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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Se tudo der certo, apertem os cintos

Na última semana tive a feliz oportunidade de participar do tradicional evento Outlook Forum do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), evento onde o USDA divulgou as novas estimativas de safra e preço para as principais commodities agrícolas mundiais. Olhando por cima, os novos números não apresentaram nenhuma grande novidade, mas uma olhadela mais minuciosa nos mostra que tem algo interessante no ar, e é exatamente sobre isso que vou discorrer um pouco neste texto.

Mas antes de falar dos números é importante destacar por que o Outlook Forum do USDA é uma referência. Primeiramente, o encontro é realizado sem interrupção há 90 anos seguidos, o que por si só já se torna uma referência. Além disso, é durante o evento que o Economista Chefe do USDA divulga os primeiros números para a próxima safra norte-americana, tornando-se base para todas as consultorias e agentes do mercado. Por fim, é no evento que pessoas do mundo todo ligadas ao agronegócio se encontram para trocar informações sobre a cadeia.

Voltando aos números, do lado da oferta, o USDA divulgou que a próxima safra de milho nos EUA será de 355,23 milhões de toneladas, um incremento de 1,52 milhão em relação à safra anterior, apesar de uma redução de 3,56% na área plantada. Para isso a produtividade média nos EUA terá de ser 172,92 sc/ha.

Na soja os números são de uma safra de 96,61 milhões de toneladas, incremento de 7,1 milhões de toneladas em relação à safra anterior, plantando uma área recorde de 32,17 milhões de hectares e considerando uma produtividade média de 50,66 sc/ha.

Do lado da demanda, para o milho, as informações não são tão boas. O governo ianque tirou o pé do programa de etanol de milho, reflexo de uma mudança de politica e também de mercado. O consumo de gasolina nos EUA está caindo, reflexo de uma população que está envelhecendo, por consequência andando menos de carro, e dos novos carros que estão mais modernos. Ainda assim a demanda continuará crescendo, mas a passo menor do que nos últimos anos.

Para a soja a demanda segue em alta e a expectativa é de um esmagamento de 46,95 milhões de toneladas nos EUA, acima dos 46,27 milhões da safra passada e, mais uma vez, aumento das exportações graças a insaciável China. Por sinal, muito interessante a consideração de um palestrante que afirmou que 700 milhões de pessoas deverão mudar de classe social na China nos próximos sete anos e o que eles farão? Mudarão o habito alimentar e comprarão um smartphone.

Confirmando essas estimativas, o USDA projeta que os preços médios para o próximo ano trabalhem em torno de US$ 9,65/bushel para a soja e US$ 3,90/bushel para o milho, o que seriam os menores preços dos últimos cinco anos. Traduzindo para a realidade mato-grossense isso significa preços próximos de R$ 31,00/sc para a soja e R$ 6,50/sc para o milho. Em bom português, apertem o cintos que o piloto sumiu, afinal hoje o custo de produção para as mesmas culturas na safra 2014/2015 está na casa dos R$ 39,00/sc e R$ 15,60/sc respectivamente.

O que é interessante notar é que para isso ocorrer, ou seja, os preços caírem para os patamares anunciados, a produtividade média de soja em milho nos EUA tem que ser a maior da história daquele país, nada impossível de acontecer, todavia baseado nos recentes anos me parece ser muito otimista.

A premissa para os preços do USDA está baseada em desaceleração do consumo e aumento considerável da oferta. Cá entre nós, a desaceleração do consumo até me parece real, ainda assim estamos falando de crescimento e não desaceleração. Agora do lado da oferta, particularmente, acredito que o USDA está muito otimista com a produtividade.

Deste modo, basta um problema nas próximas safras ou mesmo o rumor do problema para termos bons momentos de comercialização. Agora, no frigir dos ovos, voltei dos EUA com a nítida sensação de que as contas serão sim mais apertadas nos próximos anos. Portanto volto com a máxima jorgiana: prudência e dinheiro no bolso, canja de galinha não faz mal a ninguém.

Por fim, vale destacar que a boa notícia da terra da liberdade é para o setor de carnes, mas isso é assunto para outro texto. Inté!

*Seneri Paludo é engenheiro agrônomo e diretor executivo da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) - seneri@famato.org.br.
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