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Notícias / Cidades

Relatório revela “assassinos frios travestidos de instrutores”

Da Redação - Julia Munhoz



Além de investigar a causa da morte do soldado da Força Nacional, Abinoão Soares de Oliveira, 34 anos, e constatar tortura e intenção de matar, o inquérito instaurado pela Polícia Civil, presidido pela delegada Ana Cristina Feldner, revelou a verdadeira face de alguns policiais que compõem o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).

“Não obstante ao já sofrido, Evane e Barros ainda aplicaram o golpe de misericórdia, covardemente e com o exercício já encerrado... Golpe este, fatal, pois conforme demonstrado Abinoão saiu da água morto. Pelas mãos de assassinos frios e cruéis travestidos de instrutores”, trecho do relatório.

Os tenentes Carlos Evanes Augusto e Dulcezzio Barros Oliveira, são apontados como os responsáveis pela morte do soldado. A Polícia Civil pediu a prisão preventiva de ambos, por homicídio doloso triplamente qualificado.

O relatório mostra que os tenentes seguiram para o campo de golf, na região do Lago do Manso, onde era realizado o treinamento do curso de Tripulante Operacional Multimissão (TOMM), na manhã do dia 24 de abril, com a intenção de prejudicar Abinoão, a ponto de fazê-lo desistir do curso ou morrer ali.

Os indícios da intenção dos tenentes são apontados conforme relatos dos demais alunos curso e que as ameaças começaram na quinta-feira (22/04). “Ao final, da lamentável instrução o então instrutor Evane ainda avisou que iria “recomendar” Abinoão para a próxima instrução dos “caveiras”. Sendo certo, que a próxima seria a do dia fatídico, 24/04/2010”, trecho.

“...que desde quinta-feira à noite o pessoal do BOPE começou a pegar mais pesado com alguns alunos,principalmente os estrangeiros, sendo estes os alvos do grupo do BOPE...que esta instrução era de animais peçonhentos...que o uso do gás iniciou antes de qualquer instrução teórica, apenas apresentaram os instrutores e estes disseram que algum estrangeiro teria que sair...que recorda que ABINOÃO levou um esguicho de spray de pimenta no rosto...que no dia da instrução de animais peçonhentos um dos instrutores disse que a turma estava frouxa porque a coordenação do CIOPAER era uma “mamãezinha”...” (H. J. de O.,...)



Segundo os depoimentos, colhidos e mais de 60 oitivas realizadas pela delgada, os alunos afirmam que no dia da morte de Abinoão os policiais do Bope chegaram ao campo de treinamento fazendo ameaças e pressão psicológica.

“... quando os instrutores do BOPE chegaram, a pressão psicológica foi muito maior; QUE as palavras utilizadas pelos instrutores do BOPE, eram no intuito de zombaria e aumentar o nível de medo dos alunos, para que saíssem do curso; QUE falavam que se não saísse nenhum aluno do curso de forma voluntaria que a instrução seria horrível; QUE coisas horríveis iriam acontecer; QUE falavam "QUE HOJE VAI MORRER GENTE"; QUE tais palavras eram do Ten. PM EVANE do BOPE, Ten. PM BARROS do BOPE...” (J. W. S. L. aluno,...).

Após todas as torturas e “caldos”, não apenas em Abinoão, mas também, nos policiais Claudomir Braga, Thiago Andrigo Mendes e Luciano Frezzato, os tenentes Evanes e Barros, não satisfeitos, mataram o soldado alagoano.

“...QUE ao olhar para trás com o intuito de localizar ABINOÃO viu quando EVANE deu mais um caldo nele, gritando: “TÁ MORTO, OLHA SÓ, NÃO MERECE FORMAR NÃO”...QUE EVANE subiu por trás de ABINOÃO...QUE BARROS também foi para cima de ABINOÃO ajudando EVANE...QUE o ABINOÃO foi retirado da água desacordado...Que já iniciaram a massagem cardíaca...Que logo gritaram pedindo o desfibrilador...”(L. C. J. da S. aluno,...)

Prisões

Também foram pedidas as prisões preventivas de outros três oficiais, Moris Fidelis Pereira, Antônio Vieira de Abreu Filho e Saulo Rodrigues, pelo crime de tentativa de homicídio triplamente qualificado. Eles participaram do treinamento e ajudavam os demais instrutores nos momentos das torturas.

Caso

Quatro policiais militares passaram mal durante um suposto treinamento de flutuação no curso de Tripulante Operacional Multimissão, que era realizado pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope), no dia 24 de março deste ano. As causas de como eles teriam passado mal ainda são incertas. Todas as testemunhas envolvidas no caso foram orientadas a não falar nem os nomes à imprensa, para evitar especulações.

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