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Sábado, 20 de abril de 2024

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O planeta cabe na urna

Na sociedade da hiperinformação – multiconectada e agindo cada vez mais por valores – o produtor rural parece ter conquistado, definitivamente, um espaço de valor na percepção do público urbano, por desempenhar uma função essencial na sociedade. Mais ainda: ele próprio, o produtor, aumentou seu nível de confiança e hoje se vê como um provedor de alimentos.

Está na pesquisa Farm Perspectiv Study*, que ouviu 1.300 pessoas no Brasil e cujos resultados foram divulgados em agosto último: 88,6% dos consumidores têm consciência que o produtor “é um fornecedor de alimentos” e 93% dos produtores assim se percebem também. Ou seja, a consciência do papel do produtor na segurança alimentar cresceu – na cidade e no campo.

O levantamento também revela que a preocupação dos consumidores com a sustentabilidade atingiu a marca de 82%. Mostra, ainda, que 67% dos agricultores afirmam usar métodos sustentáveis de produção e só 37% dos consumidores concordam com isso. Outra dissonância: 75% dos consumidores concordam em pagar mais por alimentos produzidos de forma ambientalmente amigável, mas apenas 36% dos agricultores acreditam nisso.

Como se vê, há uma nova realidade do mercado de alimentos, emergente, que cria oportunidades e abre espaço para o marketing do produtor e do agronegócio, para agregar valor percebido em seus produtos e atividades – ou pelo menos reduzir eventuais abismos de percepção entre cidade e campo, como os mostrados acima.

Desde que a revolução verde chegou a nossos campos e a produção animal modernizou-se, um hectare de terra multiplicou sua capacidade geradora de proteína animal -- de 2 para 2,8 kg de carne suína, ou de 1 para 5,6 kg de frango, por exemplo. Isso é sustentabilidade em três dimensões: ambiental, econômica e social.

Mas no mundo contemporâneo, das percepções mutantes, é preciso contar ao público nossas conquistas e progressos. E, olhando a pesquisa Farm Perspective Study, talvez esteja faltando uma maior energia em marketing do agronegócio, para contar essas e outras histórias para a cidade. Falta, por exemplo, desenvolver uma narrativa do campo sobre a sua sustentabilidade.

Quer ver um exemplo? A sustentabilidade depende cada vez mais da incorporação de tecnologia; vale dizer, de sistemas de produção apoiados em uso intensivo de tecnologia. Mais ciência e menos regras – ainda que essas sejam também necessárias e importantes, para induzir o progresso da consciência sustentável.

Essa é uma mensagem que precisa ser levada, por exemplo, aos candidatos a governo federal e estadual da próxima eleição, principalmente aqueles mais identificados com as causas do meio ambiente. Dizer, propor e levar estudos mostrando que a sustentabilidade do campo vai se resolver de fato, na tecnologia.

Essa é uma iniciativa só nossa, só das lideranças do agro, não tenha dúvidas. Pois o planeta cabe em uma urna eleitoral e dá voto, principalmente entre os eleitores mais jovens.

(*) Farm Perspective Study, pesquisa realizada pela BASF em 2014, ouvindo 300 agricultores e 1.000 consumidores, no Brasil.

Sobre o CCAS

O Conselho Científico para Agricultura Sustentável- CCAS é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.

O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.

Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.

A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça.

Por Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS); Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM.
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