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Sábado, 20 de abril de 2024

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Qual o futuro do etanol de milho dos EUA?

Assessoria Aprosoja Brasil

No Brasil a Aprosoja-BR e a Aprosoja-MT têm buscado alternativas para amenizar o problema da logística do milho produzido na região central do país. Afinal, são mais de 30 milhões de toneladas de excedente de produção e que, apesar da grande eficiência produtiva dos agricultores brasileiros, têm margem negativa em virtude da precariedade da logística. Para se ter uma ideia, a cada três sacas enviadas ao porto, duas vão para custear o frete.

Enquanto a sonhada logística não acontece em sua totalidade, a Aprosoja-MT há cinco anos vem estudando a viabilidade do etanol de milho espelhada na experiência norte americana. Com isto, fizemos fóruns de discussão e estudos de viabilidade para realidade brasileira. A consultoria Céleres e o IMEA têm se empenhado nos dados para encontrar os gargalos do etanol de milho e cereais brasileiro.

Mas o etanol de milho no Brasil já é uma realidade, com duas usinas flex operando no MT, produzindo etanol de cana na safra e de milho na entressafra, enquanto em Goiás outra está já sendo implantada. Mas isto é pouco, queremos mais e por isto em junho iremos realizar um fórum no Brasil mostrando várias experiências internacionais de produção de etanol de cereais. E para dar encaminhamento a este fórum eu e o executivo da Aprosoja-BR, Fabrício Rosa, estivemos neste final de abril nos EUA falando com aqueles que deram o passo inicial do programa naquele país.

Nos EUA falamos com Paul Taylor, diretor da Nacional Corn Growers Association e com Dave Loos da Illinois Corn Growers Association. Nosso objetivo era saber a realidade do programa de etanol americano e o que eles esperam para o futuro. Afinal, a cada ano vemos notícias que preocupam os produtores do Brasil, pois sabemos o impacto que a produção de etanol de milho nos EUA teve nos preços não só do milho, mas também da soja. Conversamos muito com eles sobre o programa de etanol norte-americano e o conteúdo desta conversa eu relato a seguir.

No início do programa, o etanol era o produto mais importante,apesar do processo produzir também o DDGS (resíduo concentrado proteico) e óleo. Porém, a partir do ano passado o DDGS passou a ser mais relevante, pois a falta de proteína vegetal devido ao baixo estoque de soja fez a demanda pelo produto crescer até se tonar mais importante economicamente que o etanol. O mercado interno dos EUA passou a demandar muito DDGS, sendo que hoje ele já compõe 25% da ração de suínos e 20% da ração de bovinos no país, e isto tem crescido mais a cada ano.

Segundo Dave Loos, no início eles não sabiam o que fazer com o DDGS, mas hoje as pesquisas têm mostrado que é possível atingir teores de até 80% de DDGS na ração para bovinos e os confinamentos próximos às usinas têm usado o DDG líquido. Paul Taylor nos relatou que só a indústria de frango, mais tradicional, tem sido resistente ao uso do DDGS na ração. Mas eles estão vencendo esta resistência através da pesquisa, mostrando os benefícios à saúde de se consumir frango produzido com DDGS. Convencendo os consumidores eles tirariam esta barreira, pois as empresas aviárias se veriam forçadas a utilizar o DDGS.


Atualmente, muitas empresas estão retirando o óleo no processo de secagem do DDGS, e este óleo é usado na produção de biodiesel. Hoje, 30% do biodiesel dos EUA é produzido a partir do óleo oriundo das usinas de etanol de milho.

Perguntamos a eles qual foi o papel do governo no programa de etanol de milho, se houve incentivo financeiro. Eles nos disseram que o incentivo do governo federal foi na legislação que garantiu a adição do etanol na gasolina. Esta legislação deu suporte e segurança para que as indústrias se formassem, pois possibilitou que contratos de longo prazo fossem estabelecidos. Porém houve incentivo Estadual a instalação de indústrias, o governo em Illinois, por exemplo, apoiava com U$15 milhões por empresa com um limite de U$5 milhões para cada indústria, isto incentivava que muitas companhias instalassem pelo menos três indústrias.

A indústria de etanol de milho nos EUA é feita de grandes corporações ou grandes cooperativas, são grandes fornecedores de milho, grandes compradores do etanol, grandes compradores de DDGS e grandes confinamentos. Tudo é em ampla escala sem atravessadores - o sistema é integrado.

Nos EUA eles estão investindo muito na pesquisa do etanol de milho de segunda geração que utiliza a planta toda, ou seja, é utilizada a palha, o colmo, a espiga com palha e sabugo na produção de etanol. Os estudos mostram que o etanol produzido a partir da planta será uma grande revolução pela quantidade que poderá render e também pela quantidade e qualidade do DDGS que terá um teor de proteína muito superior ao atual. Com isto, a produção de energia e alimento por hectare será fantástica.

Questionamos sobre a velha discussão sobre alimentos verso combustível, eles disseram que existe e sempre vai existir. Mas, a grande questão é a importância do equilíbrio na cadeia, a indústria da carne, de qualquer lugar do mundo, quer comprar milho e soja muito barato e isto não será possível, mais é preciso entender que estamos em um novo tempo e com novos patamares de preços.

Ficou claro para nós que o programa de etanol de milho nos EUA teve um grande sucesso pelo trabalho conjunto de governo, iniciativa privada e produtores, no qual cada um fez sua parte e a cumpriu. No Brasil, temos uma legislação semelhante, mas por outro lado, o governo regula o preço da gasolina e mata o incentivo ao etanol criado na legislação tirando a viabilidade das usinas de cana. Temos um árduo trabalho pela frente para construir modelos seguros de investimentos e um mercado potencial atrativo para todos, produtores de milho e produtores de etanol e DDGS.



* Glauber Silveira é produtor no município de Campos de Júlio, em Mato Grosso, e presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), diretor da ABAG( Associacão Brasileira do Agronegócio) e do Instituto Ação Verde, conselheiro do SENAR - MT e do INPEV. É engenheiro agrônomo com MBA em Gestão Empresarial de Cooperativas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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