A gente encontrou uma raridade no arquivo do Fantástico: José Wilker e Regina Duarte interpretam Romeu e Julieta. E sabe quando foi gravado isso? Há 40 anos, em 1974, apenas um ano depois do nascimento do Show da Vida.

“Minhas personagens estão viúvas. Muita falta. Mas ele está aqui, porque está a imagem dele. Ele fez muitos trabalhos, muitos filmes”, diz Betty Faria.

Muitos mesmo, mais de 60, incluindo "Dona Flor e seus dois maridos", de 1976, que, por mais de 30 anos, foi o filme nacional mais visto nos cinemas.

Na TV, as novelas e minisséries passam de 40. Com sua voz inconfundível, ele participou de um momento especial no Fantástico: apresentou a série de contos "A vida como ela é", de Nelson Rodrigues, em 96.

“O Wilker é uma pessoa irreverente, que gostava da brincadeira, muito irônico e sarcástico, mas, na hora da cena, ele era seriíssimo. Ele levava aquilo às últimas consequências”, destaca Maitê Proença.

De Roque Santeiro a Juscelino Kubitschek, era um ator de papéis marcantes.

“Ele fazia bem o humor. Ele fazia bem o drama a tragédia e o humor, enfim, transitava em todas as áreas”, destaca a atriz Regina Duarte.

Em Lisboa, Regina Duarte conversou com o correspondente André Luiz Azevedo: “Eu estou em Portugal nesse momento e sinto uma comoção nacional pela perda do Wilker, aqui. Imagino como está no Brasil”, diz Regina Duarte.

“O primeiro telefonema que eu recebi foi do meu ex-marido dizendo: ‘eu sei como você deve estar se sentindo. Você está se sentindo viúva’. Eu digo: ‘é, porque foi o melhor marido que eu tive’, apesar de nunca ter sido esposa oficial dele”, brinca Susana Vieira.

Susana Vieira foi par de José Wilker tantas vezes que o amor que os dois expressavam na tela transbordou para um amor diferente na vida real.

“Nós começamos a fazer par romântico na primeira novela que foi o ‘Anjo Mau’. Não namoramos. Gostaria até de ter namorado. Eu coloco o Zé Wilker dentro do meu coração na mesma categoria que eu coloco as pessoas que eu amo, que eu amei: a minha família, o meu filho, os meus netos, os homens que eu tive”, ela diz.

“Um excelente par romântico e respeitador. O par romântico respeitador é o colega que se entrega na hora, mas não abusa nem antes nem depois”, diz Betty Faria.

“Ferino na sua ironia, na sua maneira de criticar as coisas, severo, nordestino severo”, avalia Regina Duarte.

Fantástico: Que tipo de homem você acha que era o homem que o Zé Wilker representava bem? Era o papel perfeito para ele?
Betty Faria: O Zé era tantos Zés. Esse último trabalho dele que ele fazia com o Maitê Proença e dizia: ‘vou te usar’. Aquilo era uma maravilha.

“E depois ele me mandava para o quarto, que ele queria me usar. Aliás, Zé, queria te dizer que eu gostei muito de ser usada por você. Sim, senhor”, disse Maitê.

“Ele fazia tudo bem e tinha um humor delicioso. Eu lembro do Improta, aquilo era fantástico”, avalia Regina Duarte.

“O Wilker fazendo o bicheiro, era o Improta, Giovani Improta, foi tomando conta da novela, de mim, e ele entrava em cena e eu ficava paralisada”, brinca Susana Vieira.

Mas o ator que se valia da ironia para dar vida aos personagens achou um jeito único para se livrar de um personagem que não cabia nele.

“Ele não estava contente com o personagem, aí ele pediu para matar o personagem dele. ‘Mas como vai matar?’ Ele disse: ‘simples. Ele morre de rir’”, brinca Betty Faria.

“Ele era inteligente sem ser chato na verdade. Só faltava ele tocar violão pra ser o homem perfeito”, destaca Susana.

“Ele era uma pessoa muito interessada, muito interessada nas coisas, muito curioso pelas coisas, entusiasmado com informação”, aponta Maitê.

“O Zé faz parte da minha vida: amigo, irmão, companheiro, companheiro de trabalho”, destaca Betty Faria.

“Eu fui muito mais feliz na minha vida em conhecer você e contracenar com você”, declara Susana.

“Com quem que eu vou ficar conversando agora. Aquela conversa boa, que parecia à toa, que a gente saía maior, engrandecida. Com quem vai ser, Zé?”, questiona Maitê.

“Nossa, vou ter saudade dele”, lamenta Regina Duarte.