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Chapa Maluf-Nininho recorre a prática antiga e confina 17 deputados em pousada no Lago de Manso para fugir da pressão

Da Redação - Ronaldo Pacheco

"Seguro... morreu de velho... E o precavido ainda vive!" Seja verdadeiro ou não o velho adágio popular, a atual disputa pela Mesa Diretora da Assembleia Legislativa de Mato Grosso ressuscitou uma antiga prática, quase esquecida: o confinamento dos privilegiados eleitores. A chapa liderada pelos deputados estaduais Guilherme Maluf (PSDB) para presidente e Ondanir Borolini Nininho (PR) para a Primeira Secretaria, decidiu levar os 17 parlamentares para passar as próximas 48 horas numa pousada paradisíaca no Lago de Manso, em Chapada dos Guimarães, a 128 quilômetros de Cuiabá. A reportagem do Olhar Direto recorda que a prática começou em 1990 e foi repetida algumas vezes, ao longo do tempo. 

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O grupo retorna a Cuiabá somente na manhã deste domingo, para a cerimônia de posse da 18 legislatura,  a partir das 9 horas, no teatro Zulmira Canavarros, e posterior eleição da próxima Mesa Diretora, no Plenário das Deliberações Renê Barbour, prevista para iniciar por volta das 10h30.

A sugestão para o confinamento teria partido de parlamentares mais experientes, como os deputados Romoaldo Júnior (PMDB), Wilson Santos (PSDB) e Pedro Satélite (PSD), que paticiparam de eleições de várias Mesas Diretoras. E foi prontamente acatada por Maluf e Nininho.

A principal dúvida seria quanto ao local. A ideia central era de que fosse fora de Cuiabá, privativo e aconchegante. Cogitou-se inicialmente uma pousada no Pantanal de Mato Grosso, pertinho de Poconé, mas  não haviam quartos suficientes disponíveis para todos os clientes.

A proposta  de um amigo comum a alguns deputados acabou acatada e, desta forma, foi escolhida a pousada no Lago de Manso. 

A primeira vez em que aconteceu o confinamento foi em 1990, quando o deputado Antônio Amaral (PMDB) se elegeu presidente, derrotando o deputado João Bosco (PMDB), então líder do governo na Assembleia e favaorido absoluto até horas antes do pleito. Amaral "confinou" no Hotel Fazenda Mato Grosso apenas os votos suscetíveis à pressão do Palácio Paiguás e saiu vitorioso.

Todavia, o confinamento mais famoso aconteceu em fins de janeiro de 1995, quando os deputados Gilmar Fabris (PSD), então no PFL, e José Riva (PSD), na época do PMN, trancaram 13 votos por uma semana, numa fazenda. Longe da tecnologia atual, os celulares - ainda incipientes - foram "confiscados" e  todas as ligações eram atendidas pelo deputado Paulo Moura ou eventualmente Jorge Abreu (in memorian).

A ligação só era passada  ou retornada se fosse a esposa do deputado ou em caso de problema de saúde, na família. Por sofrer assedio e possíveis ameaças, o deputado Amador Tut Gonçalves (PL, hoje PR) teve um "mal súbido" e suspeitou-se até mesmo de infarto. Mas foi alarme falso e Tut tomou posse e votou. 

A chapa encabeçada por Riva e Fabris era contrária à apoiada pelo então governador Dante de Oliveira (PDT). O candidato do governo a presidente da Assembleia era o deputado José Lacerda Filho (PMDB), o 'Zezinho'. Fabris se elegeu presidente e Riva primeiro secretário, com 13 votos. Para evitar "traição", existe uma lenda urbana na política de que cada voto foi marcado com um sinal que supostamente identificava o deputado-eleitor. Alguns dos atuais deputados votaram naquela eleição, como Romoaldo Júnior, Gilmar Fabris, Wilson Santos, Emanuel Pinheiro e Pedro Satélite.

Depois disso, José Riva tomou conta do cenário de eleições de Mesas Diretoras da Assembleia Legislativa de Mato Grosso e houve apenas mais dois "confinamentos". Ambos ocorreram muito mais por precaução que por necessidade, já que, na época, Riva era soberano em articulações de Mesa Diretora.

Câmara de Cuiabá

Diante da "aula" gratuita dos deputados, as disputas pela Câmara de Cuiabá também passaram a contar com os tais confinmentos. A  primeira vez foi em 1995, quando o então vereador Carlos Brito (PSDB) se elegeu presidente, tendo Wilson Teixeira Dentinho (PMDB) como primeiro secretário. Brito confinou seus eleitores em uma chácara, na região do Coxipó da Ponte.

Em janeiro de 1997, a estratégia se repetiu, com Teixeira Dentinho acabou vencendo para presidente da Câmara,  em um páreo duríssimo contra o vereador Aurélio Augusto (PDT). Na época do confinamento dos apoiadores de Dentinho, a vereadora Lueci Ramos (PMN, hojeno PSDB) foi cassada por liminar do juiz José Geraldo da Rocha Palmeira, concedida ao PMN, dando lugar ao vereador Pedro Tercy (PMN), atual prefeito de Denise pelo PSD. Tercy votou em Teixeira Dentinho, que se elegeu presidente do Poder Legislativo da Capital e, depois, deputado estadual.

Outros confinamentos recentes ocorreram em janeiro de 2009, quando  o vereador Deucimar Silva (PP) se elegeu presidente; e, em janeiro de 2013, quando João Emanuel Moreira Lima (PSD) venceu o colega Júlio Pinheiro (PTB) na briga pela presidência. Moreira Lima renunciou à presidência e, depois, foi cassado em abril do ano passado, no plenário da Câmara de Cuiabá. 
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