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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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As Vinhas da Ira

Os analistas de mercado, redatores de notícias e governos esquecem ou ignoram a realidade nua e crua da renda agropecuária. Não é verdade que o setor tenha ganhos elevados e que os preços no momento seriam os melhores de nossa história. O trabalho publicado por Luis A. V. Catão, economista do FMI, “O preço real das commodities alimentícias”, demonstra que ao deflacionar os preços pelo IPC dos Estados Unidos, de 1.900 até 2.010, os valores dessas commodities entrando em 2.011 estavam próximos de zero, no índice. Dizia ele, “nos acostumamos por gerações com a comida mais barata”.

Ao primeiro sinal de crise de oferta alimentar, são levantados os aspectos negativos quanto à elevação da inflação e dificuldades por parte das populações mais pobres do planeta. É bom lembrar, que em países mais avançados o item alimentação representa cerca de 10% das despesas do cidadão médio e chegando a 50% nos países emergentes.

Infelizmente, o uso político de argumentos como crise de alimentos e de políticas de segurança alimentar embute a continuada transferência de ganhos das populações rurais às populações urbanas. Logo, com esse viés ideológico ou oportunista apertam, escorchando a renda do homem do campo.

De outro lado, “A Lei de Murphy” mais uma vez se cumpre: ”Se alguma coisa pode dar errada, com certeza dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível”, pois no momento, acidentes climáticos associados geram uma perda considerável em escala planetária. FAO e governos novamente batem nas teclas acima mencionadas, mas esquecem da brutal contração da renda ocorrida de 1.975 até os dias de hoje.

Carga tributária odiosa porquanto regressiva aos consumidores mais pobres, não implantação de infra estrutura, redução de investimentos públicos em pesquisa, restrições através das legislações trabalhista e ambiental são parte desse cenário aqui no Brasil. As agruras do campo lá fora, ficam demonstradas pela idade média da população rural: Estados Unidos acima de 55 anos, Japão acima de 65 anos. Pelo desastre em sua produção agrícola, os Estados Unidos já anunciaram ajuda vultosa, estando embargada a sua discussão, pelo período eleitoral.

A história se repete e medidas econômicas que privilegiaram a especulação e não a produção, e esta sujeita a ocorrência de desastres climáticos entre outros fatores, levam à sua destruição. Tal situação foi magistralmente retratada no livro As Vinhas da Ira, de John Steinbeck, contando a história de uma família do estado de Oklahoma, na Grande Depressão de 1.929. Por que os governos não aprendem?

Rui Wolfart é engenheiro agrônomo, especializado em administração. Ex gestor público na área fundiária. Produtor Rural há 27 anos em Mato Grosso

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