e agradece a todas elas.

"Já usei drogas, já tive uma condenação por roubo, mas estou totalmente fora de qualquer coisa errada. Minha vida já está mudando para melhor, graças a Deus, trabalhando com carteira assinada", afirmou ele, feliz. Ele diz que, quando sair da prisão, quer constituir família e terminar os estudos, interrompidos na 5ª série do ensino fundamental. "Um dia quero fazer uma faculdade. Ainda não sei do quê, mas quero melhorar de vida", sonha o jovem, que mantém contrato com o escritório por tempo indeterminado.
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