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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Prejuízo iminente o que fazer ?

A safra de soja já se iniciou e quando perguntamos ao produtor qual a sua maior preocupação a partir deste momento, mais de 90% respondem: o clima. O que é mais do que natural, afinal na semente colocada na terra está toda a esperança de uma safra e da renda desejada. Esta safra, porém, se inicia diferente, a maior preocupação do produtor é o mercado, é o preço. A muito tempo não víamos um cenário tão assustador, não só pelo preço da soja, mas também pelo custo de produção.

A safra norte-americana se consolida como a maior de sua história, e o frio que poderia atrapalhar a colheita não ocorreu até agora. E além de produção recorde de soja e milho nos Estados Unidos, aqui na América do Sul, as perspectivas são de aumento de área com clima favorável.A soma destes fatores não poderia dar em outro resultado. A produção alta, a oferta sobrando eos preços baixos.

Pelo que tudo indica as chances de termos preços perto do que o produtor deseja está cada dia mais distante. Por isso, o que nos resta neste momento é racionalizar esta safra cuja semeadura iniciamos agora. Muito produtores, inclusive, já estão tomando suas providencias para diminuir custos. Uma das alternativas é a racionalização do fertilizante, afinal foram vários anos de preços bons e com isto o produtor que investiu em adubação pode nesta safra reduzi-la mantendo a produtividade.

De forma geral,na Região Centro-Oeste os produtores colocam de 80 a 100 pontos de fósforo e potássio, quantidade suficiente para altas produtividades. Neste caso, a pesquisa já mostrou que a redução na adubação após várias safras de boa adubação, pouco interfere no resultado. Este é um dos pontos que o produtor deve fazer as contas. Afinal no Mato Grosso os custos de adubação estão, em média, US$ 224,00/ha. Com a soja a US$ 16,00a saca, o custo fica 14 sacas por hectare e neste caso um ajuste na adubação onde se tem reserva no solo pode ser uma opção.

É preciso fazer uma gestão muito eficiente do manejo da lavoura. Fiquei muito assustado quando fui fechar os defensivos para a lavoura. Na primeira cotação o custo com defensivos fechou em U$ 250,00/ha. Após muita briga os custos caíram para U$ 220,00/ha, ou seja,US$ 30 a menos e isto hoje significa quase 2 sacas de soja por hectare. Me impressionou a quantidade de aplicações de inseticidas recomendadas ou previstas que vão de 7 a 10 aplicações. Realmente precisamos juntar esforços para reverter este cenário de defesa vegetal.
O manejo adequado da lavoura pode significar economias importantes em um ano como este. Qualquer aplicação de inseticida significa uma saca de soja por hectare de custo. Portanto, é fundamental se monitorar e fazer o controle adequado para se evitar a reaplicação. O mesmo ocorre com os herbicidas e fungicidas, qualquer vacilo do produtor significa custos a mais.E nesta safra, se o produtor não zelar pela eficiência no manejo da lavoura a cada erro verá sua renda ficar cada vez menor. Por outro lado, com uma boa gestão o produtor ao invés de aumentar os custos em 2 a 3 sacas/há, poderá reduzi-los.

A poucos anos fertilizante, defensivos e semente significavam custos em torno de 22 a 24 sacas/ha. Nesta safra, porém, representam de 32 a 36 sacas/ha, lembrando que temos ainda custos operacionais como plantio, colheita, transporte, mão de obra, aplicação de defensivos, prestação de máquinas e equipamentos, depreciação arrendamento e etc. Somando tudo isto e com os preços atuais, já amargamos um prejuízo de 3 a 6 sacas/ha.

Já passamos por um cenário destes em 2004 e 2005 que fez um estrago não só no Mato Grosso, mas em vários estados brasileiros. O que temos diferente agora é que naquele momento os produtores estavam muito alavancados o que não ocorre no geral nesta safra. Mas em algumas regiões que já vem de safras com dificuldade como no Rio Grande do Sul e algumas regiões da Bahia, Mato Grosso do Sultambém e mesmo quem entrou a pouco nas áreas de pastagem de Mato Grosso,sentirão muito caso os preços não retornem ao menos para patamares aceitáveis que compensem a falta de logística e armazenagem brasileira.

Como podemos ver é uma safra de muita gestão e racionalização dos insumos agrícolas. Os produtores terão que ter uma precisão cirúrgica na condução da lavoura, afinal isto pode significar uma redução de 4 a 6 sacas/ha de custo. É preciso estudar bem antes de fazer qualquer operação na lavoura para que ela seja muito eficiente. Claro que isto todos sabemos, é a máxima da agricultura“a eficiência e a eficácia são sinônimos de rentabilidade".Então vamos lá, uma boa sorte e um ótimo plantio, pois ele é a base de tudo.



*Glauber Silveira é presidente da Câmara Setorial da Soja, Diretor da Aprosoja, Senar-MT, Abag e produtor rural em Campos de Júlio - MT.

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