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Desesperados, moradores de Suiá Missú tentam comover Dilma com protesto fúnebre (veja fotos)

Do Posto da Mata- Lucas Bólico e Renê Dióz - Enviados Especiais do Olhar Direto

Após uma sequência de duras derrotas, os moradores de Suiá Missú tentam aquela que pode ser a última ferramenta para evitar o despejo e o fim do distrito de Estrela do Araguaia: provocar, por meio da imprensa, a compaixão da opinião pública e, quem sabe, fazer a repercussão negativa ecoar até o Palácio do Planalto, em Brasília.

Todas as tentativas de marcar uma reunião com a presidenta Dilma foram frustradas até o momento. Isoladas geograficamente e acossadas pelo despejo determinado pelo Supremo Tribunal Federal, as famílias enterraram simbolicamente o município no cemitério Jardim da Saudade, localizado no distrito, na manhã deste sábado (8).

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O ato serviu também como contraponto ao decreto que criou a demarcação indígena Marãiwatsédé, baseado em um laudo antropológico que detectou a existência de um cemitério indígena na região disputada. Na prática, os moradores tentam mostrar que também há no local uma necrópole de não-indíos, que estão sendo tirados do local. Eles também contestam a existência do campo-santo indígena na região.



“Meu sobrinho está enterrado aqui, ele morreu com um ano de idade, é muito duro, muito difícil para a família ter que deixar tudo o que construiu para trás. Mas é mais difícil ainda ter que largar o corpo de alguém que você ama. Vamos fazer o que, tirar o corpo dele dai?”, questionou Valdomiro de Jesus, 34 anos, frente à cova de seu sobrinho.

Sob o forte sol, Maria Aparecia de Santana Santos, 45, passou mal durante entrevista ao Olhar Direto, enquanto observava o local em que seu marido, Édio Pereira dos Santos, foi enterrado, há um ano e cinco meses. Ela caiu no chão quando, aos prantos, ‘pedia’ para a presidente Dilma Rousseff (PT) reverter a desintrusão. Ao cair no chão foi socorrida e levada para uma ambulância.

Crédito: José Medeiros/ Fotos da Terra

Constatar que supostos restos mortais indígenas sob a terra justificam a demarcação do local e varrer do mapa toda uma cidade revolta especialmente moradores como Cícero da Silva, 64 anos, que no mesmo cemitério já enterrou praticamente toda a família: pai, mãe, duas irmãs e uma filha. “Não é possível, o Brasil não é mais um país democrático”, ressente-se.

“Eu só queria mandar um recado para a presidente Dilma. Enquanto ela está se preocupando lá com a Espanha, porque está em crise, que ela se preocupasse com o país dela, que está em decadência. O nosso país está todo sendo vendido para as Ongs e não vamos ter como criar nossos filhos. Nós, pais de família, vamos ter que virar bandidos, atacar o Planalto, atacar bancos. Nós estamos agoniados, todo pai de família tá chorando noite e dia, a agonia mais triste do mundo. Nós trabalhamos para sobreviver e, de agora pra frente, nós vamos ser bandidos, porque é isso que o país quer. Todos os pais de família vão virar bandidos e eu vou ser o primeiro”, ameaçou Sebastião Ramos, 59 anos.



Próximo a ele, o vento levava os pequenos pedaços de papel do comprovante de votação no pleito deste ano em nome de José de Jesus, 37 anos, trabalhador de roça em Suiá Missú – e, agora, um apátrida declarado com três filhos para criar, um deles no colo. “Não sou mais cidadão brasileiro. Eu me envergonho de ser brasileiro na condição em que a gente se encontra”.

O ato “fúnebre” foi mais um dentre os realizados nestes últimos dias para chamar a atenção da opinião pública. A BR 158 e a MT 242 estão bloqueadas desde o início da semana com raros momentos de abertura. Na sexta-feira, os moradores ajoelharam na terra para rezar em um círculo e decretaram luto no distrito de Estrela do Araguaia. Bandeiras do Brasil já foram queimadas e todas as noites são atravessadas em vigília no Posto da Mata.

Em paralelo, os futuros ocupantes da terra encontram-se em silêncio completo. Restritos à área da atual aldeia, entre Posto da Mata e o município de Alto Boa Vista, os xavantes estão fechados a visitações e à imprensa. Equipe da Força Nacional guarda a entrada da aldeia e, para conversar com os indígenas, é requerida autorização por escrito da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do punho do próprio cacique Damião Paridzané.

Imagens: José Medeiros/ Fotos da Terra
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