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Terça-feira, 23 de abril de 2024

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Qual o conceito de sustentabilidade?

Estamos na iminência da nomeação daquele que irá encabeçar a principal pasta do Governo Federal para o agronegócio. Seja quem for o escolhido, deve se preparar para o tema que com mais recorrência lhe será apresentado: o binômio produção/meio ambiente. E assim não poderia deixar de ser! Em sendo a degradação do meio ambiente causa para o fim do mundo, é óbvio que não a desejo. Não possuo meios de me mudar para outro planeta: morreríamos todos. Registro ainda que não sou suicida, tendo também um filho de 02 anos de idade, para o qual não desejo tal sorte.

Em outras palavras, inobstante o parêntese em que desnudo o óbvio (saibam que todos nós produtores rurais sempre quisemos que os nossos consumidores – ou seja, todas as pessoas – soubessem que não somos suicidas), é inquestionável que o meio ambiente deve ser protegido da melhor forma possível e sabemos disso. Aliás, dominamos o tema, uma vez que somos a categoria que mais empreende esforços e mais aplica recursos privados nessa seara: temos nossas reservas legais (um ônus individual revertido em benefício de todos), as quais protegemos de queimadas, de furtos de madeira, caçadores, invasões e inúmeras outras diatribes consequentes da posse de não-uso.

Sob a nossa ótica esse assunto não é polêmico. A controvérsia aqui enfrentada cinge-se ao fato de que, como um dos pesos da balança da sustentabilidade (sendo tal palavra corolário de equilíbrio), o anseio preservacionista é colocado no seu prato de forma objetiva e clara. Já o agronegócio se sente desconfortável do outro lado, no seu prato, posto não saber como ali se acomodar, apesar de exata a ciência que diz que um quilograma somente pode ser equilibrado com também um quilograma. Lançam sobre o agronegócio uma subjetividade sufocante! As regras não são claras, e nota-se que há mais incompreensão da parte do outro prato do que do nosso, apesar de estarmos nos equilibrando nos dois (lembrem que, como já dito, não somos suicidas).

Os discursos precisam objetivar mais os conceitos. Ao tratar da sustentabilidade, ou ao afirmar que “a política ambiental atual não é a ideal” (outro aparte: nós também achamos que não é a ideal), e sabendo-se que o reflexo desse ideal afetará diretamente o agronegócio, pergunta-se: o que pretendem que façamos?

Ouso, sem medo das críticas, fazer uma exposição da nossa situação: o agronegócio brasileiro está à beira da falência. Inúmeros são os fatores para que uma safra seja satisfatória: clima, controle de pragas, logística, escolha da cultivar mais apropriada, escolha do defensivo ideal, segurança jurídica (precisamos que um vizinho, um ex-funcionário ou qualquer outro não se transforme em índio ou quilombola da noite pro dia e invada nossas fazendas), comercialização, mercado internacional, etc. Enquanto fazemos isso precisamos estar no campo, trabalhando, no sol, na chuva, de dia ou de noite, já que a nossa jornada não é a mesma dos nossos funcionários, que são amparados por normas trabalhistas, as quais respeitamos. Se falharmos em qualquer desses tópicos, ou se algum imprevisto ocorrer, a safra é perdida. Se acertarmos em tudo, como geralmente ocorre graças à reconhecida eficiência do produtor rural brasileiro, ainda assim temos dificuldades. Um bom exemplo é este ano de 2014, em que tivemos uma supersafra de milho! Por falta de políticas públicas que favoreçam a comercialização, a agregação de valor interno ao produto, a logística, dentre outros, mesmo num ano bom sofremos a deficiência dos preços, que não venceram as despesas.

A renda do produtor rural desintegrou-se gradativamente nos últimos anos. No que pese os esforços por aumentar a produtividade (verticalização da eficiência em campo), os altos custos envolvidos no processo forçam o produtor rural a procurar novas regiões, novas áreas, pois para ter ganho que lhe permita sobreviver ainda é forçado a partir para o mais barato, que é aumentar a produção (horizontalidade).

A tecnologia exigida para se aumentar a produtividade é aqui muito cara, e a maior prova de que não estou sendo aventureiro na afirmação é a questão dos royalties no Brasil, que não se difere muito dos nossos carros: os piores e os mais caros do mundo. Como verticalizar? É necessário que políticas públicas sejam adotadas no sentido de que isso seja viável e, no mínimo, leve a um “empate” na conta do produtor. Esse é, sem dúvida, o maior desafio a ser enfrentado pelo novo Ministro da Agricultura, que deve estar aberto ao diálogo com as classes representativas do agro, como a Aprosoja, que é composta não só por produtores de soja, mas por pessoas já acostumadas a semear ideias e colher soluções.

É isso que queremos e é para isso que estamos caminhando, ainda que aos trancos de barrancos (os números comprovam a redução do aumento de área plantada com grãos nos últimos anos). Se for essa a essência do conceito da sustentabilidade, chegaremos lá antes mesmos dos exclusivamente ambientalistas. Fica, assim, a pergunta: se tudo no Brasil se apresenta contra o agronegócio, o novo Ministro trará isso ao contexto, já que até o momento no nosso prato temos muito menos que os tais 01 kg?


*Moysés Barjud é presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Piauí (Aprosoja-PI)
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