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Terça-feira, 16 de abril de 2024

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Sem exceção

Estamos vivendo uma situação de exceção devido à realização da Copa do Mundo de futebol em Mato Grosso. Esta tem sido a argumentação central para toda e qualquer crítica relacionada ao atual estado das coisas. Porém, a exceção tem imputado a todos nós, de Mato Grosso, um preço alto demais.

As instituições básicas da máquina estadual estão, em sua maioria, paralisadas. Não funcionam, ou operam como se estivessem em passo tartaruga. Pelos corredores, todos parecem aguardar pelo primeiro apito do juiz para começarem a efetivamente atuar. Procedimentos que mantêm a economia viva tornaram-se um arrastar de prazos e novos prazos: os braços estão cruzados.

O desmando prepondera. O nosso Fethab, que retira do setor produtivo a fonte de receita para investimentos previstos para a logística e para a habitação, tornou-se o plano B para custeio de despesas básicas. Inverteu-se a ordem das coisas, e o que era para ser recurso para o futuro das pessoas – caminhos e casas – virou um tapa-buraco contábil.

À primeira vista, tudo o que foi construído nos últimos 15 anos está desmoronando. Exemplo fácil de visualizar: aqueles 4.700 km de rodovias que nós, produtores rurais, ajudamos a erguer ao lado do Estado, se perderam, pois viraram pó e buraco. E, novamente vamos lembrar, não há mais recursos para se investir em logística em nossas vias estaduais.

Basta ler jornais, ouvir conversas, observar: por todo nosso Mato Grosso, há uma certa inquietação com o rumo que as coisas públicas estão tomando. A situação de exceção, que a tudo perdoa, está se tornando – se já não se tornou – imperdoável.

O estopim dessa pólvora parece ser a contestável qualidade das obras de infraestrutura urbana idealizadas para o recebimento da Copa do Mundo. Muito aguardadas e por todos esperadas como um sopro de boas novas para o Estado, aparentemente continuarão assim, como uma esperança não realizada, pois antes mesmo de entregues estão sendo refeitas!

Que aparato público é este que não dá conta de planejar uma intervenção como um viaduto? Que não consegue fiscalizar e prevenir a precariedade na engenharia? Que não faz cumprir um cronograma? Na raiz deste problema, talvez esteja então a fragilidade das nossas instituições.

O fato é que o incômodo está se ampliando e aos poucos, gradativamente, começamos todos a buscar por novas formas de fazer e viver esta realidade. Com certeza há um jeito diferente de se conduzir as coisas públicas: com responsabilidade, pulso firme, foco em resultados e eficiência.

Esse caminho, da realização para além da promessa, é o caminho que nós, do setor rural, sabemos trilhar. Convivemos décadas após décadas com cenários antagônicos, com situações conflitivas. Sabemos que é possível recomeçar, com muito planejamento, empenho, superação, gestão e foco – e obter bons resultados!

Essa certeza, no entanto, não é só nossa. É da dona de casa que faz o salário da família render até o fim do mês. É do autônomo que vira os feriados e aumenta a produção para não depender das ondas da economia. É do professor que supera a baixa remuneração, mas continua educando nossos filhos. É do servidor público que se incomoda como a maioria e antecipa seus prazos.

Mato Grosso é cheio de gente que sabe fazer dar certo. Gente que, dia após dia, tem a rotina de realizar, de cumprir. Gente que já está de olhos abertos para encontrar uma outra forma de fazer as coisas funcionarem. De fato. E sem exceção.

*Carlos Favaro é produtor rural em Lucas do Rio Verde e presidente da Aprosoja
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